Chinês que editou DNA de embriões é condenado a 3 anos de prisão
O cientista chinês que ajudou a criar os primeiros bebês geneticamente editados do mundo, He Jiankui, foi condenado nesta segunda-feira (30) a três anos de prisão pelo tribunal de Shenzhen, no sul da China. Ele foi considerado culpado de manipulação genética ilegal de embriões para fins de reprodução.
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Com informações da correspondente da RFI em Xangai, Angélique Forget
Em novembro de 2018, He Jiankui causou surpresa na comunidade científica ao anunciar o nascimento de gêmeas que tiveram seu DNA alterado no estado embrionário para se tornarem imunes a uma futura infecção pelo vírus da Aids. O experimento pioneiro mundial provocou protestos internacionais.
O governo chinês, acusado de negligência, prendeu imediatamente o cientista. No entanto, a tolerância de Pequim ficou evidente quando He Jiankui apresentou, pela televisão, o resultado de suas pesquisas. Orgulhoso, ele disse que sua façanha era um “exemplo do que poderia ser feito no futuro”.
Além dos três anos de prisão, o cientista também foi condenado a uma multa de € 380 mil. A agência oficial Nova China, que assistiu ao julgamento, revelou que o tribunal considerou que ele buscava apenas fama e dinheiro e, com isso, desrespeitou a lei sobre pesquisa científica
As autoridades chinesas esperam com o processo provar sua boa vontade e evitar que a reputação da ciência chinesa seja afetada. Pequim garante nunca ter dado seu aval para que He Jiankui realizasse os experimentos. Oficialmente, como a maioria dos outros países, a China proíbe formalmente a edição genética humana.
Sistema Crispr
He Jiankui, formado na universidade americana de Stanford, usou o sistema Crispr-Cas9, as chamadas "tesouras genéticas", que permite remover e substituir as partes indesejáveis do genoma. A simplicidade do Crispr estimulou muitos cientistas. Mas ao modificar o genoma, He Jiankui provocou outras mutações que serão transmissíveis a seus descendentes.
"A tecnologia ainda não é segura", declarou Kiran Musunuru, professor de Genética da Universidade da Pensilvânia (EUA). Muitas vezes, as "tesouras" Crisp cortam outro gene diferente do previsto. "É fácil utilizá-las se você não se importa com as consequências", explica Musunuru.
As duas gêmeas, chamadas Lulu e Nana (pseudônimos), permanecem anônimas, e não há informações sobre paradeiro ou o estado de saúde delas.
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