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Spray nasal biomolecular bloqueia ação do coronavírus, dizem cientistas franceses

A descoberta foi divulgada na sexta-feira (28) pelo pesquisador francês Philippe Karoyan, do Laboratório de Biomoléculas da Sorbonne e do instituto de pesquisas francês CNRS. O cientista e sua equipe identificaram três peptídeos que impedem que o SARS-Cov-2 atinja as células pulmonares. Usados em spray ou em forma de comprimidos, eles impediriam a contaminação e dependem de financiamento para chegar ao mercado até dezembro.

O coronavírus usa proteína Spike para penetrar nas células
O coronavírus usa proteína Spike para penetrar nas células (Photo By BSIP/UIG Via Getty Images)
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Para penetrar nas células humanas, o SARS-Cov-2 utiliza a proteína Spike, que funciona como uma chave no processo infeccioso. Quando alguém entra em contato com o coronavírus, a Spike utiliza uma enzima conhecida como ECA (enzima conversora da angiotensina), para se encaixar e replicar, atingindo as células pulmonares. Esse receptor está situado na membrana de vários órgãos, como coração, rins, artérias e no aparelho digestivo.

Esse processo foi descrito por pesquisadores chineses e americanos em diversas pesquisas, que também detalharam a estrutura que permite visualizar a interação entre a Spike e a enzima receptora em nível molecular. Esse foi o ponto de partida do estudo da equipe do cientista francês, que se dedica principalmente à concepção de peptídeos terapêuticos contra o câncer.

A ideia foi utilizar esse know-how no desenvolvimento de receptores batizados de “fechaduras falsas”, que enganassem o vírus e pudessem bloquear sua ação. “Conseguimos identificar as zonas de contato importantes entre a proteína do vírus e seu receptor humano, que chamamos de "chave" e "fechadura". Construímos fechaduras falsas utilizando algoritmos matemáticos, que nos permitiram calcular a estrutura de 160 delas”, explicou o cientista à RFI Brasil.

Os pesquisadores então fabricaram 25 peptídeos em laboratório e testaram a capacidade deles de bloquear a replicação do coronavírus. “Três são extremamente eficazes para impedir a propagação do SARS-Cov-2 nas células pulmonares”, afirma Kayoran.

Outro resultado que surpreendeu a equipe é que, nos testes realizados em células humanas, os peptídeos, mesmo em doses extremamente fortes, não eram tóxicos. O produto foi sendo aperfeiçoado ao longo da pesquisa. “Construímos peptídeos pequenos, otimizamos a estrutura tridimensional e também melhoramos o produto para que não houvesse reações alérgicas. Provamos que era possível bloquear a infecção das células pulmonares pelo SARS-Cov-2”, declarou.

O professor Philippe Karoyan, do laboratório de Biomoléculas da Sorbonne, em Paris.
O professor Philippe Karoyan, do laboratório de Biomoléculas da Sorbonne, em Paris. © (Arquivo pessoal)

Spray nasal

Os cientistas franceses agora esperam obter o financiamento para testar o produto em modelos animais e humanos, como exige o protocolo científico, e em seguida desenvolver um medicamento preventivo. A descoberta já foi patenteada. A ideia agora é criar um spray para o nariz, que deverá ser aplicado em média a cada duas horas para proteger o usuário de uma eventual contaminação. Ele poderá ser carregado no bolso, em um pequeno frasco, e basta renovar a aplicação em situações de risco, onde as medidas de proteção são pouco aplicadas.

Philippe Karoyan acredita que o produto possa chegar ao mercado até dezembro, caso a equipe obtenha o financiamento necessário. “A solução que estamos propondo é uma alternativa ou um complemento da vacina”, reitera. Além do spray, o produto também poderá ser comercializado em forma de comprimidos que dissolvem na boca.

“Demostramos a ausência de toxicidade in-vitro, em células humanas, mas agora, para os testes em animais e humanos precisamos de investidores”, reitera o cientista francês, que lamenta a falta de interesse do governo francês pelas iniciativas científicas, o que obriga os pesquisadores do país a buscar recursos em outros países, como os Estados Unidos, por exemplo. "A gente só precisa de dinheiro", reitera.

 

 

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