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Na Grécia, fake news acusam migrantes pelos incêndios no país

Boatos online responsabilizam migrantes pelos focos de alguns incêndios, gerando revolta em parte da população

Incêndio na cidade de Alexandroupolis, na Grécia, em 21 de agosto de 2023
Incêndio na cidade de Alexandroupolis, na Grécia, em 21 de agosto de 2023 AP - Achilleas Chiras
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A desconfiança de alguns gregos em relação aos migrantes cresceu após um grupo de 13 homens sírios e paquistaneses ter sido acusado de tentar iniciar um incêndio nos arredores da cidade de Alexandrópolis, perto da Turquia.

Os rumores tiveram início na terça-feira (22), quando um morador publicou um vídeo ao vivo no Facebook, mostrando os migrantes em um trailer. Ele afirmou que os flagrou tentando "queimar" o vilarejo. "Queime-os", comentou um usuário na publicação.

O homem foi detido com outros dois supostos cúmplices pelas autoridades, que alertaram que não tolerariam "justiceiros". Eles foram acusados de incitação à violência racista.

Os migrantes foram indiciados por entrada ilegal no país e tentativa de incêndio criminoso. Mas, uma fonte do governo disse ao jornal local Kathimerini que as evidências indicavam que eles estavam apenas tentando acender uma fogueira.

As fake news foram espalhadas pela própria imprensa local. O portal de notícias Hebros, da mesma região, disse que 20 migrantes foram detidos nos arredores de Alexandrópolis, após um tiroteio com a polícia. As autoridades negaram.

Na quarta-feira, a televisão nacional, Open, corrigiu uma informação após noticiar que dois migrantes foram apanhados ateando fogo na região vizinha de Rhodope.

Desde sábado passado, o norte da Grécia combate um grande incêndio causado por um raio, segundo a prefeitura de Alexandrópolis, que levou à retirada de cerca de 14 mil pessoas, incluindo pacientes de um hospital.

A área está localizada a poucos quilômetros da fronteira com a Turquia, onde são comuns as travessias de migrantes, ajudados por traficantes de seres humanos.

Bombeiros tentam apagar incêndio perto de Atenas, em julho
Bombeiros tentam apagar incêndio perto de Atenas, em julho REUTERS - STELIOS MISINAS

Rejeição

Depois do primeiro incêndio em Alexandrópolis, no sábado, fotos e vídeos de supostos dispositivos para iniciar incêndios, criados por migrantes que cruzavam a fronteira, proliferaram rapidamente nas redes sociais.

A rejeição dos migrantes é forte nas zonas fronteiriças da Grécia. Os habitantes locais acusam-nos de roubos e asseguram que a condução imprudente dos traficantes de seres humanos é um grave perigo.

"Estou absolutamente convencido de que os incêndios foram causados por migrantes", disse Christos Paschalakis, morador na região de Hebros. "Eles queimam a gente, nos roubam, nos matam em acidentes de trânsito", comenta, indignado.

"Não tenho dúvida de que o incêndio foi provocado por migrantes", concorda Vangelis Rallis, um aposentado de 70 anos de Dadia, um localidade perto de um parque nacional que pegou fogo no ano passado.

"Queimaram (o parque) no ano passado e este ano voltaram para terminar o trabalho. Talvez tenham sido pagos para fazer isso. Querem nos destruir", insistiu.

Migrantes sobrevivem a naufrágio perto da Grécia, em junho de 2023
Migrantes sobrevivem a naufrágio perto da Grécia, em junho de 2023 REUTERS - STELIOS MISINAS

Vítimas migrantes

A questão gerou uma polêmica política esta semana, depois que o líder do partido nacionalista Solução Grega, Kyriakos Velopoulos, juntou-se aos ataques aos migrantes e elogiou os homens presos por detê-los ilegalmente.

 Um parlamentar do mesmo partido, Paris Papadakis, pediu à população que "tome medidas", porque os migrantes estavam "obstruindo" os esforços de extinção dos focos. "Estamos em guerra", declarou.

Nas eleições nacionais de junho, a extrema direita grega teve seus melhores resultados no norte do país. Na região de Hebros, o Solução Grega obteve 9% dos votos. Entretanto, das 20 pessoas mortas esta semana pelos incêndios, 19 delas parecem terem sido migrantes.

Incêndios continuam

A luta contra os incêndios continua na Grécia, nesta sexta-feira (25), pelo sétimo dia consecutivo, com uma situação difícil no norte do país e um balanço que chega a 21 mortos.

O incêndio mais intenso, que se espalha desde quinta-feira ao longo de uma frente de 15 quilômetros, afeta a região norte de Evros, perto da cidade portuária grega de Alexandrópolis e da fronteira com a Turquia.

Os bombeiros gregos informaram, nesta sexta, que encontraram o corpo de um homem nesta zona, a mesma onde foi encontrada, na segunda-feira, a primeira vítima dos incêndios da semana.

Os corpos de outras 19 pessoas, supostamente migrantes, incluindo duas crianças, também apareceram nesta mesma área.

A região de Evros é um ponto de entrada regular de migrantes procedentes da Turquia e, de acordo com os guardas de fronteira, pode haver mais demandantes de asilo presos no incêndio deflagrado no sábado.

Em 2023, os incêndios queimaram mais de 120 mil hectares no país, segundo estimativas do Observatório Nacional.

(Com informações da AFP)

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