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Brasil-Mundo

Chefe brasileira se reinventa com Covid-19 e vira “marmiteira” para médicos e enfermeiros em Londres

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Como milhões de pessoas mundo afora, a chef brasileira Luciana Berry precisou se reinventar nesses tempos de pandemia. No lugar de grandes banquetes, coquetéis e jantares gastronômicos em eventos badalados que servia habitualmente, ela agora faz refeições para os funcionários do NHS, o sistema de saúde público britânico, que serviu de inspiração para o SUS no Brasil. O trabalho é voluntário e todas as semanas ela entrega de 500 a 700 marmitas a médicos e enfermeiros em quatro hospitais de Londres.

Formada em alta gastronomia, a brasileira Luciana Berry, que estava acostumada a jantares luxuosos, está adorando fazer marmitas para funcionários do serviço público de saúde britânico.
Formada em alta gastronomia, a brasileira Luciana Berry, que estava acostumada a jantares luxuosos, está adorando fazer marmitas para funcionários do serviço público de saúde britânico. © Arquivo Pessoal
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A ideia veio depois que uma vizinha encomendou algumas refeições  para a sobrinha enfermeira, que trabalhava mais de 14 horas por dia, na linha de frente da luta contra a Covid-19 em um hospital na capital britânica. Luciana fez e não teve coragem de cobrar. E descobriu que queria fazer mais. Foi atrás de uma instituição de caridade, preencheu um ficha com todas as exigências necessárias para poder cozinhar para o público no Reino Unido e, desde entao, não para. 

Voluntários como ela recebem encomendas dos hospitais para onde foram designados. E as de Luciana são constantes, para a surpresa de outros colegas.

No cardápio, ela evita produtos que causem alergias, mas abusa dos ingredientes brasileiros. O arroz com feijão faz sucesso, assim como a moqueca de peixe. Ela acha que o segredo do entusiasmo de quem come suas marmitas está no cheiro do limão que espremeu pouco antes e dos temperos frescos. Ela também não resiste a uma pimentinha. Tudo para dar cores e alegria a quem arrisca a vida no país onde já foram registradas quase 34 mil mortes pela Covid-19. O Reino Unido é a nação europeia com o maior número de óbitos pela doença.

"Nunca imaginei virar uma marmiteira"

"Nunca imaginei que ia virar uma marmiteira. Porque eu fiz Cordon Bleu, alta gastronomia. E, hoje em dia, estou fazendo marmita, e estou ficando craque nisso. É ótimo, porque a gente se reinventa. Se é para fazer isso, vamos embora! Eu vou fazer as melhores marmitas do mundo, com aquela comidinha brasileira gostosa, bem temperada. Eu adoro”, destaca.

Luciana prepara as marmitas que, em seguida, são distribuídas entre os funcionários dos hospitais de Londres.
Luciana prepara as marmitas que, em seguida, são distribuídas entre os funcionários dos hospitais de Londres. © Arquivo Pessoal

"Sempre gostei de promover a gastronomia brasileira em projetos, em shows aqui em Londres. Mas nunca imaginei que ia promover, de uma forma ou de outra, dentro dos hospitais. Nossa comida é muito boa. Eu acho que estão gostando, porque estou recebendo muitos pedidos. Tem sempre aquele temperinho gostoso brasileiro. Eu boto aquela pimentinha, porque sou baiana. E aí o povo adora, gosta demais”, afirma.  

As marmitas de Luciana viraram motivo de festa nos hospitais. No final do dia, segundo ela, muita gente usa o pouco tempo livre que tem em casa para escrever para a chefe. Postam fotos das marmitas no Instagram e agradecem.

Médicos e enfermeiros agradecem o trabalho de Luciana nas redes sociais.
Médicos e enfermeiros agradecem o trabalho de Luciana nas redes sociais. © Arquivo Pessoal

Luciana escolheu Londres para morar há 16 anos

Suas aventuras na cozinha começaram depois de detestar a comida que era servida na escola, a Harrow School, instituição de elite por onde passou o ex-primeiro ministro Winston Churchill. Ela se ofereceu para preparar os quitutes em uma das festas. Fez um estrogonofe de frango com batata palha, que teve de repetir muitas vezes em outros eventos. A fama levou Luciana à cozinha em um evento para o príncipe Edward, irmão de Charles, e outras celebridades que estiveram na escola. Ela não parou mais.

A brasileira foi estudar gastronomia. Passou pelo Cordon Bleu, foi finalista no Master Chef britânico em 2014, e ainda foi convidada para preparar um jantar para 230 pessoas em 10 Downing Street, a residência primeiro-ministro britânico. O ocupante à época ainda era o conservador David Cameron.

Como outras pessoas, Luciana foi pega de surpresa pela pandemia. Estava prestes a abrir um novo negócio na City, o coração financeiro de Londres. Ia cozinhar para os eventos corporativos. Mas a região com um dos metros quadrados mais caros da capital, onde brotavam arranha-céus cada vez mas exuberantes, parece mais um bairro fantasma. Mas ela não desiste. Se esse projeto foi engavetado por tempo indeterminado, a brasileira garante que já tem outro para depois da pandemia.

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