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Putin acusa UE de bloquear doação de fertilizantes a países pobres; produto pode faltar na França

O presidente Vladimir Putin acusou a União Europeia (EU), nesta terça-feira (20), de bloquear a doação de 300.000 toneladas de fertilizantes russos para os países que mais precisam. Moscou se queixa dos obstáculos às exportações por parte dos países ocidentais. Enquanto isso na França, a maior fabricante de fertilizantes admite que “interrupções do fornecimento não estão descartadas”.

Os preços dos fertilizantes, que dispararam mesmo antes da guerra na Ucrânia, devem permanecer altos nos próximos meses. Foto ilustrativa.
Os preços dos fertilizantes, que dispararam mesmo antes da guerra na Ucrânia, devem permanecer altos nos próximos meses. Foto ilustrativa. © CC0 Pixabay/Samuel Faber
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"O cúmulo do cinismo é que mesmo nossa oferta de transferir 300.000 toneladas de fertilizantes russos, bloqueados em portos europeus devido a sanções, gratuitamente aos países que precisam, continua sem resposta", reclamou o presidente russo em uma cerimônia com a presença de cerca de vinte embaixadores. "Está claro: eles não querem deixar nossas empresas ganharem dinheiro", completou. "Mas queremos dar (essas toneladas de fertilizantes) gratuitamente aos países necessitados", disse o presidente russo.

Sanções ocidentais, que afetam os setores financeiro e logístico, dificultam para a Rússia, uma potência mundial de grãos, vender a sua produção agrícola e seus fertilizantes. Em 2021, o país era o maior exportador de fertilizantes nitrogenados e o segundo maior fornecedor de fertilizantes de potássio e fósforo, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

Vladimir Putin lamentou o que chamou de "sanções ilegítimas" tomadas por certos países ocidentais "para fortalecer sua posição" que, segundo ele, têm "consequências negativas sobre si mesmos", mas também "sobre Estados totalmente inocentes e sofrem com tal política, em primeiro lugar os países em desenvolvimento e os mais pobres", afirmou. De acordo com Putin, são os países da África, do Sul da Ásia e da América Latina que “foram afetados pelas restrições ocidentais ao fornecimento de energia, alimentos e fertilizantes russos aos mercados mundiais”.

Moscou tem contestado dois acordos concluídos em julho, em Istambul, que permitem a exportação de trigo e milho da Ucrânia, apesar da ofensiva russa, mas também, em teoria, as exportações de Moscou, afetadas pelas sanções ocidentais. O Kremlin afirma, no entanto, que a maioria dos produtos alimentícios ucranianos vai para países europeus, o que Kiev nega.

As críticas russas aos acordos de Istambul levantam temores de que as exportações ucranianas voltem a ser prejudicadas. O conflito com Kiev aumenta preocupações com a segurança alimentar global, em meio a aumentos generalizados de preços nos mercados internacionais.

Em uma conversa com o presidente brasileiro Jair Bolsonaro em junho, o presidente russo, Vladimir Putin, garantiu que a Rússia continuaria fornecendo fertilizantes para o Brasil. De acordo com o que disse o Kremlin à época, Moscou pretendia manter todos os compromissos e contratos nessa área, apesar das tensões mundiais ligadas à guerra no território ucraniano.

Risco de ruptura de abastecimento na França

Na França, a empresa líder europeia em fertilizantes nitrogenados afirmou que interrupções no fornecimento de fertilizantes “não podem ser completamente descartadas", devido a um mercado global "extremamente tenso". O anúncio foi feito pelo diretor francês da multinacional norueguesa Yara, no momento em que o grupo decidiu interromper parte de sua produção na Bélgica.

"Não está completamente excluído que haja quebra da cadeia de abastecimento", alertou Nicolas Broutin, chefe da subsidiária francesa, durante uma conferência de imprensa em Paris. Ainda que as fábricas francesas do grupo estejam "funcionando a plena capacidade" graças à importação de amônia, matéria-prima para a fabricação de fertilizantes, cerca de 60% dos fertilizantes usados ​​na França vêm do mercado mundial, explicou o executivo. Além disso, o setor está enfrentando "dificuldades em encontrar caminhões" para transportar a produção até os agricultores, completou.

Aumento do preço do gás interfere

A Yara, assim como outras fabricantes de fertilizantes nitrogenados, cortou a produção diante da disparada dos preços do gás natural, a matéria-prima da amônia, após a invasão da Ucrânia pela Rússia e a diminuição das entregas de gás russo na Europa.

O preço do gás representa quase 90% dos custos de produção dos fertilizantes nitrogenados. A um determinado nível de preço, simplesmente não se torna mais lucrativo produzir amônia, obtida pela combinação de nitrogênio do ar e hidrogênio do gás natural.

A partir de agora, "65% de nossas capacidades estão paradas" na Europa "por tempo indeterminado", revelou Broutin. A fábrica em Tertre, na Bélgica, e que representa entre 20% e 25% da oferta francesa, vai parar completamente a produção "nos próximos dias", detalhou o diretor da Yara.

Vários outros produtores europeus, como a polonesa Azoty e a lituana Achema, também já reduziram a produção.

Os preços dos fertilizantes, que dispararam mesmo antes da guerra na Ucrânia, devem permanecer estáveis, mas altos nos próximos meses, acredita Broutin.

(Com informações da AFP)

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