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Itália: com o fim da campanha eleitoral, país pode eleger no domingo um governo pós-fascista

As vésperas das eleições legislativas do próximo domingo (25), os líderes da coalizão de direita na Itália, favorita de acordo com as sondagens, organizaram um grande comício em Roma, nesta quinta-feira (22), para encerrar a campanha que pode levar ao poder uma ex-admiradora de Benito Mussolini. Giorgia Meloni se encaminha para ser a primeira chefe de Governo pós-fascista a comandar um país fundador da União Europeia (UE).

Cartaz de campanha eleitoral de Giorgia Meloni, líder do partido de extrema direita Irmãos da Itália, é exibido em um ônibus em Roma, Itália, em 20 de setembro de 2022.
Cartaz de campanha eleitoral de Giorgia Meloni, líder do partido de extrema direita Irmãos da Itália, é exibido em um ônibus em Roma, Itália, em 20 de setembro de 2022. REUTERS - YARA NARDI
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Italiana, mãe e cristã. Quem é Giorgia Meloni, a líder do partido conservador Fratelli d’ Italia, Irmãos da Itália em português, criado por ela, e que aos 45 anos pode se tornar a primeira mulher a governar o país? Ela se apresenta em aliança com o partido conservador Força Itália (FI), do magnata veterano Silvio Berlusconi, e a Liga anti-imigração do ex-vice-primeiro-ministro eurocético Matteo Salvini, conhecido por sua política linha dura contra os navios humanitários que resgatam migrantes no Mediterrâneo.

Em um discurso de mais de leia hora, ela disse estar pronta: "Estamos preparados, verão no domingo", declarou, prometendo defender o "interesse nacional" da Itália diante da Europa. "Queremos uma Itália forte, séria e respeitada no cenário internacional", disse diante de seus simpatizantes.

Seu partido, considerado de extrema-direita, passou de 4% dos votos, em 2018, a 25% das intenções de voto para as eleições desde domingo. Com uma campanha em torno da segurança pública, críticas à imigração descontrolada e à islamização da Itália. Seu lema: Deus, país e família, num Estado laico.

Ela não diz ser contra o aborto, mas quer dar outras opções às mulheres. Profundamente conservadora, Giorgia Meloni defende a plena aplicação da lei sobre o aborto, enfatizando o direito de não abortar. Nas regiões onde o seu partido governa, no entanto, o acesso ao aborto se tornou mais complicado.

Seus adversários políticos a acusam de querer limitar direitos, por exemplo, da comunidade LGTB+.

A candidata com chances de virar primeira-ministra tampouco defende uma saída do Euro e se posicionou contra a invasão russa da Ucrânia, ainda que esses pontos não sejam unanimidade entre outras lideranças da coalizão da qual ela faz parte e que pode conquistar 46% dos votos dos italianos.

Ainda que uma saída da Europa não esteja nos planos da potencial primeira-ministra, Giorgia Meloni imagina uma Europa reformada. “Queremos menos Europa, mas uma Europa menor”, defende. Próxima do conservador Viktor Orban, da Hungria, ela quer dar mais peso, por exemplo, aos países do leste e do sul.

Meloni também tem boas relações com o partido espanhol de extrema-direita Vox e fala em reequilibrar as forças em relação ao eixo franco-alemão, além, claro, de defender os interesses da Itália.

Esquerda fragmentada

A aliança de centro-esquerda, que inclui o Partido Democrático (PD) e pequenos partidos de esquerda ecologistas e pró-europeus, se prepara para enfrentar o avanço esmagador da direita, a julgar pelos números das pesquisas eleitorais.

Na sondagem do dia 9 de setembro, o Partido Democrático (PD) do candidato Enrico Letta obteve 20,5% das intenções de voto, perdendo 2,5% em relação ao final do mês anterior. Em terceiro lugar, aparece o Movimento 5 Estrelas (M5S) que recentemente se separou de uma aliança com o PD, e obtinha 14,5% da preferência do eleitorado.

Todas as sondagens preveem a vitória de Girogia Meloni nas eleições legislativas de domingo. Para observadores internacionais, o "Fratelli d'Italia" pode ser considerado um partido pós-fascista, etiqueta que a candidata rejeita, ao condenar publicamente agressões à democracia.

A aliada do ex-primeiro-ministro Sílvio Berlusconi é favorita para substituir Mario Draghi, que deixou o cargo após perder a maioria parlamentar que sustentava o seu governo. Ela concorre contra uma esquerda que se apresenta fragmentada na Itália. Essa perspectiva preocupa o campo pró-europeu, na terceira potência econômica da zona do euro.

O ex-primeiro-ministro italiano Enrico Letta, candidato do Partido Democrático (PD) nas eleições legislativas de 25 de setembro.
O ex-primeiro-ministro italiano Enrico Letta, candidato do Partido Democrático (PD) nas eleições legislativas de 25 de setembro. AFP - ERIC PIERMONT

Juventude na política

Nascida em Roma, Giorgia Meloni começou cedo na política. Ingressou aos 15 anos na "Fronte della Gioventù", um grupo juvenil do Movimento Social Italiano, formação neofascista fundada em 1946, após a Segunda Guerra Mundial e a dissolução do Partido Nacional Fascista, de Benito Mussolini, a quem ela já elogiou.

Aos 27 anos, Meloni assumiu a direção do Movimento e, dois anos mais tarde, foi eleita deputada. Aos 31 anos, se tornou a ministra mais jovem da história da República italiana, durante o governo Berlusconi, juntando-se ao chamado eixo de centro-direita no país.

Aos 35 anos, Meloni criou o seu próprio partido "Fratelli d'Italia", que então se aproximou das ideias do antigo Movimento Social Italiano.

O medo de um retorno ao fascismo, como existiu na Itália, pode parecer exagerado. Porém, quando a candidata de extrema-direita fala em substituir a democracia parlamentar por uma “democracia popular”, muitos italianos se preocupam. Giorgia Meloni prometeu iniciar "uma reforma das instituições italianas" em direção a um regime presidencialista que garanta a "estabilidade" em um país conhecido por sua instabilidade governamental.

Mesmo que com maioria legislativa ela possa alterar artigos da Constituição, se for eleita, Giorgia Meloni não terá tanto espaço de manobra para propor mudanças, uma vez que o Plano de Recuperação Europeu - do qual a Itália é o primeiro beneficiário, com quase € 200 bilhões – já foi definido para os próximos três anos.

Para muitos analistas, a taxa de participação deve registrar um índice historicamente baixo, abaixo de 70%.

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