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França homenageia Milan Kundera, "um gigante da literatura contra os totalitarismos"

A imprensa francesa desta quinta-feira (13) presta homenagem ao escritor tcheco naturalizado francês Milan Kundera, que faleceu em Paris há dois dias, aos 94 anos. A França se orgulha de ter sido, desde os anos 1970, lar do romancista que fugiu do regime soviético na antiga Tchecoslováquia.

Foto de arquivo do romancista tcheco-francês Milan Kundera, que morreu em Paris, em 12 de julho de 2023.
Foto de arquivo do romancista tcheco-francês Milan Kundera, que morreu em Paris, em 12 de julho de 2023. C.Héliz/Gallimard
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Estampando sua capa com uma foto de página inteira do romancista, o jornal Libération traz como manchete: "Milan Kundera: sua vida em outro lugar", em referência ao seu premiado livro "A Vida Está em Outro Lugar", de 1973. O diário dedica sete páginas a um dos escritores mais lidos no mundo, autor da célebre obra "A Insustentável Leveza do Ser", traduzida para mais de trinta línguas.

Libé resgata a história do romancista que se exilou no país após a repressão à Primavera de Praga, perdeu a nacionalidade tcheca em 1979, mas dois anos depois, radicado em Paris, foi naturalizado francês, durante o governo do presidente François Mitterrand. 

Libération também republica trechos de uma entrevista de Kundera ao jornal, em 1981, quando o romancista explicou ao diário o que o motivava a escrever. "É o prazer de contradizer, a felicidade de estar sozinho contra todos, a alegria de provocar seus inimigos e irritar seus amigos", respondeu ele.

Contra rótulos

Kundera também estampa a capa do jornal La Croix, com a manchete "Explorador da existência". "A Europa perde um grande mestre do romance, que recusava qualquer outro rótulo, mas também era uma testemunha única dos entusiasmos e tragédias do século 20". 

O diário retraça a trajetória do escritor, que se autoclassificava simplesmente como "romancista" e recusava qualquer etiqueta - comunista, dissidente, de esquerda ou direita. O espectro político de suas obras também era colocado de lado por ele, que preferia valorizar, antes de tudo, a crítica circunstancial de seu texto, como "um instrumento da exploração das inumeráveis possibilidades da existência", diz La Croix

A história de um século

"Um gigante da literatura contra os totalitarismos", afirma o jornal Le Figaro em sua chamada de capa. O diário lembra que, apesar de tentar minimizar o caráter político de sua obra, sua vida foi marcada pela "história de um século que viu o comunismo desmoronar". A desilusão do autor com a corrente stalinista, aliás, é tratada no seu primeiro romance, "A Brincadeira", de 1967.

Mas é na França, em 1984, que o autor conhece o estrelato, com o livro "A Insustentável Leveza do Ser", em que explora o conflito entre a autenticidade e o dever da lucidez, através da história de Tomas, Tereza, Sabina e Franz. Adaptado para o cinema quatro anos depois, na direção de Philippe Kaufman, a obra se tornou "a marca de uma geração", mas sua transformação em filme nunca foi bem vista por Kundera.

Para ele, esse legendário romance não era "nem melhor, nem pior do que os outros". Em uma conversa com o escritor italiano Massimo Rizzante, Kundera revelou: "Detesto best-sellers e acredito que esse romance não merece esse rótulo vergonhoso". 

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