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Charles III, o príncipe ecologista, pode ser rei e continuar a defender o meio ambiente?

Charles III defende a causa ambiental com fervor desde a juventude e é conhecido por suas posições em defesa do meio ambiente. Resta saber se o novo soberano terá liberdade para expressar sua posição agora que é oficialmente rei.

Charles III sentado ao lado da coroa da rainha durante o State Opening of Parliament, no Palácio de Westminster, em Londres, em 10 de maio de 2022.
Charles III sentado ao lado da coroa da rainha durante o State Opening of Parliament, no Palácio de Westminster, em Londres, em 10 de maio de 2022. AP - Alastair Grant
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Em 1970, quando a ecologia era um assunto restrito a ativistas, o então príncipe de Gales, de 22 anos, pronunciou seu primeiro discurso sobre o meio ambiente, alertando sobre os perigos da proliferação de plásticos, durante uma visita oficial à ilha de Palau. Era apenas o começo de várias manifestações públicas e ações de Charles III pela defesa do meio ambiente. Ele assumiu o trono neste sábado (10) após a morte da rainha Elizabeth II.

Em 1985, ele decidiu converter 300 hectares de seu domínio de Highgrove, situado no oeste da Inglaterra, em uma fazenda orgânica. Em 1990, o príncipe lançou a etiqueta Duchy Originals para promover a agricultura sem pesticidas.

O entusiasmo do príncipe de Gales por jardinagem e botânica, nessa época, era considerado como mais uma excentricidade de um membro da realeza e até rendeu o apelido de “príncipe das batatas”.

Mas as ações do monarca não se limitaram à área da agricultura. Em 1986, ele criou a Prince’s Foundation, uma organização caritativa e educativa que ensina e coloca em prática os princípios do urbanismo durável.

Em 2019, ele lançou a iniciativa Sustainable Markets, um plano de recuperação que coloca a natureza, as pessoas e o planeta no centro da criação de valor global e em 2021 a Re:TV um canal que divulga filmes e documentários sobre moda ecológica e durável.

Sua visita ao Brasil em 1991 também foi motivada pela defesa do meio ambiente. Ele foi ao Rio, acompanhado da princesa Diana – que morreu em acidente de carro em 1997 – para conhecer os preparativos da Eco 92, a Conferência da Onu para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que aconteceria no ano seguinte.

Sensibilizado pelo desmatamento, ele cria, em 2007, o Prince’s Rainforest Project, que trabalha junto a governos, empresários e associações para encontrar soluções para a destruição das florestas tropicais.

Prêmios e críticas

Por todas essas ações, Charles III recebeu diversos prêmios internacionais, incluindo o prestigioso Global Environmental Citizen da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Mas a distinção também rendeu críticas de ecologistas britânicos. Para recebê-la das mãos do ex-presidente americano e prêmio Nobel da Paz, Al Gore, o monarca cruzou o oceano a bordo de um Boeing 747 acompanhado por um numeroso séquito, algo nada sustentável.

É verdade que o modo de vida da Família real britânica destoa dos discursos ecologistas do rei. Elizabeth II, por exemplo, em seus 70 anos de reinado foi a monarca que mais viajou no mundo, com mais de 100 nações visitadas e 150 passagens pelos países do Commonweath, deixando uma pegada de emissões de CO2 tão longa quanto seu reino.

Ambiguidades

Além dessa ambiguidade entre prática e discurso, a verdadeira questão é se o soberano poderá continuar a emitir suas posições sobre a crise ecológica agora que é oficialmente rei.

Ainda que Charles III seja um excelente porta-voz da causa ecológica, sua posição de soberano o impede de se expressar sobre questões socio-econômicas.

O contexto que atravessa o Reino Unido, com a chegada da liberal Liz Truss ao cargo de primeira-ministra, também não parece propenso à ecologia. A chefe de governo se mostra refratária às energias renováveis e quer prolongar a data prevista para que a Inglaterra alcance a neutralidade de carbono.

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