A revista francesa L’Obs desta semana traz uma reportagem sobre a evolução do conceito de velhice no mundo contemporâneo. Baseado em um estudo publicado recentemente por pesquisadores austríacos, o texto questiona o que significa ser idoso nos dias de hoje e a partir de que idade alguém pode ser considerado velho.
Oficialmente, segundo as Nações Unidas, uma pessoa é classificada como idosa a partir de 65 anos. Baseado nesse parâmetro, a reportagem calcula que os chamados “seniors” representariam 703 milhões de indivíduos no planeta e que esse número deve dobrar nos próximos 30 anos.
No entanto, explica a revista L’Obs, a própria ONU começa a questionar esse cálculo. A instituição reconhece que dados como o risco de mortalidade, a produtividade e outras características socioeconômicas mudaram no último século em várias partes do mundo, e que essas transformações devem ser levadas em conta quando se define o que é ser idoso.
Como a ONU, a comunidade científica questiona os critérios da velhice. Um estudo publicado esta semana por Warren Sanderson e Sergei Scherbov, dois pesquisadores do Centro Wittgenstein para a demografia e o capital humanos mundial da Universidade de Viena, na Áustria, analisa os parâmetros das Nações Unidas. Eles defendem que a maneira ideal se medir a velhice é se basear na esperança de vida, e não em uma idade precisa. Para os cientistas, é considerado velho alguém que tem uma esperança de vida de 15 anos pela frente.
Partindo desse método, a velhice deixa de ser uma questão de idade para se tornar uma questão de contexto. Na França, por exemplo, as mulheres tem uma esperança de vida de 92 anos e os homens, de 84 anos. Então, se levarmos em conta o cálculo dos 15 anos, em média, que restam a ser vividos, podemos dizer os franceses são considerados velhos apenas a partir do 70 anos, entre os homens, e 75, entre as mulheres.
Ricos vivem mais que pobres
“As pessoas envelhecem de maneira diferente em função do lugar onde vivem e dos subgrupos aos quais pertencem”, frisam os pesquisadores austríacos. Além da localização geográfica, a categoria socioeconômica pesa na balança. Um estudo norueguês aponta que entre os homens que fazem parte do grupo de 1% das pessoas mais ricas e os 1% mais pobres há uma diferença de 14 anos na esperança de vida.
Mas se os parâmetros mudam em função do país e das condições financeiras, para que definir uma idade a partir da qual alguém é considerado “sênior”? Segundo a reportagem da L’Obs, “essa classificação é necessária para os governantes”, pois ela é importante para entender não apenas como as populações envelhecem, mas também para preparar o sistema de saúde e de financiamento das aposentadorias dos velhinhos, entre outros aspectos.
Por essa razão, os pesquisadores austríacos preconizam que as instituições deixem de lado a questão da idade (de 65 anos) e se baseiem nos 15 anos de esperança de vida. Afinal, é durante essa última fase da existência que um cidadão pode precisar mais do apoio da sociedade.
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