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Lido de Paris acaba com espetáculos e cabarés buscam novas alternativas para renovar o público

O Lido, um dos cabarés mais famosos de Paris, anunciou essa semana que vai demitir todas as suas bailarinas. A emblemática atração situada na avenida Champs-Élysées vinha registrando prejuízos e, como outras salas de espetáculo do gênero, vai tentar se diversificar em busca de um novo público.

O cabaré Lido, uma instituição famosa nos Champs-Elysées, deve fechar e ser substituído por uma sala de espetáculos musicais.
O cabaré Lido, uma instituição famosa nos Champs-Elysées, deve fechar e ser substituído por uma sala de espetáculos musicais. AFP - BERTRAND GUAY
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Desde 1946, quando foi criado, logo após a Segunda Guerra Mundial, o Lido atraiu franceses e turistas do mundo todo, encantados com os espetáculos musicais interpretados por bailarinas vestindo pouca roupa e muitas plumas. No entanto, os shows, que misturam dança, acrobacias e o tradicional cancan, parece não fazer mais tanto sucesso.

Apesar de modernizar as apresentações e tentar se adaptar aos novos tempos, o local vem perdendo receitas há anos, com uma queda de público flagrante. Cada vez menos visitantes estão dispostos a pagar os € 85 por pessoa (mais de R$ 430) pelo ingresso, com direito a uma taça de champanhe, ou os € 130 (cerca de R$ 660) pela tarifa que dá direito a um jantar. Além disso, estar na “mais bela avenida do mundo” tem um preço, já que o aluguel da sala é estimado em € 5 milhões anuais (mais de R$ 25 milhões).

Diante da situação, o Lido mudou de dono no ano passado e agora pertence ao grupo hoteleiro francês Accor, o sexto maior do mundo no setor. O novo proprietário já avisou que não pretende eliminar o espetáculo e anunciou na quinta-feira (19) a demissão de 157 dos 184 empregados, entre eles a companhia de balé do local. O grupo explicou que o modelo econômico “não é mais viável” e prometeu “fazer o possível” para reposicionar os funcionários.  

“Todos sabem que o Lido perdeu € 80 milhões nos últimos dez anos”, declarou nesta sexta-feira (20) o CEO da Accor, Sébastien Bazin. “Esse mundo que mantém um espetáculo durante cinco anos precisa de um olhar novo e precisa mudar”, disse ele, em alusão aos shows que não se renovam. “Trata-se de um endereço e uma história excepcionais, mas com um modelo econômico extremamente perigoso e nada perene”, completou o executivo, que apresentou um projeto de reorganização que prevê transformar o cabaré em uma sala de espetáculos clássica, aberta para shows musicais.

Tradição francesa

Os bailes de cabaré nasceram na França no final do século 19, quando a capital vivia uma efervescência cultural. Em plena Belle Époque, esses locais, que reuniam todas as classes sociais, permitiam comer, beber e assistir um espetáculo com preços mais acessíveis. 

Mais recentemente, na década de 1960, os cabarés se tornaram ponto de encontro das celebridades internacionais de passagem por Paris. Nomes como Maria Callas, Catherine Deneuve ou Elizabeth Taylor eram figuras presentes na plateia do Lido. 

  

A França conta atualmente com 220 cabarés, que empregam cerca de 5 mil pessoas. E todos tentam manter a tradição dos shows com dançarinas, alguns mais ousados que outros.

No entanto, alguns desses estabelecimentos sobrevivem principalmente graças aos turistas, franceses e estrangeiros. O setor sofreu com a pandemia de Covid-19: os espetáculos foram suspensos durante os períodos de confinamento e os visitantes estrangeiros desapareceram, e só agora estão retornando ao país. Estimativas apontam que, no primeiro trimestre desde ano, os cabarés franceses registraram uma queda de 26% do faturamento com relação a 2019, antes da pandemia.

Além disso, os espetáculos com corpos de mulheres expostos levantam cada vez mais a questão do sexismo, o que também ajudou a afastar uma parte da clientela.

Cabarés se adaptam

Mas alguns cabarés tentam se modernizar. O Paradis Latin, no bairro de Saint Germain, acrescentou vídeos e outros efeitos especiais, além de uma trilha sonora que se apresenta como mais moderna. Com uma capacidade para receber 350 espectadores por apresentação, ele visa menos os turistas estrangeiros, e atualmente recebe 80% de franceses na plateia. Mesmo assim, como os concorrentes, também acolhe ônibus de excursões vindos de várias partes do país.  

Espetáculo 'Forever Crazy', no Crazy Horse, onde os corpos são vestidos pelos efeitos luminosos.
Espetáculo 'Forever Crazy', no Crazy Horse, onde os corpos são vestidos pelos efeitos luminosos. © REUTERS/Susana Vera

O Crazy Horse, conhecido pelos espetáculos muito mais eróticos, com dançarinas praticamente nuas – mesmo se com os corpos sempre são cobertos por efeitos luminosos –, aposta em colaborações com coreógrafos famosos ou estilistas, além de shows mais intimistas. A sala forrada de veludo vermelho, que passou por uma grande reforma no ano passado, acolhe apenas 220 pessoas por apresentação, contra mais de 1.000 no Lido.

Dormir no Moulin Rouge

Já o Moulin Rouge, o mais conhecido da cidade, continua atraindo bastante público, em parte graças à publicidade gerada pelo filme de Bas Luhrmann em 2001. Mesmo assim, os organizadores do show investem cada vez mais nas atividades paralelas aos espetáculos, como o restaurante e o bar, em uma tentativa de atrair clientes que não se interessam apenas pelo que acontece no palco.

Além disso, o Moulin Rouge vem organizando operações inusitadas, como a parceria que fez com o site de aluguel de apartamentos AirBnB, na qual colocou à disposição de três casais, por €1 simbólico, uma noite no sotão do cabaré.

Coincidência ou não, os sortudos foram escolhidos na véspera do anúncio das demissões no Lido.

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