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Após maratona de reuniões em Pequim, delegação brasileira celebra acordos com empresas chinesas

A programação da viagem oficial da delegação brasileira à China termina nesta quarta-feira (29) com um seminário econômico em Pequim. A ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva adiou a assinatura de todos os acordos envolvendo empresas públicas. Mas isso não impediu que encontros de negócios fossem realizados durante toda a semana e, no final da manhã, o balanço dos primeiros acordos e parcerias assinados foi divulgado.

O presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, em encontro com autoridades chinesas em Pequim.
O presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, em encontro com autoridades chinesas em Pequim. © Divulgação/APEX
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Silvano Mendes, enviado especial da RFI a Pequim

“Estou até rouco de tanto fazer reuniões”. Esse comentário feito por um empresário brasileiro nos corredores de um dos hotéis de luxo de Pequim resume bem o balanço dessa visita oficial da delegação do Brasil na capital chinesa.

Mas como de costume nesse tipo de viagem, apesar da programação oficial, que em Pequim contou com um evento sobre o desenvolvimento sustentável na segunda-feira (27) e o seminário econômico Brasil-China nesta quarta-feira, tudo se decide realmente nas reuniões a portas fechadas, longe das câmeras. E o resultado desses encontros é uma lista de cerca de 20 acordos e parcerias em várias áreas. Um saldo que confirma o interesse dos chineses, que já são os principais parceiros comerciais do Brasil.

Diversos setores contemplados

Apenas a gigante da mineração Vale revelou sete acordos no final desta viagem, em áreas comerciais, mas também de pesquisa e de cooperação financeira. Entre eles, a empresa brasileira anunciou uma aproximação com a chinesa XCMG para desenvolvimento da primeira motoniveladora com "zero emissões de CO₂" do mundo, que permitirá, se bem-sucedido, a migração da frota de motoniveladoras da Vale nos próximos anos.

Já a Vale Indonésia assinou um acordo de investimento em projeto com a Tisco (grupo Baowu) e a Xinhai para a construção de uma planta de processamento de níquel RKEF. Um acordo de cooperação também será assinado entre a mineradora e a Baoshan Iron & Steel (empresa do grupo Baowu) para a produção de biocarvão e suas aplicações, visando soluções de descarbonização na indústria siderúrgica.

Todos esses projetos atestam a vontade de integrar a questão do desenvolvimento sustentável nas relações entre Brasil e China, um aspecto martelado pelos membros da delegação durante essa viagem. Confirmam essa tendência a parceria entre a Sinomec e a Sete Partners na área de energia renovável, ou ainda o memorando, também sobre energias renováveis, firmado entre a Motrice Soluções em Energia e a China Gansu International (CGICO), assim como os dois acordos anunciados pela brasileira BMV global com as chinesas HRH (Chongqing) e HRH Pharmaceutical.

Mas contratos mais tradicionais também foram anunciados. A empresa de celulose Suzano anunciou a assinatura de três acordos com parceiras chinesas. Os projetos visam a construção de 17 navios de transporte de celulose e produtos de base biológica com a COSCO, uma colaboração com a China Paper Company e o lançamento do Innovability Hub, na Cidade da Ciência de Zhangjiang, em Xangai.

A Odebrecht, a Power China e a Sete Partners se unem em projetos de infraestrutura no Brasil que não foram detalhados, assim como a Comexport, que se associa à Furui para a venda de produtos e soluções da empresa no mercado brasileiro. Já a Sete Partners e a Tianjing Food Group se unem para a criação de uma empresa binacional, visando ampliar investimentos na cadeia agrícola brasileira.

Sistema bancário

A Vale também assinou dois acordos com instituições bancárias chinesas. O Industrial and Commercial Bank of China (ICBC) e o Bank of China, vão cooperar com a empresa brasileira em linhas de crédito para mineração, também com ênfase na energia verde.

Ainda no setor financeiro, o Banco BOCOM BBM anuncia sua adesão ao CIPS (China Interbank Payment System), uma alternativa chinesa ao sistema Swift, visando reduzir os custos de transações comerciais com o câmbio direto entre real e yuan. O BOCOM BBM se torna assim o primeiro participante direto desse sistema na América do Sul. Além disso, a sucursal brasileira do Industrial and Commercial Bank of China passa a atuar como banco de compensação de yuan no Brasil, com o objetivo de facilitar a promoção do comércio bilateral e os investimentos em moeda chinesa.

Educação e incentivo

Na área da educação e da troca de expertise, a Vale também anunciou um intercâmbio de conhecimento técnico com a Universidade Tsinghua e um projeto de pesquisas científicas em siderurgia de baixo carbono com a Central South University (CSU). Já a APEXBRASIL, agência que promove o comércio do Brasil no exterior, lança um instrumento de cooperação com a Beijing Hycore Innovation visando apoiar startups brasileiras.

Nenhum valor de contrato foi divulgado pelos empresários. Além disso, os acordos envolvendo empresas públicas terão que esperar a visita do presidente Lula, ainda sem data marcada.

A Embraer, por exemplo, que há cinco anos não vende aeronaves para a China, estaria em plena discussão com Pequim, mas nada será assinado sem a presença dos dois chefes de Estado. “A negociação gira em torno de 20 aviões, com possível cooperação de técnica de serviços”, declarou, sem dar mais detalhes, o CEO da empresa, Francisco Gomes Neto, após sua participação no Seminário Econômico Brasil-China. “Nós estamos falando de um pedido de aviões, mas vai depender dessa visita do presidente para a gente ter essa confirmação”. Segundo ele, caso Lula estivesse em Pequim, esse acordo teria “uma boa chance” de ter sido anunciado.

Especula-se uma possível vinda do líder brasileiro a Pequim em maio, aproveitando a realização a Sial, a feira mundial de alimentação que acontece em Xangai. Mas a data de meados de abril chegou a circular nos corredores de Pequim, mesmo se ninguém confirma. Essa decisão, frisaram fontes da delegação oficial, depende muito mais do governo chinês e da agenda do presidente Xi Jinping, que multiplica os encontros com líderes internacionais atualmente.

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