Amazônia: especialistas franceses debatem princípios de justiça climática
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Ouvir - 03:07
O debate sobre os incêndios nas florestas tropicais, iniciado com a atual crise na Amazônia, continua em destaque na imprensa francesa. As duas principais revistas semanais do país, a conservadora Le Point e a progressista L’Obs, trazem reflexões sobre os instrumentos necessários para preservar a biodiversidade.
Em uma reportagem de cinco páginas, a revista Le Point mostra que, em pouco mais de dez anos (2003-2014), os incêndios no conjunto das florestas tropicais do planeta lançaram 425 milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera, reforçando o aquecimento global.
O botânico Francis Hallé, um dos maiores especialistas franceses nessa área, diz que a rigor o mundo sobreviveria ao desaparecimento da floresta Amazônica, mas não ao conjunto das florestas tropicais.
Mato Grosso atinge ponto de não retorno com cultura da soja
Uma grande parte da floresta Amazônica nunca mais será reconstituída, lamenta Hallé. A situação é dramática, constata o botânico, criticando o presidente Jair Bolsonaro por fragilizar o Brasil. “Bolsonaro suprimiu instrumentos de controle ambiental existentes.”
O especialista aponta o desmatamento desordenado ocorrido no Mato Grosso para dar lugar ao cultivo da soja. O estado atingiu um ponto de não retorno, sem árvores suficientes para recuperar o solo e gerar um reflorestamento dessa região da bacia amazônica. Na avaliação do botânico, o papel da Amazônia na regulação do clima faz com que a floresta não pertença exclusivamente ao governo brasileiro, mas seja de interesse da humanidade.
Nicolas Bavarez, editorialista da Le Point, explora a questão da proteção dos bens comuns – florestas, fundo marinho, polos e atmosfera –, que condicionam o futuro do planeta e de todas as populações na Terra.
Na corrida contra o relógio para preservar o que resta, o ensaísta, advogado, pós-graduado em história, ciências sociais e ciências políticas, propõe quatro iniciativas. A criação do estatuto de bem comum da humanidade para os polos e o alto mar; o monitoramento da transparência da informação declarada pelos governos sobre a preservação dos biomas; ajuda financeira dos países ricos para preservar as florestas, uma vez que 80% delas se encontram no Sul, e por meio de tratados de comércio; por fim, o imposto sobre o carbono, considerado a arma econômica mais eficaz para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. “Na era da história universal, a preservação do planeta é a causa com maior capacidade para mobilizar o homem na luta pela sobrevivência”, conclui Bavarez.
Nas páginas da L’Obs, a jurista Valérie Cabanes defende a instauração da noção de “ecocídio” no direito internacional. A violação de biomas e riquezas naturais, com consequências devastadoras para o planeta e a humanidade, deveria ser tratada como crime, defende a jurista, passível de julgamento no Tribunal Penal Internacional. Ela também pede condenação judicial aos dirigentes de empresas que não reduzirem sua pegada de carbono ou minimizarem as consequências de suas atividades para o planeta.
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