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Brasil

Manifestantes acompanham voto do impeachment na Esplanada dos Ministérios

Enquanto os senadores discursavam sobre o impeachment da presidente brasileira Dilma Rousseff antes do voto no plenário, manifestantes tomaram a Esplanada dos Ministérios. Mais uma vez os partidários e os opositores ao processo de destituição da chefe de Estado foram separados por um muro.

Manifestantes contrários ao impeachment foram vigiados de perto pelas forças de ordem.
Manifestantes contrários ao impeachment foram vigiados de perto pelas forças de ordem. REUTERS/Paulo Whitaker
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Enviado especial a Brasília

O esquema de segurança foi implementado pelas autoridades de Brasília desde a véspera do voto, mas os manifestantes só começaram a chegar a Esplanada dos Ministérios no final desta quarta-feira (11). Apenas algumas centenas por volta das 17h, os grupos foram ficando mais numerosos aos poucos e, ao cair da noite, parte do Eixo Monumental estava ocupado.

O protesto ganhou cores exóticas com a chegada de cerca de 80 índios no local. Entoando cantos e usando trajes típicos, o grupo vindo de Pernambuco, mas que já estava acampado na capital federal, fez a festa dos fotógrafos, mas também dos manifestantes, que entraram na roda formada pelos indígenas para dançar.

Por volta das 20h a Polícia Militar calculava cerca de 5 mil pessoas na Esplanada, sendo mil pró-impeachment e 4 mil contra. Os defensores da presidente, do lado esquerdo do muro, se mostravam combatentes, apesar de todas as previsões indicarem o afastamento quase certo da chefe de Estado. “Estamos aqui para apoiar a Dilma pois não concordamos com o golpe que está sendo montado”, afirmou Alexandre, que participava do ato com um grupo de amigos.

Policiais vigiavam principalmente defensores do governo

Já a aposentada Sônia Maria, que estava na capital federal para a 4ª Conferência Nacional de Políticas para Mulheres, deixou o evento no final do dia para acompanhar o voto diante do Planalto. “O movimento não vai parar. Não vai ter golpe, vai ter luta”, insistia, enquanto fotografava o palácio ao fundo, atrás de um pelotão de policiais que vigiavam os participantes.

As forças de ordem eram visivelmente mais presentes do lado dos manifestantes contrários ao impeachment. “Há um policiamento ostensivo, o que não acontece do outro lado. Isso porque nos tacham de baderneiros” , analisa Alexandre. Alguns momentos de tensão foram entre militantes e policiais e bombas de gás foram lançadas contra os defensores da presidente.

Outra crítica frequente era sobre a presença do muro de um quilômetro de extensão dividindo os dois grupos. “Embora saiba que é por uma questão de segurança, isso mostra uma sociedade dividida entre os privilegiados e os que têm menos condições de vida.”

À direita da cerca, os militantes pró-impeachment já celebravam o resultado, mesmo se, naquele momento, menos da metade dos senadores haviam discursado e o voto nem tinha começado. Batucada e cartazes com os dizeres “Tchau Querida” eram vistos por toda a parte entre os manifestantes vestindo verde-amarelo.

“Hoje é o final do nosso processo na rua. Eu estive aqui durante o voto na Câmara e estarei aqui no final dos 180 dias”, disse o militante Luiz, em alusão ao prazo final do afastamento da presidente Dilma Rousseff do cargo, antes da eventual saída definitiva da presidência.

"Seita demoníaca"

Geissi, outra militante pró-impeachment, diz que participa do ato pois, “como a maioria da nação brasileira”, está cansada de tanta corrupção e dos aumentos de impostos. Segundo ela, o protesto é “não só para pedir a saída da presidente Dilma Rousseff, mas também do PT, que não é um partido, e sim uma seita demoníaca”.

No entanto, ao serem questionados sobre o que pode esperar o país em caso de uma troca de governo, os militantes pró-impeachment são mais ponderados. “Milagre não existe, mas temos que começar por algum lugar e tirar a presidente já é um começo”, disse Luiz. Já o jovem Malcov, que vê esse 11 de maio como “um dia de vitória”, lembra que “o país vai cair nas mãos do PMDB, e a gente sabe que são farinha do mesmo saco”. Mesmo assim, para ele a saída da presidente deve ser vista como um grande passo. “Vamos continuar fiscalizando. Pelo menos o pessoal que vai assumir agora sabe que o povo está de olho e tem poder para ir às ruas, fazendo as coisas acontecerem”.

Ambulantes escolhem local de venda seguindo convicções políticas

Como em todos os protestos desse gênero, os vendedores ambulantes estavam presentes, com bebidas e sorvetes. Mas no caso da manifestação desta quarta-feira, as convicções políticas pesaram na hora de escolher de que lado iriam armar suas barracas ou passear com seus isopores.

“Tem que tirar a Dilma daqui. As coisas não podem continuar como estão”, afirmava o ambulante Marcos, que começava a vender seus sorvetes do lado verde-amarelo do gramado.

Já David, que se posicionou à esquerda do muro, disse que “fica do lado dos pró-impeachment apenas quem não tem ideologia política. Pois se eles tivessem a mesma ideologia que eu e esse povo que está aqui, estariam do lado de cá para defendê-la, pois foi o único governo até hoje que fez algo pelo povo brasileiro e pela nação”.
 

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