Em discurso da vitória, Lula diz ao mundo que “o Brasil está de volta” e prega reconciliação nacional
O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, prometeu governar para todos os brasileiros, num discurso da vitória marcado por mensagens de reconciliação nacional e acenos para os evangélicos e partidos opositores. O petista foi eleito com 60,335 milhões de votos, superando o seu adversário, o atual presidente Jair Bolsonaro, com uma diferença apertada de apenas 2 milhões de votos, ou 1,7%.
Publicado em: Modificado em:
Lúcia Müzell, enviada especial da RFI a São Paulo
Ainda que a vitória tenha sido justa, Lula conquistou a maior votação da história do presidencialismo brasileiro, batendo o próprio recorde de 2006, quando 58,295 milhões de brasileiros o escolheram. Já Bolsonaro foi o primeiro presidente a não se reeleger no país.
"A partir de 1º de janeiro de 2023 vou governar para 215 milhões de brasileiros, e não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois Brasis. Somos um único país, um único povo, uma grande nação”, declarou, no discurso pronunciado à imprensa reunida no Hotel Intercontinental de São Paulo, a poucos metros da festa da vitória na cidade, na Avenida Paulista. "A ninguém interessa viver num país dividido, em permanente estado de guerra. Este país precisa de paz e de união. Esse povo não quer mais brigar. Esse povo está cansado de enxergar no outro um inimigo a ser temido ou destruído. É hora de baixar as armas, que jamais deveriam ter sido empunhadas", frisou.
Lula fez menção a Deus em três ocasiões do discurso, a primeira logo no começo da fala. "Agradeço a Deus por ter chegado onde eu cheguei (…), sobretudo neste momento em que nós não enfrentamos um candidato. Enfrentamos a máquina do estado brasileiro, colocada a serviço do candidato da situação para tentar evitar que nós ganhássemos as eleições”, acusou o presidente eleito, que não citou o nome de Jair Bolsonaro.
Questionado pela RFI ao deixar o local sobre se o atual presidente já tinha reconhecido a derrota ou feito contato com ele, Lula respondeu: “não sei”.
Lula avisa que “o Brasil está de volta"
O petista evocou as linhas da sua política externa, dizendo que batalhará para resgatar "aquele Brasil soberano, que falava de igual para igual com os países mais ricos e poderosos, e que ao mesmo tempo contribuía para o desenvolvimento dos países mais pobres”. Ele destacou a reaproximação com os países latino-americanos e africanos, ignorados por Bolsonaro durante o seu mandato.
Lula defendeu "uma nova governança global", com a inclusão de mais países no Conselho de Segurança da ONU e com o fim do direito a veto. Também deseja “um comércio internacional mais justo” e retomar as parcerias com os Estados Unidos e a União Europeia "em novas bases". "Não nos interessam acordos comerciais que condenem nosso país ao eterno papel de exportador de commodities e matéria prima”, advertiu.
"Hoje nós estamos dizendo ao mundo que o Brasil está de volta. Que o Brasil é grande demais para ser relegado a esse triste papel de pária do mundo”, salientou o petista.
Resgatar a bandeira verde-amarela
Ainda no discurso, o petista se comprometeu a "trazer de volta a alegria de sermos brasileiros, e o orgulho que sempre tivemos do verde-amarelo e da bandeira do nosso país. Esse verde-amarelo e essa bandeira que não pertencem a ninguém, a não ser ao povo brasileiro”, destacou.
Lula frisou que "essa é a vitória de um imenso movimento democrático que se formou acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais, das ideologias, para que a democracia saísse vencedora”. Ele agradeceu a nomes como a senadora Simone Tebet, candidata derrotada ao Planalto que participou da campanha do ex-presidente no segundo turno. Também sublinhou que o seu governo vai retomar o diálogo com os três poderes, para garantir a "normalidade democrática consagrada na Constituição".
O petista ressaltou que a "prioridade número um” do seu governo será combater “de novo” a fome. “A roda da economia vai voltar a girar, com geração de empregos, valorização dos salários e renegociação das dívidas das famílias que perderam seu poder de compra. A roda da economia vai voltar a girar com os pobres fazendo parte do orçamento”, afirmou.
Desmatamento zero
Lula ainda ressaltou que vai lutar pela igualdade de direitos das minorias e "enfrentar sem tréguas o racismo, o preconceito e a discriminação, para que brancos, negros e indígenas tenham os mesmos direitos e oportunidades”. Na área ambiental, se comprometeu a atingir a meta de desmatamento zero da Amazônia e a promover o desenvolvimento sustentável do país.
"O Brasil está pronto para retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática, protegendo todos os nossos biomas, sobretudo a Floresta Amazônica. Vamos retomar o monitoramento e a vigilância da Amazônia, e combater toda e qualquer atividade ilegal – seja garimpo, mineração, extração de madeira ou ocupação agropecuária indevida”, disse. Ao seu lado, a ex-senadora e ex-ministra Marina Silva aplaudiu e disse “muito bom” a Fernando Haddad, candidato derrotado do PT ao governo de São Paulo neste domingo.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro