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Saúde em dia

Selfies fazem aumentar procura de jovens por plástica de nariz, diz cirurgiã

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Rosto na tela do celular muda percepção de adolescentes sobre o próprio rosto, diz a cirurgiã Suzy Vieira, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

Selfies criam imagem distorcida do rosto, explica a cirurgiã plastica Suzy Vieira
Selfies criam imagem distorcida do rosto, explica a cirurgiã plastica Suzy Vieira Foto: (Reuters)
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Um dos grandes desafios que os cirurgiões plásticos enfrentam no dia a dia, no caso de intervenções estéticas, é a busca do equilíbrio entre a expectativa do paciente e o que é realizável em termos médicos, e até mesmo éticos. O advento das redes sociais e a exposição pública veio modificar a visão que as pessoas, principalmente adolescentes e jovens adultos, têm de si mesmas, explica a cirurgiã plástica Suzy Vieira.

Os selfies publicados no Instagram e outras plataformas são um bom exemplo, ressalta a especialista. “Casos de adolescentes e adultos jovens que precocemente querem mudar o nariz são comuns. Também aumentou muito a procura por cirurgia plástica facial. O ângulo do selfie não valoriza os traços, até distorce. As pessoas passaram a ter uma percepção diferente do próprio rosto. É muito comum adolescente querer operar o nariz”, afirma.

A médica contraindica a operação em praticamente todos os casos. “Muitas vezes a pessoa nem precisa da cirurgia, é uma questão de contorno facial. A pessoa quer operar o nariz, mas na realidade ele nem é grande: pode ser uma falta de queixo, ou uma má-oclusão da arcada dentária. A cirurgia plástica não é indicada”, orienta.

De um modo geral, as intervenções faciais ganham cada vez mais espaço, diz a médica, porque as técnicas são cada vez menos invasivas e definitivas. O problema, diz Suzy Vieira, é que os procedimentos em excesso deformam o rosto e os pacientes, muitas vezes, têm dificuldade em perceber como os retoques afetam os traços. “Excesso de cirurgia plástica não é bem-vindo nunca”, afirma.

A cirurgiã conta que já vivenciou inúmeras situações em que o paciente se tornou agressivo porque ela se recusou a operar. “Eles querem que eu concorde com o que imaginaram. O paciente tem direito de opinar, porque é um procedimento opcional. Mas eu sempre digo: cirurgia plástica é uma cirurgia. Com seus riscos e internação hospitalar. Vai ganhar uma cicatriz...tem que avaliar.”

A cirurgiã plástica Suzy Vieira diz que muitas vezes os pacientes são agressivos nas consultas
A cirurgiã plástica Suzy Vieira diz que muitas vezes os pacientes são agressivos nas consultas (Foto: Divulgação)

Brasil é vice-campeão de plásticas

O Brasil é o segundo mercado do mundo em número de cirurgias plásticas, perdendo apenas para os Estados Unidos. A maioria das pacientes são mulheres, submetidas à pressão do corpo bonito em uma sociedade ainda muito machista. “Cirurgia plástica aqui é quase uma caricatura: seios grandes, bumbum avantajado. Mas na essência, a cirurgia plástica não é estética. Estética é uma consequência. Ela nasceu para fazer reparações, de fissuras labiais, conhecido como lábio leporino, tratamento de queimados, reconstrução de membros, órgãos, nariz ou partes do corpo atingidas por acidentes e tumores. Tanto que o grande impulso das cirurgias plásticas foram as guerras”, ressalta Suzy Vieira.

Com uma conscientização maior da condição feminina e da igualdade de gêneros, a tendência é que o mercado da plástica se transforme aos poucos no país. Há correntes que defendem essa ideia, declara a médica, mas ela não é unânime. “A mulher, com esse equilíbrio, perde a obrigação de querer ser magra, linda, com curvas. Mas, no Brasil, é uma questão cultural. As pessoas se expõem muito, usam roupas mais curtas, mostram mais o corpo. Encontramos muita gente com problemas psicológicos, decorrentes dessa cobrança excessiva”, diz.

Suzy Vieira lembra do chamado transtorno dismórfico corporal: a pessoa se enxerga de uma maneira totalmente diferente e se submete a várias cirurgias. Apesar disso, continua se vendo obesa, feia ou com o contorno alterado. “Toda essa cobrança, especialmente sobre as mulheres, traz muitas repercussões.”

A médica também destaca o fato de que, com o aumento da esperança de vida da população, a cobrança por uma aparência melhor também cresce. “Vivendo mais, as pessoas querem se manter agradáveis esteticamente, nem digo bonitas. Muitas pessoas que estão no mercado de trabalho ativo contam que trabalham com jovens e não se sentem bem. Viver bem esteticamente e fisicamente tornou-se uma demanda comum”, conclui.

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