Sob protestos, começa devolução de refugiados da UE para a Turquia
Está marcada para a 0h deste domingo (20) o início da expulsão dos migrantes que desembarcarem na Grécia com a intenção de imigrar para a União Europeia, inclusive os que têm direito a asilo. A medida está prevista no plano acertado entre o bloco e a Turquia, para onde os estrangeiros devem ser enviados, em um difícil trabalho que vai necessitar de uma força-tarefa de especialistas.
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Os primeiros voos partindo das ilhas gregas rumo à Turquia já estão marcados. Por conta desse prazo estabelecido, um número bem mais alto do que o normal de migrantes se apressa para chegar à costa antes do limite. Segundo as autoridades gregas, nas últimas 24 horas, foram registradas 1,5 mil chegadas, mais do que o dobro do que no dia anterior, um número muito acima dos níveis do início da semana.
Organizar a transferência para a Turquia dos novos migrantes que chegam às Grécia e abrigar as pessoas bloqueadas em seu território será o trabalho hercúleo que Atenas espera cumprir, conforme estabelecido no acordo, firmado na noite de sexta-feira (18). Segundo a Comissão Europeia, cerca de 4 mil especialistas serão mobilizados para a operação, enviados por diversos países europeus.
O governo grego, mergulhado por seis anos em políticas de austeridade, conseguiu que seus sócios europeus reforçassem a missão com 2,3 mil agentes em diferentes áreas, informou o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras. "Haverá 400 especialistas em asilo, 400 intérpretes e tradutores e 1,5 mil especialistas em temas de segurança", declarou Tsipras, ao informar sobre os resultados da cúpula.
Bebê morre em naufrágio
A agência turca Anatolia informou que um bebê de 4 meses se afogou na madrugada, após o naufrágio de uma embarcação. Apenas neste ano, 400 pessoas morreram afogadas na travessia.
A chanceler alemã, Angela Merkel, que desempenhou um papel-chave nos acordos, suavizou um pouco os prazos e disse, em Bruxelas, que a operação vai de fato começar em 4 de abril. Frente às críticas de defensores dos direitos dos refugiados, a UE prometeu respeitar o direito internacional e irá assegurar que cada solicitante de asilo que chegue à Grécia a partir de domingo tenha direito a um exame individual.
"Um trabalho hercúleo nos espera, especialmente a Grécia", reconheceu o presidente do Executivo europeu, Jean-Claude Juncker. A maior parte dos migrantes que chegam à costa grega são iraquianos e sírios.
O acordo propõe que, para cada refugiado sírio reenviado à Turquia, a UE aceite um refugiado dos 2,7 milhões que se encontram na Turquia, com um teto de 72 mil lugares.
Protestos em toda a Europa
Tsipras, fragilizado no país pelo preço que teve que pagar pelas políticas de austeridade, também afirmou que serão respeitadas as regras humanitárias. "Não vamos fazer nenhuma concessão", assegurou. A juventude de seu partido, a formação de esquerda Syriza, convocou manifestações neste sábado para expressar seu descontentamento com o acordo, em sintonia com uma mobilização internacional.
Em Barcelona, milhares de pessoas saíram às ruas respondendo a uma convocação de sindicatos e associações civis com cartazes nas quais era possível ler frases como "Nenhuma pessoa é ilegal" e "Despertemos humanidade! Já não é tempo".
Em Tessalônica e Atenas, milhares de manifestantes protestaram. Em Viena, 2,5 mil pessoas se reuniram e em Genebra e em Zurique as mobilizações envolveram centenas de pessoas.
“Os refugiados necessitam de proteção”
O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) afirmou, nesta sexta-feira, que a forma de aplicação do acordo será "crucial". "Os refugiados necessitam de proteção, e não rejeição", completou a organização, em um comunicado.
A UE quer que o acordo desestimule as chegadas, mas também que a Turquia cumpra o trabalho de conter os migrantes que tentam cruzar o Mar Egeu. O primeiro-ministro grego disse esperar que a força da Otan mobilizada no final de fevereiro também cumpra um trabalho de "filtragem" dos migrantes.
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