Vitória dos democratas na Câmara dos EUA pode prejudicar planos de Bolsonaro
Especialistas ouvidos pela RFI sobre a inversão de comando na Câmara de Representantes dos Estados Unidos, agora sob maioria democrata, estimam que a derrota dos republicanos na Casa pode ter impacto nos projetos de Jair Bolsonaro, presidente eleito no Brasil.
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"Os democratas ganharam voz e têm uma postura diferente do governo Trump", avalia Claudio Couto, coordenador do mestrado em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP). "Pode haver algum tipo de legislação, com efeitos sobre a política externa, que não passará com tanta facilidade agora que os democratas conquistaram a maioria na Câmara, e não estou pensando em medidas mais imediatas, dessas que dependem da aprovação do Senado, como a nomeação de embaixadores, por exemplo", explica o especialista da FGV-SP.
Segundo o cientista político, é provável que Bolsonaro mantenha seu alinhamento com Trump "em termos dessa relação agressiva com a oposição, com outros países, esse discurso ideológico a respeito de política externa, até mesmo essa imitação de transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém – com consequências ruins na área internacional e potencialmente para o comércio brasileiro –, mas sem a aprovação de uma legislação mais restritiva e dura na área de política externa, porque isso dependeria da aprovação da Câmara", argumenta.
Os resultados das eleições nos Estados Unidos não revelaram nenhuma onda anti-Trump, mas os democratas conseguiram tomar pelo menos 27 cadeiras dos republicanos na Câmara, enquanto perderam duas no Senado, que continua majoritariamente conservador.
Virgílio Arraes, professor de História Contemporânea da Universidade de Brasília (USP), especialista em história dos Estados Unidos, nota uma identificação entre o governo eleito no Brasil e o governo Trump na questão do conservadorismo dos costumes, mas observa uma certa indefinição e até uma "confusão" do ponto de vista econômico.
Arraes lembra que Trump é o primeiro dirigente depois do fim da Guerra Fria a a criticar a abertura desmedida que a globalização teria trazido. "Este tema foi recorrente na campanha de Trump, enquanto no Brasil há um choque preliminar em que se defende agora mais liberalismo econômico, e não é bem isso que os republicanos nos Estados Unidos têm praticado", avalia o historiador da UNB.
"Pode ser que, apesar da definição ideológica próxima dos dois governos em alguns segmentos, não haja tanta afinidade na área econômica. Isso vai requerer paciência e cautela da diplomacia brasileira, ainda mais depois da renovação do Nafta, o tratado norte-americano de livre comércio", ressaltou Arraes.
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