Acessar o conteúdo principal

‘Brazilcore’: moda verde-amarela conquista passarelas e celebridades pelo mundo

A revista Vogue francesa publicou este mês em seu site uma reportagem sobre o Brazilcore, nome dado a uma moda baseada principalmente no uso de roupas que combinam as cores verde e amarelo. O texto explica que a tendência, que foi vista entre celebridades, mas também em algumas passarelas, perdeu a conotação política que a bandeira brasileira teve nos últimos anos, e agora tem como objetivo apenas homenagear o Brasil. 

Conhecido pelo uso de muitas cores em suas criações o estilista belga Dries Van Noten também fez a sua versão do Brazilcore, com o verde-amarelo em tons mais diluidos em algumas peças do desfile primavera-verão 2023.
Conhecido pelo uso de muitas cores em suas criações o estilista belga Dries Van Noten também fez a sua versão do Brazilcore, com o verde-amarelo em tons mais diluidos em algumas peças do desfile primavera-verão 2023. © Vianney Le Caer/Invision/AP - Vianney Le Caer
Publicidade

Silvano Mendes, de Paris

Quando a cantora Anitta subiu ao palco do Festival de Coachella, em abril de 2022, ela não imaginava o quão precursor seria o seu figurino. Com um top e um minishort nas cores da bandeira brasileira, ela antecipava uma tendência que, mais de um ano depois, está tomando conta das redes sociais, mas também das passarelas: o Brazilcore.

Em abril deste ano as revistas francesas Madame Figaro e Elle já alertavam em seus sites que uma “onda verde e amarela” estava invadindo as redes. “De jaquetas a tênis, a geração Z – nascida a partir do final dos anos 1990 – tem se vestido em massa com essas cores nos últimos meses. Qualquer coisa que se assemelhe às cores da bandeira brasileira está na moda no Instagram e no TikTok, sempre identificado com o termo Brazilcore”, explicava o artigo da Madame Figaro. Na época, as revistas já calculavam que o uso dos hashtags #brazilcore, #brasilcore, #brazialancore, #brazilcorefashion e #brazilcoretiktok nas redes ultrapassava mais de meio bilhão de menções.

Mas até então o fenômeno não ia muito além das modinhas habituais que dão ritmo às redes sociais. Afinal, desde Barbiecore, termo usado para as roupas inspiradas da boneca de mesmo nome, até o balletcore, para o estilo que imita trajes de bailarinas, os exemplos são numerosos de expressões que não têm vida muito longa e nem sempre vão além das telas dos telefones da geração Z. Ironicamente, apenas o normcore, termo popularizado em 2014 para identificar as roupas “normais”, ou seja, básicas, com cores sóbrias e sem muitos adornos, passou do fenômeno virtual para um verdadeiro elemento mercadológico.  

A cantora Anitta levou as cores do Brasil para o festival Coachella, em abril de 2022, antes que o Brazilcore fosse visto como uma moda.
A cantora Anitta levou as cores do Brasil para o festival Coachella, em abril de 2022, antes que o Brazilcore fosse visto como uma moda. Amy Harris/Invision/AP - Amy Harris

Mas uma reportagem, publicada no site da revista Vogue França, afirma que o #Brazilcore pode ir além de um simples hashtag. Segundo a publicação, que ainda é uma referência no mundo da moda, o Brazilcore vai se impor como uma das principais tendências do verão no hemisfério norte, que começa em algumas semanas.

A revista dá uma lista das celebridades internacionais que postaram imagens recentemente usando as cores da bandeira do Brasil, da modelo Hailey Bieber – que é filha de uma brasileira -, à também modelo Tina Kunakey – companheira de Vincent Cassel, um apaixonado pelo Brasil –, passando pela cantora Rosalía. Mas a reportagem da Vogue francesa lembra que a combinação entre do verde com o amarelo também foi vista nas passarelas nas últimas temporadas de desfiles, indicando que o Brazilcore tem chances de ir além do TikTok e do Instagram.

Se o estilista americano Rick Owens mistura um casaco amarelo com uma calça verde metalizada em sua coleção masculina primavera-verão 2023, o belga Dries Van Noten, célebre por seu domínio da mistura de cores às vezes improváveis, propõe amplas camisas em um discreto amarelo usadas com calças largas em um verde quase militar em sua coleção feminina da mesma temporada. Já a marca Diesel, sob a batuta de Glenn Martens, faz jus à sua pegada mais streetwear com uma minissaia-cinto amarela – já apresentada pelo belga em outras versões no passado –, combinada com uma malha verde.

Além dos exemplos citados pelas revistas, fora das passarelas, a modelo e influenciadora Emily Ratajkowski inundou as redes com fotos de sua passagem pelo Rio de Janeiro, quase sempre exibindo peças com as cores da bandeira. Em outro estilo, o Brasil também foi homenageado pelo estilista francês Stéphane Rolland, que fez um desfile de alta-costura inspirado na cultura brasileira. Mas nesse caso, as cores do país entraram na passarela em toques monocromáticos, com impressionantes vestidos verdes ou dourados.

Conotação política

Os jornalistas europeus lembram que, além da visibilidade da bandeira brasileira na Copa do Catar, mesmo se o país não foi até o final do mundial –, essa tendência é alimentada por uma sede de referências vintage que permeia o mundo da moda. Nesse caso, o Brazilcore teria sido fomentado pelas inúmeras fotos de Pelé, principalmente tiradas nos anos 1970, e que circularam pelas redes sociais no momento da morte do jogador, em dezembro passado.

Além disso, como a moda atual tem se inspirado muito no início dos anos 2000 (o chamado Y2K), as imagens da Copa de 1998, quando o Brasil enfrentou a França na final, também contribuíram para esse interesse pelas cores da bandeira. Sem esquecer outra moda, a do “blokecore”, tendência que consiste em usar camisas de futebol no dia a dia.

Mas tanto a Vogue como Elle e Madame Figaro não ignoram a conotação política que o uso do verde-amarelo teve nos últimos anos no Brasil, lembrando que essa tendência chegou a ser vista como “problemática” e “alvo de controvérsias”. Vogue explica a seus leitores que “depois de serem vistas como um símbolo anticorrupção, as cores da bandeira e das camisas da seleção nacional foram usadas como representação para protestos políticos de extrema-direita”.

Madame Figaro e Elle são mais explícitas e afirmam que a bandeira “foi monopolizada por partidários do ex-presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro”, que o chefe de Estado fez da camisa da Seleção “seu objeto preferido, de modo que vestir a camisa brasileira era um juramento de fidelidade a ele”, e lembra que, mesmo durante a Copa do Catar, alguns torcedores evitavam usar essas cores, “temendo ser confundidos com os partidários do presidente”.

No entanto, como ressalta a matéria da Vogue, 2023 está sendo um ano marcado pela “firme intenção de despolitizar as cores do Brasil para trazê-las de volta para simbolizar um país, e não mais um partido político”.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.