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"Isabelle Huppert no palco é como ter Pelé em campo", diz dramaturgo no Festival de Avignon

“O Jardim das Cerejeiras”, de Anton Tchekhov, foi o destaque da abertura da 75ª edição do Festival de Avignon na noite desta segunda-feira (5). Dirigida pelo português Tiago Rodrigues, a versão do clássico ganha ares modernos e ecoa com questões contemporâneas. Mas o principal destaque do espetáculo foi a interpretação da estrela francesa Isabelle Huppert no papel principal. Uma performance que, mais uma vez, mostrou a capacidade da atriz de capturar a atenção do público.

Isabelle Huppert durante ensaio da adaptação de Tiago Rodrigues para "O Jardim da Cerejeiras", que abriu o Festival de Avignon
Isabelle Huppert durante ensaio da adaptação de Tiago Rodrigues para "O Jardim da Cerejeiras", que abriu o Festival de Avignon Nicolas TUCAT AFP
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Silvano Mendes, enviado especial a Avignon

Todos pareciam estar esperando por ela. Após uma fila gigantesca em meio a protestos dos profissionais do mundo da cultura exigindo mais direitos, inúmeras etapas de controles de segurança, apresentação de atestados de vacinação antiCovid e um momento de admiração diante da nova estrutura da Cour d’Honneur do Palácio dos Papas, essa impressionante fortificação da Idade Média que ganhou um sistema de arquibancadas mais moderno – e mais confortável segundo os habitués –, todos os 2.000 espectadores esperavam apenas uma coisa: ver Isabelle Huppert no palco.

A atriz dos mil e um papeis, nomeada ao Oscar e admirada por seus pares, se transforma em Lioubov, aristocrata decadente que volta para a Rússia falida, após ter passado anos exilada em Paris. A matriarca também já foi interpretada mil vezes, inclusive por Tonia Carrero no Brasil, em 2000. Mas Huppert a encarna pela primeira vez.

Porém, basta a atriz pisar no palco para que o público logo entende que Huppert não vai virar Lioubov e sim Lioubov se transforma em Huppert. O figurino verde e amarelo chama a atenção de longe, mas na verdade a francesa não precisa de artifícios externos para atrair os olhares. Apesar de sua pequena estatura, quando começa a atuar ela parece maior que o resto do elenco.

Os demais atores são excelentes. Principalmente Adama Diop, que faz o Lopakhine, milionário com sede de revanche social, que tenta comprar a propriedade de Lioubov e destruir o famoso jardim de cerejeiras, “onde seus pais trabalharam como escravos”, insiste o personagem, que no texto original era o filho de um serviçal. Mas os olhos do público e os projetores seguem Isabelle o tempo todo. Inclusive quando ela não faz “nada”, sentada num canto ou coberta com um lenço. Todos esperam sua próxima cena, sua próxima réplica, sua próxima estripulia, principalmente quando ela ganha ares de menina mimada saltitando, querendo que a festa não termine nunca, em uma atitude mais decadente, impossível.

 Alguns jornalistas se mostraram céticos diante do resultado final. Mas a pergunta principal é : “Ainda é possível criticar Isabelle Huppert ?”, como se questionava uma rádio francesa no dia da estreia. Com Lioubov, ela mostra que não.

“Isabelle Huppert é uma atriz com recursos técnicos imensos”, reconhece o diretor Tiago Rodrigues em entrevista à RFI, pouco antes da estreia. “É um pouco como ser técnico de futebol e ter o Pelé à frente. Não vamos dizer-lhe o que fazer, pois ele sabe fazer a mesma jogada de mil maneiras”, resume. “No entanto, apesar de ser um gênio do drible teatral, Isabelle Huppert tem também a capacidade de risco, de mergulhar nos desafios, de pesquisar. Ela tem uma coragem de palco invulgar”, finaliza.

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