Economista diz no Libération que 'Brasil está em situação desesperadora'

Em seu espaço de opinião, o jornal de esquerda Libération publica nesta quinta-feira (24) um artigo do economista Bruno de Conti, da Universidade de Campinas (Unicamp). No texto, o especialista analisa a situação política e econômica do Brasil, antes e depois do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Libération publica nesta quinta-feira (24) um artigo sobre a situação política e econômica do Brasil. liberation.fr

Na chamada do artigo, o Libération considera o momento "particularmente desesperador e inquietante" para a população brasileira. Em seu artigo, o professor da Unicamp faz um apelo à mobilização das forças progressistas para evitar um declínio maior.

O economista critica a PEC 55, em tramitação no Senado, que congela os gastos públicos por 20 anos. Segundo Bruno de Conti, uma vez que as despesas com aposentadorias vão aumentar mecanicamente por razões demográficas, a medida provocará uma redução automática das despesas com saúde e educação pública.

O especialista considera a proposta um grave ataque às políticas sociais de Estado, "ainda mais porque a justificativa é obter recursos para pagar o serviço da dívida pública, que consome, por ano, 9% do PIB". O texto alerta para um efeito nefasto desse congelamento: "a redução estrutural da atividade econômica, o que dificultará ainda mais o financiamento da dívida".

Bruno de Conti afirma que o governo do presidente Michel Temer promove um retorno às recomendações do consenso de Washington, de 1990. Vinte e seis anos mais tarde, retorna-se à mesma receita que mergulhou o Brasil em uma década perdida: "privatizações, flexibilização do mercado de trabalho, interrupção do processo de aumento de salários e emendas à Constituição para reduzir o estado de bem-estar social".

Investimentos avançam apesar da crise

A agência AFP mostra, por outro lado, que apesar da crise empresas francesas seguem investindo no Brasil. É o caso do fabricante francês de produtos veterinários Ceva, que anunciou nesta quinta-feira a compra de dois laboratórios no Brasil, Hertape Saúde Animal e Inova Biotecnologia. Com essas aquisições, o grupo francês se posiciona entre os cinco maiores do país no setor de vacinas contra a febre aftosa.

A Hertape conta com mais de 300 funcionários e faturou no ano passado € 55 milhões. Já a Inova possui atualmente cem colaboradores e atua em outros países da América Latina, além do Brasil.