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Cannes virtual: cineastas em quarentena no Brasil apresentam projeto de filme

O projeto de documentário brasileiro "Babylon" foi um dos escolhidos para participar neste ano do programa “Fabrique Cinéma”, do Instituto Francês para a Promoção do Cinema dos chamados países do sul ou emergentes. Mas a pandemia chegou de repente e o mundo teve de se adaptar. O diretor Chico Bahia e a produtora criativa Alice Riff, em quarentena em São Paulo, falaram à RFI sobre o filme e como estão trabalhando com o projeto no mercado internacional.

Cena de Babylon
Cena de Babylon © Divulgação
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“Fabrique Cinéma” é realizado em colaboração estreita com o Festival de Cannes, que este ano acabou sendo cancelado por causa da pandemia do coronavírus. Por causa do contexto sanitário, os encontros entre cineastas e produtores do mundo todo acontecem de forma virtual.

Primeiro longa-metragem de Chico Bahia, "Babylon" acompanha o haitiano Espera, que vive há cerca de oito anos no Brasil. Ele deixou o Caribe após o avassalador terremoto que destruiu o Haiti em 2010, matando centenas de milhares de pessoas.

“Todo mês, o Espera precisa mandar dinheiro para a filha, que ficou no Haiti. Por isso, ele está sempre na correria, na vida louca. Ele já trabalhou na construção do estádio Itaquerão e vendeu cerveja nas ruas de São Paulo. Agora está vendendo ímã de geladeira e sempre tem uma ideia diferente. A gente se conheceu quando ele foi, entre essas tantas ocupações, assistente de câmera”, relembra Bahia.

Francisco Bahia, diretor de Babylon
Francisco Bahia, diretor de Babylon © Divulgação

Trama traz discussões sobre espiritualidade

Um dia, Espera recebe um telefonema de uma amiga que pede que ele reconheça o corpo de um conterrâneo. “Traz a câmera”, disse o haitiano ao cineasta. As cenas mostram o personagem em confronto direto com suas raízes e a crença no vodu.

“A autópsia levantou a suspeita de um crime de ódio”, conta Bahia. “Isso fez também com que Espera experimentasse a vulnerabilidade da comunidade haitiana no Brasil, cada vez mais mergulhada em uma insegurança jurídica”, relata.

A produtora criativa Alice Riff já tinha filmado um curta e um longa a respeito de um jovem boliviano em São Paulo, o que a aproximou do projeto de "Babylon". “A temática da imigração é muito forte na produção contemporânea, até porque é uma discussão quente e atual. Mas o que me chamou a atenção no projeto foram elementos que traziam frescor para o debate, para se pensar cinema, documentário, com um personagem muito forte”, explica.

Alice Riff, produtora criativa de Babylon
Alice Riff, produtora criativa de Babylon © Divulgação

Chico Bahia conta que o tema da imigração o interessa há um bom tempo. “Sou geógrafo de formação e participei de muitos grupos de pesquisa a respeito. Espera está vinculado a esse fenômeno mais recente, que trouxe ao Brasil africanos, haitianos, bolivianos”, explica.

O título “Babylon” é por conta de uma canção que o Espera e seu amigo Ralph, que é músico, compõe ao longo do filme. “Na letra eles falam sobre a condição de um imigrante negro no Brasil e retomam a imagem dessa cidade bíblica, a Babilônia, uma cidade cosmopolita, construída por imigrantes do mundo inteiro que sucumbe. De certa forma acho que eles estão falando sobre São Paulo”, explica Chico Bahia.

"Babylon" já tem cerca de 30% de cenas filmadas. “As filmagens começaram desde a fase de pesquisas, há dois anos, temos material para um primeiro ato”, diz o diretor. “Estamos esperando retomar o trabalho, com o financiamento necessário, para fazer a investigação sobre o Wilfrid, o amigo do Espera”, acrescenta.

Entender novas formas de produzir

A respeito das dificuldades de se filmar no Brasil, Alice Riff conta que “é importante o Brasil participar de encontros e conversar com pessoas de outros países, de outras realidades. Não só falar para explicar o que acontece no Brasil, mas também para entender novas formas de produzir”.

A produtora avalia que os eventos promovidos pela "Fabrique Cinéma" têm dado certo. “É claro que não é a mesma coisa que os encontros ao vivo, mas estamos conhecendo outros projetos, conversando com pessoas do setor”, conta. “O importante é que, neste momento em que estamos todos trancados, haja uma troca de ideias por buscas de alternativas”.

 “O meu filme é uma forma de investigar o tema, a partir de um olhar muito pessoal, e de se aprofundar na vida dessas pessoas para ver como enxergamos nossa própria sociedade”, reflete Bahia. “E também para nos fazer pensar a respeito desses fluxos globais que estão sendo criados e reinventados a cada dia. É uma forma de se pensar o Brasil atual e o futuro que a gente tem pela frente”, avalia.

“Fabrique Cinéma” tem parceria do grupo France Médias Monde, do qual a RFI faz parte.

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