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Brasil-Mundo

Com acervo espetacular, Museu do Oscar em Los Angeles tem curador brasileiro

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Bernardo Rondeau é um dos principais programadores de mostras de Hollywood e será responsável pelos cinemas do Museu da Academia. O local ainda está em obras, com tapumes, vidros cobertos com papel para ninguém sequer espiar o que há dentro. Mas, quem passa na frente, não tira os olhos do imponente prédio, de canto arredondado dourado e esfera de vidro.

Bernardo Rondeau é um dos principais programadores de mostras de Hollywood e será responsável pelos cinemas do Museu da Academia.
Bernardo Rondeau é um dos principais programadores de mostras de Hollywood e será responsável pelos cinemas do Museu da Academia. Cleide Kloc/ RFI
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O Museu da Academia está sendo construído em um dos principais cruzamentos da cidade, em um edifício de 1939 simbólico de Los Angeles, da antiga loja de departamentos May Company. Foi remodelado pelo italiano Renzo Piano e anunciado como a principal instituição cinematográfica do mundo, com data de inauguração marcada para 14 de dezembro de 2020.
A Radio France Internationale foi conhecer as obras e, já na entrada, o tamanho do saguão impressiona. Ainda está tudo vazio: os trabalhos nesse dia estavam na sala à direita, na chamada The Spielberg Family Gallery, uma homenagem ao diretor Steven Spielberg, que doou US$ 10 milhões para o projeto.
Mas nosso tour tem como objetivo chegar aos cinemas do museu – e quem nos levou foi Bernardo Rondeau. O carioca, formado em cinema em Nova York, mora desde 1987 nos Estados Unidos e trabalha há cinco anos na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Ele é o curador das duas salas de projeção de filmes do novo museu.

Cinemas espetaculares

Na primeira parada, nos levou para o conhecer o Ted Mann Theater, uma sala de 288 lugares que já está com todas as poltronas verdes colocadas. As obras do telão estão no fim.
"Do mesmo jeito que as nossas galerias vão explorar histórias diferentes do cinema, nessas duas salas também mostraremos filmes do mundo inteiro, vamos celebrar não só atores e diretores mas também outras pessoas que trabalham na área como roteiristas, cenografistas, para poder explorar todos os elementos usados para criar esta arte colaborativa que é o cinema, nessa história que tem mais de 100 anos", adianta o curador.

Imensa sala principal de projeções é toda vermelha.
Imensa sala principal de projeções é toda vermelha. Cleide Klock/ RFI

A intenção nessa sala menor é ter programação diária conectada ou não com as mostras paralelas que vão acontecer no museu. "A nossa primeira exposição temporária vai ser sobre Hayao Miyazaki, o grande diretor japonês. Vamos, obviamente, mostrar todos os filmes que ele dirigiu e os outros filmes do estúdio que ele ajudou a produzir, o Ghibli”, explicou o brasileiro.

“Esse é só um exemplo simples desse tipo de relação entre os nossos cinemas e o que estará acontecendo nas galerias. Mas nós também vamos explorar diretores ou elementos do cinema que talvez não estejam nas galerias", disse. Uma retrospectiva de Federico Fellini já está programada para esta sala.
O passeio continua na sala principal – que é de cair o queixo. A entrada é por baixo do telão. Na subida, a impressão é de que entramos no túnel mais vermelho que alguém possa imaginar – tapete, parede e teto. Mas o "uau" vem na sequência, quando se vê a grandiosidade e a suntuosidade da sala de mil lugares, também vermelha do chão ao teto.

Nova atração em Los Angeles

Segundo o curador, essa sala será para eventos especiais que precisam de lugar para grandes públicos, como conversas com cineastas, grandes lançamentos, projeção com orquestra (60 lugares) ou mostras de filmes em nitrato de celulose, uma película muito rara e altamente inflamável usada nos primórdios da história do cinema, que poucas salas ao redor do mundo têm capacidade de apresentar. Ficará longe do circuito regular e, para se manter fiel à época, não tem bancos reclináveis ou suporte para copos. Um cartaz do lado de fora avisa que apenas água é permitida dentro do teatro.
Se por dentro é um luxo só, por fora a sala enfeita Los Angeles com uma esfera de vidro de 36 metros e o terraço Dolby Family, de onde é possível ter uma vista de 180 graus da cidade, incluindo as colinas e o letreiro de Hollywood.

Projeção mostra como deve ficar o Museu do Oscar de Los Angeles.
Projeção mostra como deve ficar o Museu do Oscar de Los Angeles. Divulgação

Brasil no museu

É nesse cenário que Rondeau tem entre suas prioridades mostrar o Brasil para o público americano. O curador chegou aos Estados Unidos quando tinha oito anos e descobriu o cinema brasileiro apenas na faculdade, quando teve acesso à produção de Glauber Rocha e se encantou por Terra em Transe (1967).

"Me preocupa muito que o americano não conheça do cinema brasileiro apenas alguns filmes dos últimos 20 anos, mas não a sua história. Talvez já ouviram o temro Cinema Novo, obviamente conhecem Carmen Miranda, mas eles não sabem da história completa do filme brasileiro. Eu queria muito apresentar programas diferentes sobre o cinema clássico brasileiro, o Cinema Novo, cinema Marginal e o cinema contemporâneo."
Rondeau diz que gostaria de fazer pelo menos uma grande mostra sobre o país logo no início da programação do museu. Entre os cineastas brasileiros contemporâneos favoritos, cita Kleber Mendonça Filho e Gabriel Mascaro.

Bernardo Rondeau nasceu num ambiente ligado à cultura - sua mãe é uma das duas únicas brasileiras que fazem parte da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, que organiza o Globo de Ouro.
Bernardo Rondeau nasceu num ambiente ligado à cultura - sua mãe é uma das duas únicas brasileiras que fazem parte da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, que organiza o Globo de Ouro. Cleide Klock/ RFI

Antes de ser curador da Academia, Rondeau trabalhava na programação dos filmes do LACMA (Los Angeles County Museum of Art), um dos principais museus de Los Angeles. Lá, chegou a organizar em 2009 uma mostra retrospectiva sobre o cineasta coreano Bong Joon Ho, que arrematou as principais estatuetas na cerimônia do Oscar deste ano, entre elas a de melhor filme e melhor diretor, por Parasita.
Filho de dois jornalistas, Ana Maria Bahiana e José Emilio Rondeau, que cobriram durante décadas o circuito cultural de Hollywood, Bernardo disse que cresceu entre livros, numa casa cheia de arte, que deu a ele essa visão de que "sempre há mais a aprender e descobrir sobre o passado, presente e futuro”.

“Meus pais cobriam música e cinema, eu fui a muitos lançamentos de filmes e cerimônias e isso fez com que eu nunca me sentisse intimidado por esse lado de Hollywood. Nunca senti que isso seria algo distante, mas que era possível", diz o curador. A mãe dele, Ana Maria Bahiana, é uma das duas únicas brasileiras que fazem parte da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, que organiza o Globo de Ouro.

Um projeto quase centenário

A vontade de construir um Museu da Academia surgiu nos primeiros dias da organização de 92 anos e teve um longo caminho até a execução do projeto de US$ 388 milhões. Deste montante, 95% já está garantido, principalmente por meio de doações de estrelas de Hollywood.
O prédio não foi desenhado para abrigar a grande festa do Oscar, mas sim para ser um espaço para contar a história da Sétima Arte e da política da competição mais acirrada do cinema.
A instituição tem adquirido ativamente objetos: são mais de 230 mil filmes, 12 milhões de fotografias, 80 mil roteiros e 100 mil elementos de produção. Há inúmeras raridades como os sapatinhos usados por Judy Garland em O mágico de Oz (1939), o vestido de Salma Hayek em Frida (2002) e a estatueta recebida por Shirley Temple em 1935, por sua contribuição como artista juvenil em oito filmes.
O acervo da Academia conta com o vestido usado por Sônia Braga em O Beijo da Mulher Aranha (1985), um filme com testes de figurinos de Carmen Miranda e cartazes de filmes brasileiros antigos, como O Caso dos Irmãos Nave (1967).
Além das exposições, o público poderá também participar de uma experiência em realidade virtual sobre a premiação do Oscar, que vai colocar os visitantes no tapete vermelho mais famoso do mundo, onde poderão treinar um discurso de agradecimento com a estatueta na mão.

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