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Brasil-Mundo

Restaurante de Lisboa só recruta cozinheiros com mais de 60 anos; 2 brasileiros integram equipe

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Na capital portuguesa, o Mão-Cheia não é apenas um restaurante, é um projeto que só abre as portas a cozinheiros com mais de 60, 70, 90 anos de idade. A ideia é da Associação Pão a Pão, que promove a integração de refugiados do Oriente Médio.

Anabela Antunes
Anabela Antunes Fábia Belém
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Correspondente da RFI em Lisboa

Quando as vagas foram anunciadas nas redes sociais, “foi uma surpresa enorme porque recebemos dezenas e dezenas de e-mails”, lembra Francisca Gorjão Henriques, uma das fundadoras da Pão a Pão, responsável por gerir o projeto.

O Mão-Cheia já tem quinze cozinheiros - portugueses e imigrantes de Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Austrália e Brasil. Cada um prepara o que mais sabe fazer e dedica o tempo que quer ao projeto - uma ou duas vezes por mês, por exemplo. Por cada dia de trabalho, o participante recebe € 30 (aproximadamente 150 reais). O menu é variado, exceto às quartas-feiras, dia de cozido à Portuguesa.

Com uma equipe fixa formada por uma gerente e três ajudantes, o restaurante começou a funcionar há cerca de quinze dias. Segundo Francisca, muitos clientes revelam que ouviram falar do projeto e que gostaram da ideia. “Eles depois voltam. Já temos (fregueses) regulares, pessoas que vêm quase todos os dias”.

Receita para sair de casa e fazer novas amizades

De acordo com a representante da Pão a Pão, o projeto é uma forma de valorizar os saberes dos mais velhos. “O conhecimento que só é adquirido com muitos anos de vida e com muita experiência”. Também é uma ferramenta de combate ao isolamento, porque é “um incentivo para que as pessoas saiam de casa”.

Francisca Gorjão Henriques, que também é jornalista, destaca outra capacidade do Mão-Cheia, a de ajudar a construir relações intergeracionais. Na opinião dela, o projeto cria um ambiente onde os cozinheiros mais velhos podem se relacionar com pessoas mais novas, sejam elas colegas de trabalho ou clientes.

“É muito importante porque as pessoas gostam de conviver com pessoas de todas as idades; não querem ficar fechadas em gavetas”.

Envelhecimento ativo

A portuguesa Anabela Antunes, de 72 anos, se aposentou há cinco anos. Viúva, mãe de uma filha e avó de um neto, ela trabalhou como copeira e já teve um restaurante próprio. Quando soube do projeto, não hesitou. “Porque tudo que seja desafio, eu enfrento, eu gosto. É uma forma de mostrar que ainda estou bem de cabeça”, ressalta.

Anabela conta que no primeiro dia em que comandou a cozinha fez uma das suas especialidades: “As favas à moda da Anabela”. A cozinheira de mão cheia quer permanecer no restaurante. Sabe que por meio do projeto, ela ocupa o tempo e faz o que gosta. “Vibro com o movimento da cozinha porque adoro a cozinha, adoro cozinhar”, diz a portuguesa.

Feijoada brasileira

Antonio Pires, de 64 anos, estreou com feijoada brasileira. “Ficou muito gostosa. No fim, se rapou tudo. Não sobrou!”, conta entusiasmado. O paulistano é um dos dois brasileiros que participam do projeto. Ele deixou no Brasil o trabalho que tinha nos setores administrativo e financeiro de uma empresa. Chegou a Lisboa há seis meses, acompanhando a filha que veio fazer mestrado. Procurou trabalho como ajudante de cozinha em alguns restaurantes, mas não conseguiu. No “Mão Cheia”, encontrou a oportunidade que desejava.

“Eu acho que isso é uma forma de mostrar que as pessoas podem fazer o que elas querem [fazer], que têm capacidade, e eu acho que isso é muito prazeroso”, observa o brasileiro.

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