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Corbyn e May refletem duas visões da sociedade britânica

Ao convocar legislativas antecipadas com o objetivo de afirmar sua maioria conservadora em função do Brexit, a primeira-ministra britânica Theresa May certamente não contava com a ascensão fulgurante do líder do Partido Trabalhista Jeremy Corbyn. Os dois sessentões têm trajetórias e pontos de vista praticamente opostos e a proximidade das intenções de voto demonstram a divisão do eleitorado britânico.

Jeremy Corbyn ou Theresa May? A luta entre conservadorismo e abertura foi para as urnas nas eleições legislativas inglesas que acontecem nesta quinta-feira(8)
Jeremy Corbyn ou Theresa May? A luta entre conservadorismo e abertura foi para as urnas nas eleições legislativas inglesas que acontecem nesta quinta-feira(8) Daniel LEAL-OLIVAS / AFP
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Fabien Leboucq, RFI

Um dos únicos pontos em comum entre Theresa May e Jeremy Corbyn é que um deles vai governar o Reino Unido, comandando o navio pelas águas tormentosas do Brexit. No restante, as personalidades se contrapõem sob todos os planos.

Como a chanceler alemã Angela Merkel, Theresa May, 60 anos, é filha de pastor anglicano, estudou em Oxford e trabalhou no Banco da Inglaterra. Fiel ao ex-primeiro-ministro David Cameron, ela segue o dogma da austeridade econômica.

Do outro lado, à esquerda, Jeremy Corbyn, 68 anos, era um ilustre desconhecido há dois anos; vegetariano, filho de um casal de militantes pacifistas da classe média e autodidata (parou de estudar aos 18 anos) Corbyn tem no seu currículo o militantismo sindical e o ativismo radical.

Corbyn, o pacifista

Desde que foi eleito pela primeira vez como membro do Parlamento, em 1983, Corbyn permaneceu como representante de um distrito do norte da periferia londrina. No entanto, nunca parou de militar nas ruas, ao lados dos sindicalistas e associações que defendem causas que considera importantes. Um exemplo: em 1984, ele foi detido durante uma manifestação contra o apartheid na África do Sul.

Corbyn é membro eminente da associação Stop the War, se posicionando contra a guerra sob todas as formas e participando de manifestações pacifistas, como foi o caso durante a guerra do Vietnã e do Iraque. Ele também defende a desnuclearização total do planeta.

Essas posições acabaram valendo a Corbyn o rótulo de "idealista envolto em ideologias". Neste contexto, seus opositores sempre relembram suas relações com os integrantes do Sinn Fein, movimento separatista irlandês próximo ao grupo terrorista IRA. Corbyn se defende, argumentando que nunca tomou parte de nenhuma violência, mas que se interessava em participar das discussões do processo de paz. De qualquer forma, seu perfil republicano e antimonarquista destoam da paisagem política britânica.

Ele foi reeleito em setembro do ano passado à frente do Partido Trabalhista. Grande parte desta vitória foi graças aos novos membros do partido; em 2016, cerca de 300 mil pessoas se afiliaram à legenda, dobrando assim o número de militantes da formação, a maior da Europa. "Vamos trabalhar juntos por uma verdadeira mudança", declarou Corbyn na época, depois do anúncio dos resultados.

May: lealdade a impulsionou ao poder

Theresa May aderiu bem cedo ao partido conservador, que hoje é dirigido por ela. Sempre demonstrou uma fidelidade a toda prova ao ex-primeiro-ministro David Cameron, o que lhe permitiu ocupar diversos cargos no seu gabinete a partir de 2005 e tornar-se membro do seu governo. Entre 2010 e 2016, ela dirigiu o ministério do Interior britânico, um recorde de tempo de uma personalidade política no cargo. Neste período, ela se destacou por sua luta contra a imigração. Ela colocou um ponto final no reagrupamento familiar, recusou as cotas de refugiados propostas pela União Europeia e fez da expulsão de imãs islâmicos um dos seus maiores combates. Uma política oposta à de Jeremy Corbyn, que defende a abertura das fronteiras britânicas.

Estilos diferentes e discrição sobre vida pessoal

Tanto Corbyn quanto May não gostam de colocar a vida particular sob os holofotes. Mesmo assim, sabe-se que o trabalhista tem três filhos, casou-se três vezes, bebe pouco, não come carne em nome do sofrimento animal e teria, segundo o jornal francês Le Monde, as despesas mais baixas de todo o Parlamento britânico. Iconoclasta, ele recusou por muito tempo usar gravatas.

Theresa May é também uma partidária da discrição, com fama de fria e severa, a ponto de ser chamada de "Dama de Ferro", comparação feita com a ex-primeira-ministra Margareth Thatcher. Para "quebrar o gelo" durante esta campanha, pela primeira vez seu marido, Philip May, também do Partido Conservador, apareceu ao seu lado para uma entrevista conjunta.

Entenda o contexto destas legislativas

Em 18 de abril passado, Theresa May anunciou eleições legislativas antecipadas - fato inédito no Reino Unido desde os anos 70. A decisão surpreendeu uma parte da classe política do país e a campanha só deixou espaço para os conservadores e trabalhistas; os liberais-democratas não conseguiram se entender e o partido eurocético de extrema-direita Ukip perdeu força, já que o Brexit vai acontecer com ou sem ele.

No entanto, as intenções de voto em favor dos conservadores vêm caindo a cada dia. Com 20 pontos à frente dos trabalhistas, no começo da campanha, hoje eles têm uma pequena diferença.

Os atentados de maio e junho em Londres e Manchester trouxeram à tona críticas severas à conservadora, que reduziu o orçamento para a segurança quando era ministra do Interior de David Cameron. Os especialistas também consideram que a campanha eleitoral em si não foi dinâmica, com pouca comunicação com as mídias, sem debate televisivo nem grandes comícios.

Mesmo assim, nada permite dizer que a vitória de Jeremy Corbyn está garantida, apesar do seu discurso intervencionista atrair cada vez mais eleitores e ele ter inspirado um novo termo, o "corbynismo", que representa uma mistura radical de socialismo econômico, progressismo social e horizontalidade política.

Segundo uma pesquisa da YouGov, Theresa May e seus partidários podem conquistar 382 assentos.Os trabalhistas têm chances de obter 179 cadeiras, constituindo a segunda força política britânica, seguidos pelo Partido Nacional Escocês, com 56. Outras 33 cadeiras devem ser repartidas entre diversos partidos.

O Parlamento britânico tem 650 cadeiras.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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