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Espanha encara fantasmas da ditadura franquista e exuma restos mortais de fundador da Falange

Os restos mortais do fundador da Falange Espanhola, partido de inspiração fascista que foi um dos pilares do franquismo, foram exumados nesta segunda-feira (24) do monumental mausoléu onde esteve sepultado o ditador Francisco Franco. A ação é "mais um passo" do trabalho de memória sobre o período da Guerra Civil e da ditadura franquista.

O antigo mausoléu do ditador Francisco Franco, conhecido como Abadia de Santa Cruz do Vale dos Caídos.
O antigo mausoléu do ditador Francisco Franco, conhecido como Abadia de Santa Cruz do Vale dos Caídos. Reuters
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Durante a manhã, a polícia isolou os acessos ao mausoléu do Vale dos Caídos, a cerca de 50 quilômetros de Madri, para a retirada dos restos mortais de Primo de Rivera (1903-1936). Alguns ativistas de extrema direita se reuniram no local em protesto.

O caixão do fundador da Falange Espanhola será transferido para o cemitério de San Isidro, em Madri, onde estão enterrados vários integrantes de sua família.

Esse é mais um esforço do governo socialista de Pedro Sánchez para retirar homenagens às figuras de extrema direita ligadas à Guerra Civil Espanhola e à ditadura franquista. 

"É um passo adiante no que estamos fazendo" com este lugar, "onde não deve ser possível prestar homenagem a uma pessoa que evoca a ditadura", afirmou o Ministro da Presidência, Felix Bolaños, na última quinta-feira.

Memória democrática

Em 2019, após anos de batalha judicial com a família, os restos mortais do ditador Franco já haviam sido retirados do mausoléu do Vale dos Caídos. A objetivo era que o Vale dos Caídos deixasse de ser um "local de apologia" do franquismo.

De inspiração fascista, o partido Falange foi um dos pilares do franquismo, ao lado da Igreja Católica e do exército. Franco e Primo de Rivera foram enterrados um de cada lado do altar da basílica. 

Filho do ditador Miguel Primo de Rivera, que governou a Espanha de 1923 a 1930, o fundador da Falange foi executado pelos republicanos em novembro de 1936, no início da Guerra Civil espanhola (1936-1939), que começou após uma revolta de militares contra o governo republicano eleito.

A exumação de Primo de Rivera agora é consequência da lei conhecida como Memória Democrática, em vigor desde outubro de 2022. A nova legislação pretende transformar o Vale dos Caídos em um monumento de homenagem às vítimas da Guerra Civil e da ditadura.

Desde que chegou ao poder, Sánchez estabeleceu como prioridade a indenização das vítimas da Guerra Civil e da ditadura de Franco (1939-1975). Pedro Sánchez também transformou a busca pelos desaparecidos republicanos da Guerra Civil, muitos em valas comuns, em uma "responsabilidade de Estado".

Monumento foi construído por presos políticos

O Vale dos Caídos, cujo nome oficial é Valle de Cuelgamuros, foi construído por milhares de presos políticos do franquismo durante quase 20 anos.

O monumental mausoléu foi encomendado por Franco em 1940 para celebrar sua "gloriosa cruzada" católica contra os republicanos "sem Deus". Com uma cruz de 150 metros de altura, a basílica pode ser vista a dezenas de quilômetros de distância.

Durante sua ditadura, Franco ordenou a transferência de corpos de mais de 30.000 vítimas da Guerra Civil, franquistas e republicanos para o mausoléu, sem informar as famílias.

Os restos mortais das vítimas republicanas, reivindicados por suas famílias, também devem ser exumados, mas o processo foi adiado devido a uma batalha judicial.

A memória sobre a Guerra Civil e a ditadura ainda divide a Espanha, onde as feridas do passado nunca foram cicatrizadas por completo.

(Com AFP)

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