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Entenda quem está por trás dos grupos ideologicamente diferentes que reivindicam ataques à Rússia

Desde segunda-feira (22) a Rússia vem sofrendo ataques em seu território. Dois grupos armados, que afirmam ser formados por cidadãos russos, reivindicam os ataques: o Corpo de Voluntários Russos (RDK) e a Legião “Liberdade da Rússia”, que agem juntos, apesar de aparentes diferenças ideológicas.

Membros do Corpo de Voluntários da Rússia ao lado de um veículo blindado nesta foto sem data obtida pela Reuters em 23 de maio de 2023.
Membros do Corpo de Voluntários da Rússia ao lado de um veículo blindado nesta foto sem data obtida pela Reuters em 23 de maio de 2023. via REUTERS - RUSSIAN VOLUNTEER CORPS
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O Corpo de Voluntários Russos (RDK) fez sua primeira aparição em março deste ano, reivindicando uma primeira incursão na Rússia, na região fronteiriça de Briansk.

O grupo, formado por cidadãos russos que vivem há anos na Ucrânia, é dirigido por Denis Nikitine (cujo verdadeiro sobrenome é Kapustine), mais conhecido como “White Rex” personalidade conhecida no meio hooligan e de extrema direita na Rússia. Ele organizava na Ucrânia combates de MMA e era proprietário de uma marca de roupas cuja logomarca é um sol preto, símbolo usado por grupos neonazistas. A Rússia o qualifica como “terrorista”.

Já a Legião “Liberdade da Rússia” é mais difícil de categorizar. Criado em março de 2022, o grupo, cujo emblema é um punho fechado, também é considerado como terrorista pela Rússia. Mas seu chefe político é o ex-deputado russo Ilia Ponomariov, o único que votou contra a anexação da Crimeia por Moscou em 2014 e que, pouco depois, se instalou na Ucrânia.

A cobertura da mídia ucraniana da incursão de Belgorod deu destaque a um representante da Legião que responde pelo pseudônimo de “César”. De acordo com a AFP, que o entrevistou em dezembro de 2022, ele garantiu ser um fisioterapeuta de São Petersburgo, diz lutar “contra o regime de Putin” e se definiu como um patriota russo e um “nacionalista de direita”.

“Os combatentes da Legião são russos que se inscrevem em uma forma de republicanismo democrata, similar à oposição clássica”, explica o pesquisador e especialista de movimentos de extrema direita e nacionalistas na Ucrânia, Adrien Nojon, ao site da Franceinfo. “Eles são motivados pelo ideal de restaurar o Estado de direito. Essa unidade é bem mais consensual, de um ponto de vista ideológico, que o Corpo de Voluntários Russos”, afirma.

A mídia investigativa russa Agentstvo, no entanto, definiu César como um membro ativo de longa data na obscura extrema direita russa, que inclui movimentos imperialistas e nacionalistas.

Ideologias aparentemente opostas

Os dois grupos, que dizem contar com centenas de membros, afirmam querer a queda do presidente Putin, mas são ideologicamente diferentes.

O RDK, que tem ideologia radical e extremista, diz realizar ações de reconhecimento e de sabotagem em território russo. Ele integra elementos que combateram no batalhão Azov

Um de seus combatentes, que usa o pseudônimo de Fortuna, indicou à AFP, em março, que o Corpo coordenava sua ação com o Exército ucraniano quando estava em território ucraniano, mas que realizava por conta própria as operações na Rússia.

Em entrevista à mídia russa independente Sota, em abril, outro representante do RDK, Vladimir “Cardinal”, disse que queria a criação de um “Estado nacional russo no território de regiões maioritariamente povoadas por pessoas de etnia russa”.

Já a Legião se define como um grupo de “guerrilheiros” cujo objetivo é construir “uma nova Rússia livre”. O site do grupo indica que ele organiza ataques contra a infraestrutura militar e ferroviária russa. “César” indicou à televisão ucraniana, após o ataque a Belgorod, que as operações realizadas pelas duas organizações “iam aumentar com o tempo”.

De acordo com o serviço de inteligência ucraniano, a Legião Liberdade da Rússia teria sido formada por desertores de uma companhia russa. “Mas é impossível retraçar a origem dos combatentes ou de saber sua unidade russa (de origem)”, diz Nonjon. “Trata-se sobretudo de um símbolo para mostrar que os russos entenderam quem era o verdadeiro inimigo”, afirma.  

O processo de recrutamento e a organização do grupo são desconhecidos. A Legião afirma ter combatido nas proximidades de Bakhmout, sob as ordens de oficiais ucranianos.  

Financiamento

Nem um dos dois grupos informa como e por quem são financiados. A Ucrânia não se pronunciou sobre suas ligações com eles, mas os considera como problema “interno” da Rússia.

Mas Ponomariov declarou à rádio britânica LBC, esta semana, que os ucranianos “nos ajudam a formar nossas forças e nos fornecem equipamentos necessários”. A Legião indicou no Twitter dispor de morteiros franceses RT61.

No ataque a Belgorod, as autoridades russas informaram ter enfrentado tiros de morteiros, de artilharia e ataque de drones.

O Corpo divulgou vídeos a bordo de um caminhão blindado que transportava tropas, e disse ter tomado do serviço de segurança russo, o FSB, que comanda também a guarda de fronteira.

Ataques para desviar a atenção

O Kremlin insistiu na segunda-feira e na terça-feira que enfrenta combatentes ucranianos e não insurgentes russos e acusou Kiev de ter planificado a operação para “desviar a atenção” de Bakhmout, epicentro de combates no leste da Ucrânia que a Rússia afirma ter conquistado desde sábado.    

Após o ataque de Belgorod, o chefe do grupo paramilitar russo Wagner, Evgueni Prigojine, que não poupa críticas ao Exército de Moscou, denunciou o fracasso do Estado russo.

De acordo com declarações do ministro da Defesa russo Serguei Choigou, nesta quarta-feira (24), Moscou revidará de maneira “extremamente dura” a futuras incursões armadas em seu território.

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