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Suécia: possível guinada conservadora não é garantia de fim de crises políticas, diz especialista

A Suécia deve aguardar até quarta-feira (14) para conhecer o vencedor das eleições legislativas realizadas no domingo (11). Resultados acirrados e não definitivos mostram que o bloco formado pela direita e a extrema direita tem uma leve vantagem sobre a esquerda. No entanto, para especialista entrevistado pela RFI, mesmo em caso de vitória, não há garantias de que o bloco conservador resolva a instabilidade política da qual o país é palco. 

O líder do bloco de direita, Ulf Kristersson, após o anúncio dos primeiros resultados das eleições legislativas realizadas no domingo (11) na Suécia.
O líder do bloco de direita, Ulf Kristersson, após o anúncio dos primeiros resultados das eleições legislativas realizadas no domingo (11) na Suécia. AFP - FREDRIK SANDBERG
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O país nórdico, que nos últimos anos enfrentou várias crises políticas, observa novamente um período de incertezas. No domingo, as autoridades eleitorais suecas informaram que o resultado final da votação será divulgado apenas na quarta-feira porque os números são muito próximos.

De acordo com dados parciais, após a apuração de quase 95% das urnas, o bloco do Partido Moderado (conservador), liderado por Ulf Kristersson, conquistaria a maioria absoluta de 175 cadeiras, contra 174 do bloco de esquerda, encabeçado pela atual primeira-ministra social-democrata, Magdalena Andersson. Se o resultado for confirmado, a esquerda deixaria o poder após oito anos à frente do país. 

Grande vencedor?

Na noite de domingo, as mídias europeias apontavam que, mesmo antes do anúncio dos resultados finais, o grande vencedor da votação era o partido nacionalista e anti-imigração Democratas da Suécia (SD), de origem neonazista, liderado por Jimmie Akesson. Com um resultado provisório de 20,6% dos votos, o SD estabeleceu um novo recorde e se tornou não apenas o maior partido conservador, mas também o segundo maior partido do país. 

No total, o bloco de direita (formado pelo SD, Partido Moderado, democrata-cristãos e liberais) obteve até o momento 49,7% dos votos. O bloco de esquerda (social-democratas, Partido da Esquerda, Verdes e Partido de Centro) conquistou com 48,8%.

Governada pela esquerda desde 2014, a Suécia poderia estar protagonizando uma virada à direita, mas isso não garante o sucesso de um futuro governo. É o que afirma o cientista político especialista em política escandinava Yohann Aucante, da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (Ehess), em Paris. 

"Essa virada à direita é questionável já que vimos que todos os partidos de direita recuaram, menos os nacionalistas. O fato de terem concentrado a campanha em questões de segurança, de luta contra a criminalidade e a imigração foi favorável aos Democratas da Suécia. Eles obtiveram um resultado histórico. Os outros partidos de direita que esperavam ganhar votos ontem, finalmente perderam", salienta. 

Coalizão inédita

Essa foi a primeira vez que a direita tradicional sueca aceitou formar um bloco com a extrema direita. Considerado um pária da política do país durante muito tempo, especialistas apontam que o SD agora está em posição de força. 

Os nacionalistas entraram no Parlamento pela primeira vez em 2010, com apenas 5,7% dos votos. Desde então não pararam de crescer, superando 40% de votos em alguns municípios no domingo, em particular no sul do país, atraído pelo discurso anti-imigração.

Antes mesmo da divulgação dos resultados oficiais, as primeiras negociações já começaram no campo da direita. Jimmie Åkesson visitou a sede do Partido Moderado, em Estocolmo, nesta segunda-feira.

"Nossa ambição é estar no governo", declarou o líder do SD. No entanto, é pouco provável que o partido se conforme com um papel coadjuvante no Parlamento. Para Aucante, isso complicará as negociações em prol de uma futura administração. 

"Logicamente, os nacionalistas vão reivindicar ministérios. Ou seja, vai ser difícil ter um governo suficientemente estável e legítimo para realizar grandes reformas, como o relançamento do programa nuclear, que talvez exigirá a realização de um referendo". 

Além disso, as diferenças dos partidos tradicionais se tornarão mais visíveis quando tiverem que começar a trabalhar juntos, em caso de vitória do bloco da direita.

"Um governo de direita terá que enfrentar tensões internas muito fortes", opina Ulf Bjereld, professor de Ciências Políticas da Universidade de Gotemburgo. "O SD tem suas raízes no neonazismo. Do outro lado, os liberais representam o completo oposto", afirma. 

(Com informações da RFI e da AFP)

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