Reportagem sobre feminicídio na França recebe prêmio em festival de fotojornalismo

Uma reportagem de investigação sobre o feminicídio na França feita pelo jornal Le Monde recebeu o prêmio Visa de Ouro de informação digital, durante o festival de fotojornalismo Visa pour l'Image, que acontece em Perpignan, no sul da França. A premiação tem apoio do grupo France Médias Monde, do qual a RFI faz parte.

"Maureen, 28 anos, golpeada até morrer pelo namorado", diz frase de protesto em Paris (6/11/2019). AFP - LIONEL BONAVENTURE

Enviada especial a Perpignan

Durante um ano, um grupo de 11 jornalistas do jornal Le Monde se debruçou sobre o triste fenômeno do feminicídio, crime cuja incidência na França aumentou 11% em 2019. A fotojornalista Camille Gharbi acompanhou os repórteres em campo e o resultado – "Feminicídio, mecanismo de um crime anunciado"- pode ser consultado no site de Le Monde. A reportagem foi publicada em suplemento especial de 14 páginas no início de junho.

"Foi um intenso e longo trabalho de investigação", disse a repórter Lorraine de Foucher à RFI, lembrando que geralmente são os escândalos financeiros que podem ser exaustivamente trabalhados, como no caso dos "Panama papers", reportagem internacional a respeito de paraísos fiscais e fortunas ilícitas. 

"O objetivo foi tratar a fundo esse importante tema de sociedade que é a dominação masculina", explica Lorraine de Foucher. "Pudemos trabalhar sobre os sinais de alerta", continua. "Até então reinava uma certa ideia geral de que o feminicídio era resultado de um acesso de loucura, de duas pessoas que se amam demais e que, de repente, perde-se o controle", diz.

Pistas até concretização do ato

"Na verdade, queríamos mostrar que se trata de uma engrenagem, uma forma de radicalização que, antes de se concretizar, vai dando pequenas pistas que todos nós, como cidadãos, podemos detectar", explica a jornalista. Ela conta que várias vezes magistrados e policiais falaram de "crime passional, de histórias de amor que perdem o controle". O grupo de jornalistas, no entanto, adotou um "método clínico, factual, sem ser levado pelas emoções". 

"Acho que o resultado foi ainda mais forte porque chegamos perto do coração do reator nuclear que existe nesses tipos horríveis de assassinato", diz Lorraine de Foucher.

O jornal Le Monde vai doar o prêmio de € 8.000 para a Maison des Femmes, casa das mulheres, ao norte de Paris, que acolhe mulheres vulneráveis ou vítimas de violência.

O festival Visa pour l'Image de fotojornalismo acontece em Perpignan, sul da França, até 27 de setembro.