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Bélgica/terrorismo

Jihadistas agem como mafiosos, diz presidente de associação belga

O antropólogo Johan Leman é presidente de uma associação no bairro de Molenbeek, na periferia de Bruxelas, uma das bases do grupo Estado Islâmico na Europa. Leman mora há 30 anos no local, onde 60% dos 100 000 habitantes vêm do Marrocos e metade tem menos de 35 anos. Em entrevista à RFI, Leman fala sobre a ligação entre o tráfico de drogas e o jihadismo, um dia depois do atentado que matou 31 pessoas na capital.

População belga homenageia as vítimas dos atentados em Bruxelas
População belga homenageia as vítimas dos atentados em Bruxelas REUTERS/Francois Lenoir
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Johan Leman não nega a existência de uma “solidariedade temerária” no bairro em relação aos terroristas, que nunca foram delatados. Segundo ele, muitas pessoas originárias do mesmo país ou vilarejos dos jihadistas não se sentiam à vontade em denunciá-los, “mesmo não aprovando a conduta deles.” Ele lembra que em Molenbeek, bairro pobre situado na periferia de Bruxelas, a desconfiança em relação às instituições do Estado é grande. Foi lá que a polícia belga prendeu, no último dia 18 de março, Salah Abdeslam, um dos suspeitos dos atentados de Paris de 13 de novembro.

Em entrevista ao jornal Le Figaro, Leman conta que a população poderia cooperar se fosse tratada com respeito, “ mas a polícia e a Justiça não têm mais nenhum contato com os moradores. Se atuassem mais em campo, desmantelaria essas redes em uma semana”, declarou.

Sem dizer diretamente se conheceu ou não Abdeslam, o antropólogo diz que muitos moradores não acreditam que ele esteve envolvido nos atentados da capital francesa. “Elas vêm me perguntar se é verdade que ele matou alguém”, declara. O próprio antropólogo diz não acreditar que o jihadista, um traficante de "pouca importância", seja um dos arquitetos das explosões em Paris. “Acho que ele apenas executou e foi uma ligação como grupo no exterior. É preciso ter um cérebro um pouco mais privilegiado do que o dele para planejar atentados”, avalia.

De acordo com ele, os jihadistas começaram a se implantar no bairro, e em outros lugares da Europa, como Londres, em 2005. Nessa época, os radicais de diferentes grupos, incluindo a Al Qaeda, começaram o “recrutamento” em Molenbeek, convencendo muitos criminosos a se converterem ao Islã. Uma rede que continuou ativa com a ascensão do grupo Estado Islâmlico. “O surpreendente é como esses bandidos aceitaram serem convertidos, a ponto de irem para o front na Síria morrerem como “heróis”, ou explodir em um atentado suicida, como foi o caso de um dos kamikazes do aeroporto de Zavantem”, avalia o especialista.

Jihadistas agem como mafiosos, diz especialista

“O modus operandis dos jihadistas é similar ao da máfia, daí a proximidade com o tráfico de drogas”, diz o antropólogo. De acordo com ele, existe uma conexão terrorista entre a Argélia, a França e o bairro de Molenbeek, além de uma rota que a alimenta. “Ela vem do norte do Marrocos e passa pela Espanha, França, Bélgica e Países Baixos. É uma rota criminosa típica”, explica.

Ele não considera, entretanto, o bairro como uma “base” do terrorismo. “O problema é europeu. Londres não fica atrás de Molenbeek.Também acho que existem vários focos do jihadismo na Europa. Para mim não seria uma surpresa que a próxima cidade visada por um atentado, por exemplo, seja Roma. O que não devemos fazer é subestimar o peso e a força do grupo Estado Islâmico”, alerta.

Questionado sobre quem são as pessoas que frequentam seu centro, o antropólogo é claro: cidadãos comuns de Molenbeek. “Criminosos ou esses indivíduos que partem para a Síria não têm ligação com a vida associativa, nem frequentam as mesquitas. Molenbeek não é um bairro homogêneo. É a globalização com todos seus aspectos, positivos e negativos. Em relação ao atentado de Bruxelas, sinto decepção e tristeza”, declara. “Eu me coloco de joelhos, diante da União Europeia, para que seus líderes cheguem a um acordo sobre a segurança”.
 

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