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A Semana na Imprensa

Prefeitos progressistas do leste da Europa e de Istambul fazem "pacto da resistência" contra extrema direita

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Em meio à onda populista de direita que assola o mundo, a revista francesa L'Obs mostra como cinco prefeitos progressistas conseguiram, nos últimos meses, se impor em países "massacrados" pela ideologia nacionalista. São políticos de uma nova geração que entraram em resistência contra o autoritarismo dos governos ultraconservadores da Polônia, República Tcheca, Turquia e Hungria.

Da esquerda para a direita, os prefeitos de Praga, Zdenek Hrib, de Budapeste, Gergely Karácsony, de Bratislava, Matus Vallo, e de Varsóvia, Rafal Trzaskowski, assinaram o "pacto das cidades livres" para lutar contra os governos populistas em seus países.
Da esquerda para a direita, os prefeitos de Praga, Zdenek Hrib, de Budapeste, Gergely Karácsony, de Bratislava, Matus Vallo, e de Varsóvia, Rafal Trzaskowski, assinaram o "pacto das cidades livres" para lutar contra os governos populistas em seus países. REUTERS/Tamas Kaszas
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A L'Obs nota que o vento mudou de direção na capital polonesa, Varsóvia, em Bratislava e Praga, na República Tcheca, em Istambul, na Turquia, e Budapeste, na Hungria. Para entender o que provocou uma reação democrática nesses centros urbanos, a reportagem visitou o prefeito social-democrata de Istambul, Ekrem Imamoglu, de 49 anos, o liberal Karval Trzaskowski, de 48 anos, em Varsóvia, e o ecologista Gergely Karácsony, de 44 anos, eleito em outubro de 2019 na prefeitura de Budapeste.

A Hungria, governada pelo primeiro-ministro Viktor Orbán, aliado do presidente Jair Bolsonaro, é uma das vitrines da "democracia iliberal" no leste da Europa. Nesse sistema dito "iliberal", líderes nacionalistas fazem tudo para manter a fachada democrática, realizando eleições, mas adotam um estilo de governo e reformas que enfraquecem a imprensa, a justiça, a cultura e a educação laica, com o objetivo de se perpetuarem no poder.

Segundo a L'Obs, os prefeitos opositores de Istambul, Varsóvia e Budapeste se conhecem e se apoiam mutuamente. Eles são da mesma geração, enfrentam as mesmas dificuldades e adotam estratégias semelhantes para defender os valores democráticos na guerra contra o autoritarismo. Todos governam sob a pressão de campanhas de ódio orquestradas pelos opositores nacionalistas, são ofendidos e xingados diariamente e até ameaçados de morte.

Nesses países, o Executivo recorre a um arsenal legislativo para estrangular financeiramente os prefeitos de oposição. Na Polônia e na Hungria, por exemplo, os deputados do PiS e do Fidesz adotaram leis que transferem ao governo federal os impostos recolhidos nos municípios. A tática é fazer os moradores atribuírem aos gestores locais a culpa pelas falhas nos serviços municipais, quando a responsabilidade é do governo central. Na Turquia, o presidente Erdogan faz o mesmo: ele proibiu os bancos públicos de conceder empréstimos às prefeituras perdidas para os progressistas e cancelou os contratos de parceria que elas mantinham com ministérios.

Manual da resistência

Neste contexto de guerra política, os progressistas adotaram estratégias similares. O turco Imamoglu partiu para o ataque e transmite ao vivo as reuniões de seu secretariado, para denunciar os desvios de dinheiro público promovidos pelos antecessores do AKP. O húngaro Karácsony também revela aos eleitores as operações suspeitas por trás de contratos de obras públicas do governo Orbán. O prefeito de Varsóvia, Trzaskowski, que se autoproclama inimigo número 1 da onda populista, estabeleceu um manual da resistência baseado em três pontos: lutar pela manutenção das prerrogativas locais, combater o cerceamento eleitoral e defender com veemência os valores democráticos, por meio de medidas de proteção ao meio ambiente e às minorias.

"É um conflito de civilização", dizem os prefeitos de Varsóvia e Budapeste. O prêmio Nobel de Literatura húngaro Imre Kertész, banido dos livros escolares, resume: "Temos de proclamar nossos valores senão os outros tentarão impor os deles como se fossem de todos".

Em dia 16 de dezembro, os prefeitos de Budapeste, Varsóvia, Praga e Bratislava selaram o "pacto das cidades livres". Imamoglu, de Istambul, trabalha afinadamente com o grupo, apesar de seu país estar fora da União Europeia.

Uma diplomacia municipal concorre, agora, com os autocratas, conclui a reportagem da revista L'Obs.

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