Em um ano, Filarmônica de Paris recebe mais de 1 milhão de visitantes

Se em janeiro de 2015 a nova Filarmônica de Paris foi inaugurada sob imensa polêmica, ela chega ao fim do ano consagrada, celebrando a marca de mais de 1 milhão de espectadores satisfeitos.  O enorme complexo teve a inauguração boicotada por seu arquiteto, Jean Nouvel, mas acabou se mostrando à altura do desafio de reunir a maior sala de espetáculos da cidade a um complexo pedagógico cultural. Além dos concertos, cuja média de lotação ultrapassou os 95% dos 2,4 mil lugares, exposições como "Marc Chagall et la Musique", ainda em cartaz, e "David Bowie Is" (3 de março a 31 de maio), estiveram entre as mais concorridas do calendário parisiense.

A nova Filarmônica de Paris, vista a partir do Parque La Vilette © Montagu-Pollack

O recorde de público foi uma espécie de redenção para uma inauguração turbulenta: a obra atingiu um custo de € 386 milhões, quase o triplo do orçamento original de € 136 milhões, e, mesmo assim, não estava terminada na estreia, em 14 de janeiro. Recaiu tacitamente sobre o "preciosismo" do arquiteto esta disparidade entre previsão e prática, mas Jean Nouvel se defendeu em abril, dizendo que havia apontado desde 2007 que o orçamento não era realista. Ele convocou uma coletiva de imprensa, em que denunciou a prática do mercado de cortar as estimativas de custo pela metade para conseguir a aprovação dos projetos pelo ministério das Finanças.

Além disso, não fosse o rigor de Nouvel, dificilmente o prédio instalado no coração do 19° distrito da capital poderia oferecer o que o presidente da instituição, Laurent Bayle, chamou, em entrevista à RFI, de "um novo modelo de transmissão de música". Ele se referia não apenas à acústica envolvente, que aproxima o público dos músicos, mas do fato de que a Filarmônica dispõe de um espaço pedagógico que procura apagar as fronteiras entre o artista e o espectador. É lá, por exemplo, que instrutores contam, a crianças, adultos e velhos, a história dos instrumentos e dos sons que compõem as sinfonias.

Marie-Hélène Serra, diretora do polo pedagógico da Filarmônica, explica que para os pais, o espaço permite introduzir as crianças ao universo musical. Os adultos podem usar a estrutura para discutir com leigos e especialistas o que sentiram nos concertos. Esses debates, que ocorrem logo depois das apresentações, são disponibilizados na web, em formato de podcast. "A ideia é que a música seja vivenciada de forma compartilhada", conta.

Reinventar a relação do público com a arte

Bayle vai além e explica que a verdadeira motivação do espaço é reinventar a experiência da fruição artística. "Sempre trabalhei no meio musical e sempre me interessei pela alta qualidade, pelos parâmetros e regulamentos internacionais. Encontrei, em minha trajetória, salas com acústica excepcional, concebidas em épocas diferentes, desde lugares históricos como o Musikverein de Viena até modernos, como a Filarmônica de Berlim, construída no início dos anos 1960. Mas eu analiso a acústica em relação com outro elemento que é a verdadeira razão de ser da Filarmônica de Paris: a necessidade de inovar. Não é uma casa de concertos, é muito mais."

A Filarmônica ainda conta com um restaurante com vista para a cidade e um labirinto de salas anexas, incluindo um estúdio de gravação e outro, grande o suficiente para receber um ensaio completo da Orquestra de Paris, com direito a 150 coristas. Nestas salas, também acontecem master classes e cursos práticos de música, em uma programação que triplicou a oferta de ateliês na Cité de La Musique.

Ainda que a Filarmônica tenha reservado a festa de seu primeiro aniversário, no próximo 14 de janeiro, para revelar os números oficiais deste ano de funcionamento, a superação de 1 milhão de visitantes mostra que existe demanda na sociedade por esse formato de complexo cultural.