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Festival de Cannes aborda temas polêmicos como aborto e eutanásia

São 24 filmes de temáticas completamente diferentes que competem pela Palma de Ouro na 74a edição do Festival de Cannes. Há os que optam por uma forma original, como foi o musical “Annette”, de Leos Carax, que abriu o evento. Mas outros adotam uma temática mais realista e atual, com assuntos como aborto e eutanásia. São os casos, respectivamente, de “Lingui” e “Tout c’est bien passé”.

André Dussolier (à esquerda), Sophie Marceau (centro) e François Ozon (à direita) durante a subida do tapete vermelho em Cannes, com o filme "Tout s'est bien passé" (7/7/2021).
André Dussolier (à esquerda), Sophie Marceau (centro) e François Ozon (à direita) durante a subida do tapete vermelho em Cannes, com o filme "Tout s'est bien passé" (7/7/2021). REUTERS - GONZALO FUENTES
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Patricia Moribe, enviada especial à Cannes

“Eu quero abortar”, diz Maria, de 15 anos, à mãe, Amina, no filme “Lingui, os laços sagrados”, de Mahamat-Saleh Haroun. Em muitos países, a concretização desse desejo seria puramente logística. Mas não no Chade, país onde o aborto é proibido pelas leis dos homens e também da religião muçulmana.

Amina, a mãe, entra em pânico, pois ela própria ficou grávida adolescente e foi abandonada não só pelo pai da criança, como também foi banida da própria família. A sociedade também a vê com maus olhos. A filha não quer repetir a história da mãe.

Amina trabalha retirando fios de pneus usados para construir cestos de frutas. Ela consegue inclusive pagar uma escola particular para a filha. Mas Maria é expulsa assim que correm os rumores de sua gravidez. Amina não ganha o bastante para pagar um aborto clandestino.

O filme, cuidadosamente construído, tem um grande trunfo na atuação de Achouackh Abakar Souleymane, que vive Amina. Entrevistada pela RFI, ela conta que a temática é importante e recorrente no Chade. “A mulher precisa escolher entre ter a criança e ser rejeitada ou abortar para ter uma vida normal”, conta.

“Lingui” traz à tona outros problemas vividos pela mulher chadiana, como a mutilação genital sofrida por meninas. No filme, o pai de uma menina comemora a excisão da filha.   

É a terceira participação do diretor Mahamat-Saleh Haroun em Cannes. “O aborto é proibido no Chade há muito tempo”, diz o cineasta. “Como é que uma jovem de 15 anos pode ter a perspectiva de uma vida sexual saudável se ela não dispõe de direitos sobre o próprio corpo? ”, pergunta.

Morte assistida com leveza e seriedade

Já a eutanásia é tratada com leveza e seriedade ao mesmo tempo em “Tout s’est bien passé” (deu tudo certo, em tradução livre), do francês François Ozon. O filme é baseado em uma autobiografia de Emmanuèle Bernheim.

O elenco é afinado. O veterano André Dussolier é o pai de 85 anos que, após um AVC, pede à filha que o ajude a morrer. Mesmo deformado pela doença, o patriarca não perde o espírito aguçado e provocador. Sophie Marceau vive a filha que, quando pequena, era desprezada pelo pai. O papel da mãe, altiva e rancorosa (ela foi traída pelo marido há décadas), é de Charlotte Rampling.

É a quarta vez que o prolixo François Ozon, 53 anos, é selecionado para disputar a Palma de Ouro. A sua filmografia não podia ser mais diversa, indo do musical, como em “Oito Mulheres”, para o drama de “Graças a Deus”, que trata da pedofilia dentro da Igreja católica, passando por thrillers, como “Piscina”.

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