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Morre Nelson Freire, um dos maiores pianistas da música clássica, aos 77 anos

Durante a vida, Nelson Freire foi um homem discreto, avesso a entrevistas. Mas sua genialidade marcou uma carreira de sucesso, “um dos maiores pianistas da segunda metade do século 20”, diz o site da rádio France Musique. Ele morreu na madrugada de domingo para segunda, em sua casa do Rio de Janeiro, aos 77 anos. A causa da morte não foi divulgada.

Nelson Freire, à esquerda, recebe um prêmio das mãos do francês Henri Salvador, em Cannes, 2/1/2005.
Nelson Freire, à esquerda, recebe um prêmio das mãos do francês Henri Salvador, em Cannes, 2/1/2005. PASCAL GUYOT AFP/Archivos
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Por Patricia Moribe

“Um monumento, um monstro sagrado do piano nos deixou”, diz France Musique. “Com ele se vai uma extravagância pouco comum no teclado, misturada a uma sensibilidade e expressividade raras”, continua o texto.

A Philarmonie de Paris, um dos principais palcos da música clássica na capital francesa, descreve Nelson Freire como um “músico fundamentalmente natural, com estilo sem qualquer afetação, detentor de uma técnica transcendental que parecia fluir sem o menor esforço. Ele confessa uma predileção por Brahms, compositor que lhe muito querido e que foi, há mais de 50 anos, objeto de seu primeiro disco solo”.

Mas, outros românticos também inspiraram o artista, acrescenta o texto: “sua chama e sua sensibilidade poética incendia as visões de Chopin, enquanto sua delicadeza e palheta de timbres ilumina as de Debussy”.

Em 2003, o cineasta João Moreira Salles conseguiu o feito de mostrar o pianista em um premiado documentário, intitulado Nelson Freire. O artista fala da sua infância, da dedicação dos pais, da professora Nise Obino, da admiração por Guiomar Novaes, que ele considerava como a maior pianista de sua geração. O filme também mostra a amizade e cumplicidade com a grande amiga argentina Marta Argerich, outro grande nome do piano.

Em 2003, ele participou de um concerto pedagógico com estudantes de música na sala da Maison de la Radio. Na época, ele comentou à RFI que gostaria que programas educativos como aquele acontecessem também no Brasil.

Em 2011, em outra entrevista para a RFI Brasil ele falou sobre os projetos da época, inclusive do álbum gravado com Marta Argerich. “Essa colaboração começou há muitas décadas, somos amigos desde 1959, quando cheguei à Europa – é minha melhor amiga, uma irmã, uma alma gêmea”, disse.  

Conversar com o piano

“O piano é como se fosse uma pessoa, que me acompanha desde sempre. Gosto de falar com o piano, como se fosse um alter ego”, acrescentou.

Nelson Freire nasceu em Boa Esperança (MG), em 18 de outubro de 1944. Começou a tocar aos três anos e aos cinco deu seu primeiro recital. Aos 12 anos ficou em sétimo lugar no Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro. O feito lhe rendeu uma bolsa de estudos conferida pelo então presidente Juscelino Kubitschek para estudar em Viena, com Bruno Seidlhofer.

Os prêmios e a carreira internacional se sucederam. Ele fez turnês pelo mundo todo, sob a batuta de grandes regentes, como Pierre Boulez, Lorin Maazel, Kurt Masur, André Previn, Valery Gergiev, Seiji Ozawa e Isaac Karabtchevsky.

Nelson Freire gravou álbuns para a Sony/CBS, Teldec, Philips e Deutsche Grammophon. Sua gravação dos 24 Prelúdios de Chopin recebeu o prêmio Edison.

O último trabalho lançado foi “Encores”, em outubro de 2019, para marcar os 75 anos de vida e 70 de carreira. Um mês depois o artista caiu em uma calçada de pedras portuguesas sem manutenção, no Rio, relata o site G1. Depois disso, Nelson Freire nunca mais gravou ou se apresentou em público.

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