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Imprensa alemã é cética em relação ao acordo Mercosul-UE, defendido por Lula em Berlim

Será que o acordo econômico com o Mercosul virá mesmo? Essa pergunta, manchete de alguns dos maiores portais de notícia da Alemanha, resume a tônica da cobertura da imprensa do país europeu sobre a visita a Berlim do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, iniciada nesta segunda-feira (4).

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na sessão de encerramento do seminário empresarial Brasil-Alemanha, na Casa da Economia Alemã, em Berlim.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na sessão de encerramento do seminário empresarial Brasil-Alemanha, na Casa da Economia Alemã, em Berlim. Ricardo Stuckert/PR - Ricardo Stuckert/PR
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Márcio Damasceno, correspondente da RFI na Alemanha

O governo alemão tem interesse no fechamento do pacto, que está em suspenso desde o fim das negociações em 2019, após cerca de 20 anos de conversas entre o bloco sul-americano e a União Europeia. Caso vire realidade, será uma das maiores zonas de livre comércio do mundo, com 700 milhões de habitantes.

"Estamos fortemente empenhados em garantir que o acordo agora seja rapidamente finalizado", disse o chanceler alemão, Olaf Scholz, em coletiva após reunião com Lula.

Os empresários alemães também fazem pressão pelo rápido fechamento do contrato comercial, depositando grandes esperanças no encontro dos dois governos. "Precisamos do acordo ainda este ano. Caso contrário, existe o risco de se tornar uma ‘história sem fim’", afirmou um representante das indústrias alemãs citado pela mídia do país.

Não é para menos. Brasil e Alemanha mantêm relações densas em comércio e investimentos. O comércio bilateral chegou a US$ 19 bilhões no ano passado, tendo somado, entre janeiro e outubro de 2023, US$ 15,9 bilhões. Mais de mil empresas alemãs atuam no Brasil. Uma das principais preocupações do empresariado do país europeu é que eles percam ainda mais terreno não só para os EUA, mas sobretudo para investimentos chineses no Brasil, tendência crescente nos últimos anos.

Entretanto, parece que o acordo fica cada dia mais longe. As críticas vêm de ambos os lados. O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que o documento está "mal emendado" durante entrevista na COP28, se referindo a preocupações com o meio ambiente e o desmatamento florestal. Os governos de Argentina e Paraguai também expressaram ceticismo nos últimos dias, apontando para as barreiras europeias aos produtos sul-americanos.

Ceticismo europeu

A imprensa alemã também é cética quando ao sucesso do pacto UE-Mercosul e aponta para uma Europa em momento de decadente importância econômica em comparação com outros players globais e a fragilidade da atual posição de negociação dos europeus, em comparação com anos atrás. Críticos ressaltam que parceiros como EUA e China fazem menos perguntas do que os europeus quando se trata da política interna brasileira, além de apresentarem crescimento mais forte no longo prazo.

"Se a Europa não quiser se automarginalizar em termos de política comercial, terá de enfrentar a nova realidade geopolítica", alerta o influente jornal especializado em economia Handelsblatt. "O fato de os europeus não terem conseguido concluir precocemente o acordo que reúne mais de 700 milhões de pessoas e, em vez disso, sobrecarregá-lo com exigências adicionais foi um grande erro estratégico. Há muito que está claro que já não são as democracias ocidentais que determinam as regras da política comercial global. Os europeus, em particular, estão perdendo cada vez mais o seu poder e o peso da política comercial, não só devido à sua crônica falta de unidade, mas também devido às suas fracas perspectivas de crescimento", ressalta o jornal.

Jornal francês elogia tenacidade de Lula 

A coletiva do presidente Lula ao lado do alemão Ofaf Scholz, na segunda-feira (4), ganhou espaço no Les Echos, o principal jornal francês de economia, finanças e negócios. Segundo o veículo, o presidente brasileiro não desiste da ideia de convencer os adversários de um acordo entre a União Europeia e o Mercosul na próxima quinta-feira, durante a cúpula de líderes do bloco sul-americano prevista no Rio de Janeiro.

Na reportagem, o Les Echos explica por que França e Argentina são os principais opositores à conclusão do tratado e reproduz as melhores falas de Lula.

Embora o brasileiro possa estar com a voz rouca e um pouco cansada de homem idoso, "Lula continua sendo Lula", diz o veículo francês com admiração, destacando a palmadinha nas costas e outra no peito que o petista deu no dirigente alemão para agradecê-lo pela vontade compartilhada de fechar esse acordo bloqueado há mais de 23 anos. 

“Todo mundo tem seu vizinho. Vocês têm a Argentina, nós temos a França”, disse o ministro da Economia alemão, Robert Habeck, aos brasileiros.

O governo francês acredita que o texto negociado pela Comissão Europeia não vai longe o suficiente nas garantias ambientais e, em particular, na luta contra o desmatamento na Amazônia. Bruxelas já tinha chegado a um acordo, em 2019, que nunca foi ratificado devido às suas inadequações ecológicas.

“Fale com sua mulher”

Lula relatou a conversa que teve com Macron no fim de semana. "Não é apenas o Macron, foi o Sarkozy, Chirac, o nosso companheiro Hollande, nenhum deles se propôs a fazer acordo com o Mercosul porque eles têm problemas políticos e financeiros com os produtores franceses", acrescentou.

Les Echos destaca que Lula não desistiu e disse a Macron: “Quando você estiver no avião, abra o coração, converse com sua mulher, e então você assinará o acordo com o Mercosul”, fazendo o sisudo Olaf Scholz abrir um largo sorriso.

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