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O que esperam as primeiras deputadas federais trans do Brasil em um Congresso cada vez mais conservador?

A Câmara dos deputados terá parlamentares trans pela primeira vez na história. Erika Hilton (PSOL), de São Paulo, e Duda Salabert (PDT), de Minas Gerais, estreiam após uma eleição que também foi marcada pelo fortalecimento dos partidos conservadores no legislativo.

As récem-eleitas deputadas federais trans Duda Salabert  (esq.) e Erica Hilton (dir.).
As récem-eleitas deputadas federais trans Duda Salabert (esq.) e Erica Hilton (dir.). © Reprodução Twitter / Instagram/ Salabert / Erica Hilton
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Silvano Mendes, enviado especial a São Pauilo

Mesmo se a escolha do presidente da República ainda vai ter que esperar até o final do mês, um dos sinais fortes dessas eleições foi o fortalecimento dos partidos conservadores. O PL elegeu 98 deputados e passou de 8 para 13 representantes no Senado, se tornando assim o principal partido nas duas Câmaras. Nessa massa de eleitos e reeleitos, a diversidade ainda peca. Os deputados negros continuam sendo ainda minoria, os indígenas são quase inexistentes e os trans só agora fazem a sua estreia no âmbito federal.

Erika Hilton, que já foi deputada estadual em 2018 e vereadora mais votada em 2020, foi eleita deputada federal com 256.903 votos e é a 16ª parlamentar mais votada do país, além de ser a 9ª mais votada no estado de São Paulo. Engajada em temas ligados aos direitos humanos, ela teve uma trajetória marcada por vários percalços que não são raros entre pessoas trans, como dormir nas ruas e ter que se prostituir para sobreviver.

Ao ser eleita no domingo, ela celebrou “as deputravas chegando para ocupar Brasília e fazer história”. Nas redes sociais, frisou a importância de “levar as travestis que nunca foram eleitas ao Congresso Nacional. Agora vão sair das esquinas, vão sair das ruas, vão sair dos cárceres, vão sair das esquinas de crack e de prostituição para pensar política pública”.

Já a professora de literatura Duda Salabert teve 208.265 votos e, quando foi vereadora, foi a mais bem votada de Belo Horizonte e uma das mais votadas em seu estado.

Além delas, três outras mulheres trans foram eleitas nos parlamentos estaduais: Linda Brasil, em Sergipe, Dani Balbi no Rio de Janeiro, e Carolina Iara, em São Paulo.

Mas todas elas terão pela frente o desafio de atuar em um meio cada vez mais conservador, como lembra Keila Simpson, presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA). Ela celebra essas “luzes de esperança piscando no Congresso", mas diz que “não será uma atuação fácil, pelo contrário. Mas nada foi fácil para essas pessoas. Elas sabem que vão enfrentar desafios, são vacinadas para isso”.

A militante chama a atenção para o contexto atual, principalmente no Senado que acaba de ser eleito. “A gente fica muito apreensivo porque são pessoas que não conseguem conviver com a diversidade que temos no Brasil. São pessoas com um viés ideológico muito forte, um viés ideológico religioso fundamentalista, e isso é muito ruim para o nosso cenário”, alerta. “Seria muito melhor se não tivesse essa violência, essa vigilância, esse falso moralismo. Mas infelizmente é assim e elas estão preparadas”, pontua.

Para Keila Simpson, será a oportunidade de abordar pautas ligadas à vulnerabilidade da população trans. Mas acredita que a ação das novas deputadas será muito mais ampla. “Elas não vão trabalhar somente para isso. Já foi provado pelas duas que foram eleitas, que elas não legislam [apenas] em torno da causa LGBTQIA+. A atuação delas é para além desse espectro. É para toda a comunidade”, sublinha.

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