Acessar o conteúdo principal

Ativistas humanitários ou traficantes de migrantes? Grécia retoma julgamento com forte teor político

O caos e a indignação tomaram conta, nesta terça-feira (10), da retomada do julgamento na ilha grega de Lesbos de 24 trabalhadores humanitários acusados ​​de tráfico humano e espionagem, incluindo a refugiada síria Sarah Mardini, que, com sua irmã nadadora olímpica, inspirou um filme da Netflix.

Uma mulher síria e uma criança, migrantes, chegam à Grécia, na ilha de Lesbos, a bordo de um barco turco, em 1º de outubro de 2015.
Uma mulher síria e uma criança, migrantes, chegam à Grécia, na ilha de Lesbos, a bordo de um barco turco, em 1º de outubro de 2015. AP - Muhammed Muheisen
Publicidade

O julgamento, apresentado em um relatório do Parlamento Europeu como "o maior caso de criminalização da solidariedade na Europa", foi adiado para sexta-feira (13) após uma primeira interrupção durante a manhã devido à ausência de um dos interrogados e do seu advogado.

Iniciadas em novembro de 2021, as audiências no tribunal de Mitilene, capital de Lesbos, já haviam sido adiadas desde o primeiro dia devido a disputas processuais.

O presidente do tribunal esclareceu nesta terça-feira que apenas serão analisadas as acusações de "espionagem" contra estes trabalhadores humanitários, enquanto os processos pelos crimes de lavagem de dinheiro, contrabando de migrantes e fraude serão examinados posteriormente, quando a instrução estiver concluída.

Os réus, que trabalhavam para uma ONG que ajudava migrantes que desembarcavam em Lesbos vindos da vizinha costa turca, podem pegar "até 25 anos de prisão" por todas as acusações, estima a Anistia Internacional.

“Estado de Direito”

Esta audiência caótica despertou grande insatisfação entre os réus e ONGs de direitos humanos, já que o processo foi iniciado pelos tribunais gregos há mais de quatro anos.

Os advogados dos réus exigiram nesta terça-feira que o Tribunal desista das acusações nesta primeira parte devido a falhas processuais, como a falta de tradução de documentos judiciais ou o não envio de documentos a determinados interrogados para que compareçam ao tribunal.

"Os advogados [de defesa] apresentaram argumentos irrefutáveis ​​que demonstram porque é inaceitável a forma como este julgamento está decorrendo", assegurou o alemão de origem irlandesa Sean Binder, um dos principais interrogados, que reclamou a aplicação do "Estado de Direito".

"Espero que ela [a presidente do Tribunal] retire estas acusações infundadas, como também pediu a Anistia Internacional", acrescentou a deputada europeia irlandesa Grace O'Sullivan, presente em Lesbos.

"Todas as acusações contra nós, seja por espionagem, seja por lavagem de dinheiro, não se sustentam. Este julgamento tem um objetivo político", acrescentou outro acusado, o holandês Pieter Wittenberg.

Acusados nem estavam na Grécia

Para a Human Rights Watch (HWR), a acusação foi iniciada com base em relatórios policiais contendo erros factuais "incluindo alegações de que alguns dos réus participaram de operações de resgate em datas em que nem mesmo estavam na Grécia".

Sarah Mardini, refugiada síria em Berlim desde 2015, não esteve presente na audiência. Em agosto de 2018, quando foi presa, a jovem trabalhava como voluntária para a ONG Erci (Emergency Response Centre International) nesta ilha grega que viu centenas de milhares de refugiados, especialmente sírios, se aglomerarem em condições dramáticas em 2015 e 2016.

A história de Sarah Mardini e sua irmã, a nadadora olímpica Yusra, despertou imenso interesse, a ponto de elas virarem tema do filme "Les Nageuses" (As Nadadoras), que traça sua perigosa travessia pela Europa em 2015, transmitido na plataforma Netflix.

Sarah Mardini passou três meses presa na Grécia antes de poder retornar a Berlim. Ela não pôde comparecer à abertura do julgamento devido à proibição de entrar na Grécia. Em entrevista ao diário alemão Tagesspiegel no final de 2021, a jovem havia confessado sua profunda tristeza devido aos problemas jurídicos.

"Quero ter minha vida de volta. Nos últimos três anos, não tive uma vida (...) Eu existo através do meu corpo. Mas através de nada mais no momento", disse a síria que abandonou seu curso em uma universidade de Berlim alegando sofrer de problemas psicológicos.

Diante da proliferação de processos judiciais que enfrentam, quase todas as ONGs que resgatam migrantes no mar cessaram suas operações na Grécia, um país acusado de realizar retrocessos ilegais de migrantes em suas fronteiras marítimas e terrestres em direção à Turquia.

(Com informações da AFP)

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.