Cerca de 600 edifícios na Inglaterra têm mesmo revestimento inflamável da torre incendiada
Quase 600 edifícios residenciais da Inglaterra têm um revestimento inflamável como o da Torre Grenfell, em Londres, cujo incêndio no último dia 14 deixou 79 mortos.
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O governo ordenou a análise de todos os revestimentos de prédios altos do país, e o resultado mostrou que apenas três têm material inflamável. Porém as administrações locais calculam que o total chegue a 600.
Muitas pessoas acreditam que o material dos painéis que cobriam a Torre Grenfell foi responsável pela rápida propagação do fogo, aliada ao fato de que a separação entre o revestimento e o edifício criou um efeito chaminé que também contribuiu para acelerar a tragédia.
O revestimento foi instalado como isolante e para embelezar o edifício, durante uma reforma em 2016.
Pouco antes da divulgação do número, a primeira-ministra Theresa May anunciou que havia ordenado análises em todos os revestimentos dos edifícios do país.
"Pouco antes de vir para a Câmara dos Comuns, fui informada de que alguns testes revelaram que eram inflamáveis", disse May em um discurso no Parlamento sobre o incêndio.
"As autoridades e os serviços de bombeiros locais foram informados e, enquanto eu falo, eles estão tomando todas as medidas necessárias para assegurar que os edifícios sejam seguros e para informar os vizinhos afetados", explicou a premiê.
Combustão pode liberar cianeto
Analistas opinam que a combustão dos painéis pode ter produzido fumaça tóxica carregada com cianeto, que teria envenenado as vítimas.
O Hospital King's College informou que administrou um antídoto contra o cianeto, o Cyanokit, em pelo menos três vítimas do incêndio.
A fabricante dos painéis, Celotex, admitiu que o revestimento poderia liberar "gases tóxicos" em um incêndio.
De acordo com o Serviço Nacional de Saúde (NHS), 10 pessoas continuam hospitalizadas pelo incêndio, cinco em estado grave.
A primeira-ministra não apontou diretamente o revestimento da Torre Grenfell como culpado pela rápida propagação das chamas, "mas, como precaução, o governo organizou a análise dos revestimentos em todos os edifícios relevantes".
May citou a ajuda fornecida às pessoas afetadas, depois que foi muito criticada por evitar os moradores no dia seguinte à tragédia, quando visitou o edifício do bairro de Kensington e Chelsea e se reuniu apenas com as equipes de resgate.
Muitos moradores eram imigrantes, e May tentou tranquilizá-los ao afirmar que seu status legal não será um obstáculo para receber ajudas: "Não haverá controles de imigração", prometeu.
Primeira demissão
Nesta quinta-feira (22), mais de uma semana após o incêndio, aconteceu a primeira demissão em consequência da tragédia, de Nicholas Holgate, diretor executivo da câmara de Kensington e Chelsea, o principal funcionário da administração local.
Na quarta-feira, May pediu perdão pela reação lenta e desorganizada das autoridades nos primeiros dias após a tragédia.
"Como primeira-ministra, peço desculpas por esse fracasso", disse no Parlamento, "foi um fracasso do Estado, em nível local e nacional".
O líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, insistiu que a resposta foi caótica e exigiu que o governo repasse recursos aos conselhos locais para que "realizem imediatamente avaliações anti-incêndios e instalem aspersores de água" em todos, outra coisa que não existia na Torre Grenfell.
"Retirar os revestimentos que possuem materiais inflamáveis e instalar novos têm um grande custo", recordou Corbyn.
Na sexta-feira passada, sobreviventes da tragédia, parentes das vítimas e moradores do bairro expressaram toda sua revolta e invadiram a sede da administração do bairro de Kensington e Chelsea.
Os moradores afirmam que as autoridades locais ignoraram durante anos as denúncias de problemas no edifício na questão de combate às chamas.
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