Escritor pernambucano Alvaro Filho escreve “livro ao vivo” no Facebook

O jornalista e escritor pernambucano Alvaro Filho está escrevendo um "livro ao vivo" no Facebook. Ele teve esta ideia para manter contato com os seus leitores durante o confinamento para frear a epidemia de coronavírus. "Delito, amor e pandemia" já está no décimo capítulo e deve ser acabado em meados de maio, quando o autor colocar o ponto final no décimo segundo.

O escritor pernambucano Alvaro Filho. © Divulgação

Alvaro Filho mantém uma hora e meia de produção online diária, com muita disciplina, apesar do convívio familiar com o filho pequeno a sua mulher no mesmo espaço. O pernambucano é autor de oito livros e vive em Lisboa há quatro anos. Nesse período, já recebeu vários prêmios, como o da Academia Pernambucana de Letras de 2018, com o “Meu velho guerrilheiro”, e o Prêmio Escrita FNAC, com o conto "Otelo". Seu último romance, "Alojamento letal, publicado pela editora Planeta de Portugal, foi um dos livros mais vendidos no país no ano passado.

O autor realiza diariamente uma hora e meia de produção online, com muita disciplina, apesar do convívio familiar com o filho pequeno e sua mulher no mesmo espaço, um apartamento pequeno em Lisboa. © Divulgação

"Livro ao vivo"

A ideia da obra online surgiu quando o autor começou a observar que muita gente passou a mostrar seus talentos e habilidades nas redes sociais. “O chefe de cozinha fazia uma receita, o personal trainer fazia uma aula e muitos músicos ficaram famosos nas varandas dos apartamentos na Itália e Espanha. Como nós escritores já usamos as redes para divulgar nosso trabalho, achei que também poderia utilizá-las para mostrar o nosso processo criativo e produtivo”, explica.

“Existe uma mitologia de que todo escritor vive numa espécie de confinamento, de quarentena o tempo todo, porque escrever exige um distanciamento social. O que é utópico, porque a vida impõe outro tipo de cenário, principalmente para aqueles que estão no começo de carreira, que não têm uma cabana nos Alpes onde possam se isolar”, afirma em tom divertido. “A maioria dos escritores começa em casa depois do trabalho; ou mesmo na folga do expediente, ou no café", afirma.

Para o autor, o período obrigatório da quarentena tornou-se uma oportunidade interessante para mostrar a realidade do processo criativo na convivência com a sua mulher e o filho pequeno. “Meu filho de cinco anos tem uma energia incrível e tem de sossegá-la, de vez em quando, com a TV e a infernal Netflix ligadas, com seus zumbis e super heróis, num apartamento onde o meu ambiente de trabalho está a poucos metros da televisão.”

" Como nós escritores já usamos as redes para divulgar nosso trabalho achei que também poderia utilizá-las para mostrar o nosso processo criativo e produtivo” © captura de tela

Nenhuma dessas distrações conseguiu interromper a disciplina da escrita online do novo romance, a não ser as notícias sobre as mortes e contágios da Covid-19 no Brasil. “Parte da minha família que vive no Brasil, onde o processo de lidar com a pandemia foi o inverso daqui de Portugal – onde temos uma situação privilegiada –, foi contagiada. Inclusive meu filho que vive lá pegou a Covid”, relata.

"Editoras hibernadas"

A pandemia também atrapalhou o lançamento do livro, “já que as editoras hibernaram”. "Ainda não há nenhuma interessada em transformar essa obra. Mas eu sigo escrevendo, pensando que este é acima de tudo um documento, justamente por ser um livro produzido durante o período de confinamento. Um romance que tem este momento histórico como pano de fundo e como base narrativa; e que está sendo escrito com a ferramenta que melhor o simboliza, que é o live-stream”, finaliza.