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Lula conclui dezenas de acordos em Pequim, mas espera que relação com China não seja apenas comercial

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, termina na noite desta sexta-feira (14) a agenda oficial de sua visita à China e deixa o país com dezenas de acordos assinados com o gigante asiático. Após uma estadia marcada por muita pompa, com passagem por Xangai e Pequim, onde se reuniu com o chefe de Estado chinês Xi Jinping, o líder brasileiro confirmou a importância da parceria estratégica entre os dois países.

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado do líder chinês, Xi Jinping, em Pequim
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado do líder chinês, Xi Jinping, em Pequim AFP - KEN ISHII
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“Nós temos que trabalhar muito para que a relação Brasil China não seja de interesse meramente comercial”, disse Lula durante seu discurso no Palácio do Povo diante do presidente chinês Xi Jinping. O presidente brasileiro defendeu mais trocas no campo da ciência e tecnologia, intercâmbios entre universidades dos dois países e disse que “conta com a China na nossa luta pela preservação do planeta terra”.

Essa vontade de reforçar as relações sino-brasileiras era palpável na diversidade de acordos anunciados no final do dia. Atores do setor empresarial dos dois lados confirmaram a assinatura de 20 novos contratos e parcerias, que vão de áreas como agronegócio – já bastante presente na relação entre Brasil e China -, indústria automotiva, tecnologia da informação, saúde, infraestrutura, energias renováveis e linhas de crédito verde. Esses compromissos somam-se àqueles anunciados durante o Seminário Econômico Brasil-China, realizado em 29 de março, totalizando mais de 40 novas parcerias.

No setor público, compromissos foram assinados entre governos estaduais, como o do Ceará, que firmou três acordos com empresas chinesas, entre eles um contrato para a realização de estudos de viabilidade de projetos na produção de energia eólica onshore e offshore, solar, hidrogênio azul e verde e combustíveis dentro do Complexo Industrial e Portuário do Pecém. Já o Rio Grande do Norte se uniu com a Associação Sino-Brasileira de Mineração (ASBM) para possibilitar investimentos no setor mineral.

A Fundação Osvaldo Cruz assinou memorando para estabelecer um laboratório da Fiocruz na Academia Chinesa de Ciências e um laboratório da Academia de Ciências na Fiocruz. O objetivo é o desenvolvimento conjunto de vacinas, diagnósticos e tratamentos, com foco especial em doenças infecciosas.

ApexBrasil, agência que promove o Brasil no exterior, formalizou uma parceria com a Venture Cup Chinae e com a Beijing Hycore Innovation para apoiar startups brasileiras a desenvolverem negócios na China. Já o ministério brasileiro de Minas e Energia assinou um acordo para realizar estudos de viabilidade para construção e operação de pequenas usinas de energia solar, complementadas por miniturbinas eólicas, baterias e purificadores de água, em áreas remotas da floresta amazônica, com foco em comunidades isoladas.

 

Parte da numerosa delegação brasileira ao redor dos presidente da China, Xi Jinping, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em Pequim.
Parte da numerosa delegação brasileira ao redor dos presidente da China, Xi Jinping, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em Pequim. © Ricardo Stuckert

 

Mas a maior parte dos acordos firmados envolvem direta ou indiretamente a iniciativa privada. A mineradora Vale confirmou oito compromissos com parceiros chineses, que vão desde a Universidade Tsinghua para intercâmbio de conhecimento técnico até contratos com instituições bancárias chinesas como o Industrial and Commercial Bank of China (o ICBC) e o Bank of China, para cooperação financeira envolvendo linhas de crédito abrangentes para mineração.

Já a Odebrecht, a Power China e a Sete Partners firmaram parceria para trazer soluções conjuntas a projetos de infraestrutura no Brasil e a JBS e o Banco da China confirmaram parceria para concessão de crédito para exportação para a gigante das carnes. Empresas brasileiras como Suzano, Furnas, Friboi, Seara e até os Correios e o Banco do Brasil completam, entre outros, a lista de instituições que assinaram acordos com entidades e empresas chinesas.  

Mudanças climáticas

A questão do meio ambiente e a importância do desenvolvimento sustentável aparecem como um pano de fundo discreto durante essa visita, mas sempre foi citada. Lula disse que conta com a China para a preservação do planeta e frisou a urgência de se produzir mais energia limpa.

 

A ministra brasileira do Meio Ambiente, Marina Silva, se encontrou com o presidente chinês Xi Jinping em Pequim.
A ministra brasileira do Meio Ambiente, Marina Silva, se encontrou com o presidente chinês Xi Jinping em Pequim. © Ricardo Stuckert

 

Em uma declaração conjunta, Lula e Xi Jinping reconheceram que a mudança climática “representa um dos maiores desafios de nosso tempo e que o enfrentamento desta crise contribui para construir um futuro compartilhado de prosperidade equitativa e comum para a humanidade”. Brasil e China também comprometem-se a ampliar, aprofundar e diversificar a cooperação bilateral sobre o clima.

Ucrânia, Taiwan e Estados Unidos

A guerra na Ucrânia também foi lembrada na declaração final divulgada pelos dois chefes de Estado. Brasil e China afirmaram que “diálogo e negociação são a única saída viável para a crise” e que “todos os esforços conducentes à solução pacífica da crise devem ser encorajados e apoiados".

Lula havia indicado, antes de embarcar para a China, a vontade de promover uma mediação alternativa ao conflito lançado pela Rússia, aliada histórica de Pequim. Sem citar diretamente a iniciativa, o governo chinês informou que “recebeu positivamente os esforços do Brasil em prol da paz”.

Já sobre a situação de Taiwan, fruto de tensões entre a China e o Ocidente, o governo brasileiro foi mais direto. Na declaração conjunta divulgada pelos dois países, os representantes de Brasília disseram que “aderem firmemente ao princípio de uma só China, e que o governo da República Popular da China é o único governo legal que representa toda a China, enquanto Taiwan é uma parte inseparável do território chinês”. A posição foi saudada por Pequim.

Outra fonte de tensão, com os Estados Unidos, foi mencionada de forma indireta durante o discurso de Lula no Palácio do Povo. Ao comentar a visita que fez na véspera em Xangai na gigante da tecnologia Huawei, empresa visada por Washington, o presidente brasileiro disse que a passagem pela firma foi “uma demonstração de que nós queremos dizer ao mundo que não temos preconceito na nossa relação com os chineses e que ninguém vai proibir que o Brasil aprimore a sua relação com a China”. 

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