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Johnson diz que Brexit sem acordo pode ser "maravilhoso", mas empresas temem caos no Reino Unido

O fracasso de um futuro acordo comercial entre o bloco europeu e o Reino Unido é "muito, muito provável", afirmou o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, nesta sexta-feira (11). Os dois lados estão nos últimos dias de negociações sobre as relações bilaterais a partir de 1º de janeiro. O setor privado britânico tem advertido que uma ruptura brusca pode gerar falta de produtos no país e o fechamento de fábricas.

Premiê britânico minimiza impacto de um Brexit sem nenhum acordo comercial com a União Europeia.
Premiê britânico minimiza impacto de um Brexit sem nenhum acordo comercial com a União Europeia. © REUTERS - SIMON DAWSON
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A partir do primeiro dia de 2021, Londres corta definitivamente os laços com o mercado único e a união alfandegária europeia. Minimizando a situação, Boris Johnson avaliou que a saída sem acordo pode "ser maravilhosa".

"Acho que seria maravilhoso para o Reino Unido e que poderíamos fazer exatamente o que queremos a partir de 1º de janeiro", disse o premiê. "Mas seria diferente do que havíamos proposto alcançar", reconheceu o chefe de governo, defensor do Brexit a qualquer custo desde o histórico referendo de 2016 sobre a questão.  

Em Bruxelas, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, admitiu que há "mais probabilidades" de que não aconteça um entendimento. Desde quinta-feira (10), ao apresentar para os 27 países do bloco um panorama do estado das negociações, ela demonstrava pessimismo.

Diante do impasse que dura meses e a três semanas da data limite, o diálogo pode ser rompido já neste domingo (13). De acordo com fontes diplomáticas, Von der Leyen poderia ter uma nova conversa com Johnson no sábado (12). Os dois se falaram por telefone na segunda-feira, dia em que o primeiro-ministro britânico solicitou uma conversa com a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Emmanuel Macron. Ambos negaram.

"Falamos com uma só voz", explicou o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, ao comentar a rejeição.

Pontos de bloqueio

As negociações estão bloqueadas por posições divergentes em três temas: o acesso europeu às zonas de pesca britânicas, normas de concorrência para acesso ao mercado único e a gestão legal da futura relação, em especial o mecanismo de solução de controvérsias.

Von der Leyen explicou que o acesso ao mercado único exige condições. "É justo que os concorrentes das nossas próprias empresas enfrentem as mesmas condições no nosso mercado", afirmou, segundo fontes diplomáticas.

Sem um entendimento, as relações comerciais entre Reino Unido e UE obedecerão meramente às normas da Organização Mundial do Comércio (OMC), um cenário de consequências econômicas imprevisíveis, incluindo a instauração de novas tarifas e cotas de comércio.

Impacto no Reino Unido preocupa industriais

As federações industriais britânicas alertam que o Brexit sem acordo comercial vai gerar caos no Reino Unido, com escassez de produtos, engarrafamentos imensos, portos bloqueados e fábricas fechadas.

"As empresas britânicas continuam esperando um acordo, mas enfrentarão dificuldades a partir de 1º de janeiro, aconteça o que acontecer", afirmou Darren Jones, presidente da comissão parlamentar britânica para empresas, após um encontro com representantes industriais na terça-feira.

Os representantes alertaram sobre uma "possível escassez de alimentos e aumento de preços, mesmo se houver um acordo, um aumento de custos para a indústria do automóvel e preocupação sobre os serviços financeiros".

James Sibley, diretor de assuntos internacionais da Federação Britânica de Pequenas Empresas (FSB), disse à BBC na quinta-feira que esperava "terríveis turbulências em janeiro".  Devido à pandemia, os portos estão congestionados há semanas e os circuitos de abastecimento, interrompidos – uma amostra do que pode ocorrer, em escala ainda maior, a partir de 1º de janeiro.

Organização em cima da hora

Muitas empresas tentam receber suas entregas antecipadamente para evitar os temidos transtornos pós-Brexit, ou fizeram pedidos em maior quantidade para ficar em dia com o atraso acumulado durante os períodos de lockdown.

Na quarta-feira, foram registrados engarrafamentos quilométricos nos dois sentidos nas imediações do porto de Dover, no Canal da Mancha. Em um relatório sobre o "pior cenário razoável", o governo britânico previu filas de 7.000 caminhões bloqueados durante dois dias nas estradas e enormes estacionamentos de emergência perto de Dover.

Na quinta-feira, o jornal Financial Times informou sobre um grupo de trabalho denominado D20 – dezembro 2020 –, dedicado aos caóticos cenários previstos para o pós 1º de janeiro. O documento inclui o risco de inundação dos estacionamentos de emergência em caso de fortes chuvas de inverno, cortes de energia ou falta de combustível.

Segundo o jornal, o ministro do Transporte Grant Shapps alugou balsas de emergência para tentar desbloquear os engarrafamentos de caminhões durante seis meses, a um custo de £ 77 milhões de libras (R$ 513 milhões).

Mensagens tranquilizadoras

Na sequência das declarações dos últimos dias, a libra esterlina voltou a registrar queda nesta sexta-feira, pelo segundo dia consecutivo, com desvalorização de 1%, foi vendida a 1,3150 dólar por libra. O Banco da Inglaterra (BoE) tentou apaziguar os mercados com uma mensagem de calma, assegurando que o sistema financeiro britânico tem as condições para resistir aos efeitos do Brexit.

O Comitê de Política Financeira (CPE) do BoE afirmou que o sistema bancário do Reino Unido é capaz de enfrentar uma "ampla gama de possíveis cenários econômicos". Mesmo em caso de deterioração significativa, o sistema tem "a capacidade de seguir (emprestando) às empresas e famílias", completou.

Entenda o calendário

O Reino Unido abandonou oficialmente a UE em 31 de janeiro. Desde então, as duas partes se encontram regularmente em um período de transição, que acabará em 31 de dezembro. O prazo foi estabelecido justamente para que Londres e Bruxelas negociarem um acordo sobre como funcionaria a futura relação comercial.

Com informações da AFP

 

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