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Milan Kundera, autor de "A Insustentável Leveza do Ser", morre em Paris aos 94 anos

O romancista tcheco-francês Milan Kundera, autor de "A Insustentável Leveza do Ser", morreu aos 94 anos, em Paris, deixando como legado uma imensa e célébre obra. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (12) pela porta-voz da biblioteca que leva o nome do escritor em Brno, sua cidade natal, na República Tcheca.  

O escritor tcheco-francês Milan Kundera, em 1980.
O escritor tcheco-francês Milan Kundera, em 1980. Elisa Cabot [CC BY-SA ]
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Grande voz da literatura mundial, Kundera faleceu na tarde de terça-feira (11), segundo um comunicado da editora francesa Gallimard. O motivo da morte seria "uma longa doença". 

Nascido na República Tcheca, o escritor se exilou na França em 1975, onde obteve cidadania em 1981. Sua nacionalidade tcheca foi retirada em 1979.

Pintor sarcástico da condição humana, escrevia na língua francesa e era considerado um dos autores contemporâneos mais influentes no mundo. Apesar do exílio, seus romances exploravam os dilemas existenciais de personagens em busca de identidade em uma Tchecoslováquia cinza e oprimida.

A Insustentável Leveza do Ser

Na época em que ainda vivia em seu país natal, Kundera publicou dois romances: "A Brincadeira" (1967) e "Risíveis Amores" (1968). Expulso duas vezes do Partido Comunista tcheco, o autor se recusava a produzir uma literatura exclusivamente política, considerada como testemunho do totalitarismo soviético. 

"O romancista não é nem historiador, nem profeta: é um explorador da existência", afirmou Kundera em 1987 em uma entrevista à revista literária Paris Review, negando se inscrever na escola de um realismo psicológico. 

Suas obras, marcadas pelo tom irônico, com pitadas eróticas e filosóficas, se ligavam a uma multiplicidade de pontos de vista. É o caso de seu maior sucesso, "A Insustentável Leveza do Ser" (1984), onde os personagens Tomas, Tereza, Sabina e Franz encarnam diferentes linhas morais diante da chegada de tanques soviéticos a Praga em 1968. A obra foi adaptada para o cinema em 1988, dirigido pelo cineasta Philip Kaufman, com Daniel Day-Lewis e Juliette Binoche no elenco.

"A vida humana acontece só uma vez, e não poderemos jamais verificar qual seria a boa ou a má decisão, porque, em todas as situações, só podemos decidir uma vez. Não nos são dadas uma primeira, segunda, terceira ou quarta chance para que possamos comparar decisões diferentes”, escreveu Kundera neste romance traduzido para mais de trinta línguas.

Músico de jazz e professor de cinema

Nascido em 1° de abril de 1929 em Brno, no sudeste da República Tcheca, Kundera era de uma família de classe média, filho de Milada Kunderova e do pianista Ludvik Kundera - o que lhe conferiu uma aptidão à música. Ainda adolescente, no final da Segunda Guerra Mundial, inicia sua vida política afiliando-se ao Partido Comunista, de onde foi expulso, pela primeira vez, em 1950. O episódio, que marcou sua vida, é descrito na obra "A Brincadeira". 

Após abandonar os estudos de literatura na universidade de Praga, começa a viver de bicos, tocando jazz em clubes, antes de se tornar professor no Instituto de Estudos Cinematográficos de Praga. 

Excluído pela segunda vez do Partido Comunista, em 1970, após a invasão soviética, Kundera publica o premiado "A Vida Está em Outro Lugar", seguido de "A Valsa do Adeus", antes de se exilar na França após a Primavera de Praga com sua esposa, Vera, célebre apresentadora de TV.  

Carreira literária

Em Paris, o escritor se dedicará exclusivamente à literatura e se afastará cada vez mais de seu país natal. Sua cidadania de origem será recuperada em 2019. No entanto, o autor está longe de ser uma unanimidade na República Tcheca, onde é considerado até hoje como uma figura ambígua. Em 2008, a imprensa local o acusou de ter denunciado um jovem desertor às autoridades comunistas em 1950. 

"Vivo plenamente na França, não me sinto um imigrante, um nostálgico que pensa sempre em seu país de origem", afirmou em 1987 ao canal suíço RTS, em uma das raras entrevistas concedidas à TV. De fato, desde os anos 1990, Kundera escrevia exclusivamente em francês. Seu último livro, "A Festa da Insignificância" foi publicado em 2014. 

"O romancista é aquele que, segundo Flaubert, quer desaparecer atrás de sua obra. Desaparecer atrás de sua obra quer dizer renunciar ao papel de homem público. Os grandes romances são sempre mais inteligentes que seus autores", defendia Kundera.

(RFI com agências)

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