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Análise/PT

Para cientista político belga, PT está preso na própria armadilha

Em longa análise no semanário Le Monde Diplomatique, o cientista político belga Laurent Delcourt, dá o contexto da crise no Brasil e fala da manipulação da mídia. Mas conclui que o PT, responsável em grande parte pela crise, acabou preso na própria armadilha por não ter reformado o sistema político.

O jornal francês Le Monde Diplomatique traz em matéria de capa artigo de 4 páginas sobre a crise política do Brasil.
O jornal francês Le Monde Diplomatique traz em matéria de capa artigo de 4 páginas sobre a crise política do Brasil. RFI/ monde-diplomatique.fr
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O texto, que começa na capa e continua no interior da última edição, com o título de “Primavera enganadora”, inicia explicando ao leitor francês sobre a mobilização de milhões de brasileiros que foram às ruas no dia 13 de março para pedir a queda da presidente Dilma Rousseff.

Em seguida, lembra que na semana anterior a essas manifestações, a Polícia Federal baixou de madrugada na casa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para levá-lo algemado para depoimento, a pedido do juiz Sérgio Moro, no aeroporto de Congonhas.

Falando da repercussão internacional, o artigo diz que a mídia mundial deu respaldo à indignação dos brasileiros diante da corrupção, como o respeitado diário Le Monde que, em editorial de 30 de março, estabeleceu que “não se trata de golpe de Estado”. Ou o espanhol El País, que chama Sérgio Moro de “juiz herói”.

"Imprensa internacional reproduziu discurso antidemocrático da mídia brasileira"

Na sequência, Delcourt cita o jornalista americano Glenn Greenwald, que tornou público o caso Snowden, para quem a grande imprensa internacional só reproduzia o “discurso monolítico, antidemocrático e oligárquico” da mídia brasileira. Nessa linha, o alemão Der Spiegel alertou para um “golpe frio” e para o risco de o Brasil perder todos os avanços alcançados nas últimas três décadas.

A análise lembra que a Rede Globo não estava só, citando um editorial do Estadão, do dia 13 de março, “repleto de fel, convidando as pessoas de bem a cumprir um dever cívico diante do pior governo de todos os tempos”. O mesmo tom foi usado, conta o artigo francês, por muitos outros veículos de grande porte, como a rádio Transamérica, TV Globo, SBT, Folha de S.Paulo e Veja.

Laurent Delcourt cita uma análise de Bia Barbosa e Helena Martins, “menos agressiva”, da “mais séria” Folha de Dourados, que diz: “a mídia, de forma sistemática, colou a ideia da corrupção em apenas determinados grupos e consolidou a avaliação de que este é o 'pior governo de todos os tempos'”.

"Suposição de inocência não existe"

Para o cientista político, os jornalistas da grande imprensa ignoram as críticas e os pareceres de juízes eminentes a respeito do caso das escutas envolvendo Lula. “A suposição de inocência não existe”, conclui. As manifestações pró governo são apresentadas como “atos de militantes petistas”. A idéia é usar a “imagem de um Brasil que se levanta em uníssono contra um governo corrupto”. Imagem essa, lembra o texto, que é totalmente contrariada por uma pesquisa publicada pela Folha sobre o retrato dos manifestantes de 13 de março: maioria branca, de renda média, alta e muito elevada, “ou seja, a elite brasileira”.

O artigo observa que as chamadas de ordem dos “bons cidadãos” não primam pelo progressismo ao protestar contra os impostos, rejeitar políticas sociais e o sistema de educação.

Para o especialista belga, a onda de protestos contra o governo lembra mais as “marchas da família com Deus e pela liberdade, que precederam o golpe de 64, do que um despertar cidadão e democrático”. “Hoje, o combate é exterminar o PT e enterrar os (magros) avanços do lulismo”, afirma.

A seguir, o artigo contesta a ação do poder Judiciário, qualificando de “arbitrários e expeditivos” os métodos de Moro, obcecado com o objetivo de “destruir o ícone da esquerda brasileira”. O fim de Lula, lembra o semanário, seria um grande alívio para a oposição, que não aprecia a ideia da volta do carismático ex-sindicalista à cena política.

"Elite instrumentaliza corrupção para derrubar PT"

O texto retoma uma constatação de Greenwald: “A elite brasileira, a mídia e as classes média e alta estão instrumentalizando a corrupção para conseguir o que não conseguiram de maneira democrática: derrotar o PT”.

As cruzadas moralistas antigoverno e anticorrupção também dissimulam outros aspectos: “ambições eleitorais, intenção da elite em manter privilégios, acabar com direitos sociais, privatizar o pré-sal e, principalmente, o medo de ser envolvido pelo Lava-Jato”.

O artigo termina falando do silêncio e da indulgência da mídia a respeito de Eduardo Cunha e Michel Temer. E conclui que o PT tem grande responsabilidade na crise em que se encontra o país: “por não ter consertado o sistema político, ele se vê hoje preso na própria armadilha”.
 

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