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Nova credora do mundo, a China substitui o FMI para países endividados

A China ainda não está suplantando o credor universal, mas seu peso na gestão da dívida já é considerável. Tornou-se o segundo credor de última instância depois do Fundo Monetário Internacional. Um ganho de poder muito recente e extremamente discreto. Descobrimos a extensão disso graças a um estudo publicado na terça-feira (28), pela AidData – um estudo conduzido por um consórcio de pesquisadores ocidentais da Universidade de Harvard, do Banco Mundial e do Kiel Institute for the World Economy.

O prédio que abriga o Banco Popular da China em Pequim em 3 de março de 2023.
O prédio que abriga o Banco Popular da China em Pequim em 3 de março de 2023. AP - Mark Schiefelbein
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Dominique Baillard, da RFI

É preciso pesquisar as contas públicas dos países em questão para se ter uma ideia do fenômeno, porque Pequim não publica nenhum dado sobre seus empréstimos internacionais. Os pesquisadores estimam que Pequim emprestou US$ 104 bilhões a Estados em dificuldades entre 2019 e 2021, ou 40% dos valores emprestados pelo Fundo no mesmo período.

Foi durante esses três anos cruciais que a China se tornou um ator-chave nas crises da dívida. Os empréstimos concedidos nesse período representam quase metade do seu compromisso desde 2000.

Projetos faraônicos

Pequim começou contribuindo para o endividamento dos países em desenvolvimento, emprestando-lhes os meios para construir pontes, estradas, ferrovias, portos, toda a infra-estrutura de que careciam. Empréstimos concedidos muito rapidamente, em montantes impressionantes.

Mas no espaço de dez anos, a natureza desses empréstimos internacionais mudou completamente: 60% dos empréstimos chineses são agora usados ​​para resgatar países em dificuldades financeiras; 12 anos atrás, essa porcentagem era de apenas 5%.

A China, portanto, trocou seu capacete de construtor e principal credor pelo de bombeiro. Um bombeiro parcialmente incendiário. Esses projetos financiados na Rota da Seda são muitas vezes faraônicos e mal calibrados, do ponto de vista técnico e econômico.

Resultado: muitos países magnetizados por essa sorte inesperada viram-se estrangulados por esses projetos caros e, às vezes, completamente fracassados. Foi o que aconteceu no Sri Lanka e no Paquistão, entre outros. Portanto, é em parte para corrigir esses erros que Pequim está intervindo cada vez com mais frequência.

Ajuda a juros altos

A China quer ajudar os países que se tornaram seus aliados e, acima de tudo, apoiar seus próprios bancos que estão muito expostos nesses países. Ajuda, portanto, muito interessada e direcionada.

A China ajuda preferencialmente os países de renda média, que manterão a capacidade de pagamento. E, finalmente, uma ajuda lucrativa: o FMI concede empréstimos a 2%, enquanto os empréstimos chineses são a mais de 5%, com cláusulas comerciais e políticas que obviamente permanecem secretas.

Dito isso, a atitude chinesa não é muito original: os Estados Unidos praticaram taxas altas quando socorreram os Estados da América Latina na década de 1980. Um papel que a primeira potência mundial quase deixou de desempenhar.

De acordo com esse estudo, 22 países se beneficiam tanto de empréstimos chineses quanto de empréstimos do FMI. Isso vai do Egito à Argentina, passando pelo Suriname, Belarus, Venezuela, Ucrânia... Isso não significa, porém, que haja qualquer consulta entre as instituições de Washington e de Pequim.

A China favorece a negociação bilateral, protegida de observadores externos. Essa opacidade explica em parte a lentidão e a complexidade das recentes operações de resgate financeiro.

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