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Misterioso tráfico de café envolvendo brasileiros na Paris da Belle Epoque é tema do livro Cafeína

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O escritor e jornalista brasileiro Maurício Torres Assumpção acaba de lançar Cafeína, seu segundo livro. A obra, publicada pela editora Leya, conta a história de personagens vindos do Brasil, reais e fictícios, que se encontram na Paris do final do século 19, tendo como pano de fundo um curioso esquema de tráfico de pó... de café.

O escritor e jornalista Maurício Torres Assumpção
O escritor e jornalista Maurício Torres Assumpção © RFI
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A Belle Epoque, nome dado ao período que vai do final do século 19 ao início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, era “bela” apenas para quem tinha dinheiro. Para os demais, a vida não era nada fácil. É o que entende rapidamente um dos personagens principais de Cafeína, o jovem Tino, filho de uma escrava brasileira e um padre francês.

“Ele vai descobrir que naquela época os porteiros dos prédios vendiam o acesso às latas de lixo para os sem-teto. Quem vivia na rua podia pagar um franco para ter acesso ao lixo, onde se podia encontrar coisas para comer ou para vender na indústria da reciclagem, que já existia”, conta Maurício Torres Assumpção. “E uma das coisas se que se encontrava era café, molhado e já coado. Esse pó de café era levado para o subúrbio de Paris, onde ficavam as torrefações, era secado e depois voltava para os bares de Paris”, explica.

Tino é um personagem fictício, mas o tráfico de café realmente existiu na Paris da época. E se Torres Assumpção, que mora em Paris, conhece bem o assunto é por que Cafeína é, de uma certa maneira, a sequência de seu primeiro trabalho como escritor.

No livro reportagem “A história do Brasil nas ruas de Paris”, publicado em 2015, o autor fez um inventário da passagem dos brasileiros pela capital francesa, de Santos Dumont a Heitor Villa-Lobos, passando Oscar Niemeyer e Eufrásia Teixeira Leite. Ao terminar o projeto, que foi finalista do prêmio Jabuti de 2015 (e inspirou um podcast na RFI), o autor se deu conta que alguns personagens – e todo o material de pesquisa acumulado – poderiam render um novo livro, desta vez uma ficção.

Dois mundos opostos se encontram

“Na escolha desses personagens que deixaram legado na França eu encontrei em Levallois-Perret, município do subúrbio de Paris, uma usina de torrefação, um prédio imenso, belíssimo, que foi construído por um barão do café do Vale do Paraíba, no final do século 19. Esse grande cafeicultor, milionário, fugiu do Brasil por causa de um crime de colarinho branco e veio para Paris, onde vai construir essa usina de torrefação de café, que existe até hoje. Essa foi a semente do livro Cafeína”, conta Torres Assumpção.

O barão é o outro personagem importante do livro, que vai cruzar o caminho de Tino e provocar um encontro entre dois mundos opostos: o de um jovem mestiço, pobre, acusado de um crime que não cometeu, e o de representante da elite brasileira da época, que tenta, na Europa, virar a página das acusações de corrupção no Brasil.

“A parte mais difícil foi tirar o chapéu de jornalista e colocar o chapéu de romancista”, conta o autor, que passou cerca de três anos revendo e adaptando todo o material histórico de seu primeiro livro. Para ele, esse foi o principal desafio do projeto. “O estilo do texto muda. E para que você convença as pessoas de que aquilo que você está falando é verdade, sem usar um texto objetivo de jornalista, é muito difícil.”

Mas o resultado parece ter dado certo. Cafeína foi finalista do prêmio Rio de Literatura de 2019.

Assista a entrevista completa no vídeo acima.

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