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Governo espanhol lança guerra contra desperdício de alimentos

Um projeto de lei em análise no Parlamento da Espanha busca reduzir o desperdício de alimentos, em um país onde a crise econômica se alastra. Por ano, os espanhóis jogam no lixo 1,36 milhão de toneladas de comida, enquanto os restaurantes populares recebem cada vez mais famílias em dificuldades para se alimentar.

Turistas em um restaurante em Palma de Maiorca, em 26 de março de 2021. Imagem ilustrativa.
Turistas em um restaurante em Palma de Maiorca, em 26 de março de 2021. Imagem ilustrativa. AFP - JAIME REINA
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Por Luis Méndez, da RFI

O governo socialista de Pedro Sánchez parece determinado a combater o problema, obrigando bares e restaurantes a oferecerem embalagens gratuitas a seus clientes para que levem as sobras de comida para casa, além de doarem os excedentes para ONGs.

"Claro que é uma boa medida. Quando um cliente come uma boa entrada, um bom prato principal e está satisfeito, por que não levar o que sobrou se ele já pagou?”, questiona Javier Sánchez, um dos responsáveis ​​da “Casa Botín”, considerado um dos restaurantes mais antigos do mundo, em entrevista à RFI.

“Firmamos acordos com a Câmara Municipal de Madri para doar a comida que sobra, mas realmente é pouca coisa. Tudo é muito calculado e como somos uma empresa pequena não temos grandes excedentes”, acrescenta o gerente do restaurante que detém o recorde do Guinness por seus quase 300 anos de história ininterrupta na capital espanhola.

“Essa iniciativa é boa para que as pessoas possam levar o que sobrou, embora os clientes normalmente já peçam”, conta Ángel, gerente do restaurante "Bolívar", localizado no bairro de Malasaña, em Madri. “Não é como antes, que havia mais hesitação; agora eles fazem isso diretamente sem nenhum problema. Acho que a pandemia também influenciou as pessoas a serem menos tímidas com esse tipo de coisa", completa.

“Já oferecemos sacolas e embalagens gratuitas. Nunca dissemos a ninguém que cobraríamos se a pessoa levasse sua comida. Encaminhar sobras de alimentos para ONGs também é uma boa medida, mas é preciso ter cuidado para que os produtos cheguem em boas condições e possam ser usados. Se houver controle, a ideia é bem-vinda", acrescenta o dono do restaurante.

“Acho bom que as pessoas tenham perdido o constrangimento para pedir esse tipo de coisa [levar as sobras para casa]”, completa Salvador, um professor aposentado.

De acordo com o projeto de lei do governo socialista espanhol, lojas e supermercados também devem baixar o preço dos produtos que estejam prestes a expirar. Os empresários também são incentivados a fazerem acordos com organizações humanitárias e bancos de alimentos para que esses produtos sejam direcionados a atender as necessidades de famílias mais vulneráveis.

A RFI também entrou em contato com gerentes de grandes redes de supermercados para ouvir a opinião deles sobre as medidas propostas pelo governo para diminuir o desperdício de produtos alimentícios, mas não obteve resposta.

Supermercado em Pamplona, ​​norte da Espanha, na segunda-feira, 16 de março de 2020.
Supermercado em Pamplona, ​​norte da Espanha, na segunda-feira, 16 de março de 2020. AP - Alvaro Barrientos

Multas em caso de não implementação da medida

Se as empresas não implementarem planos para reduzir o desperdício de alimentos, podem enfrentar multas pesadas. Até agora, as regulamentações recomendavam que os produtos vencidos fossem utilizados ou como ração animal ou para a produção industrial de fertilizantes e biocombustíveis.

“Em um mundo onde, infelizmente, ainda existe fome e desnutrição, obviamente essa questão [do desperdício de alimentos] afeta a consciência de todos”, destacou o ministro espanhol da Agricultura, Pescas e Alimentação, Luis Planas.

Planas ainda lembrou que, na União Europeia, apenas França e Itália têm legislação semelhante. Não por acaso, estes dois países, juntamente com a Espanha, dão especial importância à alimentaão e se destacam no ranking da gastronomia europeia.

Se aprovadas no Parlamento, as medidas antidesperdício devem entrar em vigor em 1º de janeiro de 2023.

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