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"O piano órfão de seu nobre felino": jornal Libération homenageia Nelson Freire

O jornal Libération desta quarta-feira (3) presta homenagem a Nelson Freire, um dos maiores pianistas da música clássica, que faleceu no último domingo (1°), no Rio de Janeiro. A coluna assinada pelo jornalista Eric Dahan afirma que o músico brasileiro "sabia criar, longe do tumulto do mundo, o espaço necessário para que o discurso dos compositores que interpretava se desenrolasse". 

Reprodução da matéria publicada pelo jornal Libération desta quarta-feira (3), em homenagem ao pianista brasileiro Nelson Freire.
Reprodução da matéria publicada pelo jornal Libération desta quarta-feira (3), em homenagem ao pianista brasileiro Nelson Freire. © Reprodução/Libération
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Homem discreto, avesso à exibição e a entrevistas, Nelson Freire foi, durante muito tempo, "um segredo do piano". O brasileiro tocou com as maiores orquestras do mundo e se apresentou em concertos em mais de 70 países, mas permaneceu desconhecido do grande público. Em 2002, o músico rompeu um silêncio de mais de 25 anos em sua discografia e protagonizou uma brilhante volta à cena musical com a gravação de obras de Chopin: "uma bênção", diz o texto. 

No ano seguinte, Nelson Freire se dedicou a Schumann, "com uma mistura de doçura e loucura" e a Brahms, com uma gravação suntuosa de dois concertos. "Sua maneira de servir os compositores de forma superlativa e de abordar as obras com frescor, malícia e candura, permaneceram intactos", publica Libération.

Para o colunista, "na era da uniformização dos gostos e estilos de vida através do capitalismo, o leão do Rio continuava a preservar seu mundo interior". Em 2019, Nelson Freire interpretava Mozart "de maneira viva e sem excesso de sensibilidade", tocava Chopin "mais colorido do que nunca e voltado para a modernidade". 

Paixão pelo piano começou na infância

Libé também lembra os primórdios do pianista nascido com uma alergia generalizada: asma, eczema, intolerâncias alimentares, tendo como consequência uma primeira infância um tanto isolada que cedeu espaço à música. Aos três anos, tocava por instinto e foi destaque nos jornais de sua cidade natal, Boa Esperança (MG), ao realizar seu primeiro recital, aos cinco anos de idade. 

Aos 14 anos, em 1957, venceu o primeiro concurso de piano do Rio de Janeiro. Aos 15, recebeu uma bolsa do Estado para ir estudar música em Viena, e desde então começou a realizar concertos eletrizantes. "Poderíamos passar horas falando da ciência de seus pedais que desenhavam inúmeros planos sonoros, sua maneira elegante de deslizar seus impulsos vigorosos e arrepios oníricos", descreve o jornalista. 

Nos últimos anos, Nelson Freire foi submetido a operações devido a fraturas no braço e no ombro, depois de sofrer uma queda em uma rua do Rio. A essa tristeza se adicionou a pandemia de Covid-19 que o impediu de continuar se apresentando. A morte do pianista, aos 77 anos, foi anunciada há dois dias por seu agente, sem grandes precisões. 

"Sua performance inspirando imaginação e grandeza, seu eterno olhar de criança sobre o mundo, sua maneira de fazer borbulhar uma melancólica sonata como o mais eufórico dos champanhes, jamais serão substituídos", conclui.

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