Prisão de Julian Assange reflete virada à direita na América Latina
O governo do Equador mobilizou seus ministros para defender a decisão do presidente Lenin Moreno de retirar o asilo diplomático do ex-ativista Julian Assange, detido nesta quinta-feira (11) em Londres, onde se refugiava na embaixada equatoriana havia sete anos. Moreno é acusado pela oposição de “trair o povo” ao se distanciar politicamente de seu antecessor, Rafael Correa, de quem foi vice.
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Com informações do correspondente da RFI em Quito, Éric Samson
Foi durante seu mandato que Correa, de esquerda, consentiu o asilo e a nacionalidade equatoriana a Assange - o que lhe possibilitou escapar da prisão até agora. Mas desde que Moreno foi eleito e assumiu o poder, há quase dois anos, o líder se aproximou cada vez mais da direita do país – seu ministro da Economia é um grande empresário equatoriano.
A polêmica decisão de entregar Assange, que deve ser extraditado aos Estados Unidos para ser julgado, reflete essa mudança. Moreno e Correa romperam relações – o ex-presidente acusa o atual de ser “o maior traidor da história equatoriana”. Correa sustenta que a iniciativa de entregar Assange ocorreu para evitar que o WikiLeaks divulgasse documentos que provariam o envolvimento do presidente com corrupção.
A versão de Quito é outra. O ministro das Relações Exteriores José Valencia sinalizou que o Equador estava insatisfeito com o comportamento do hóspede ilustre. “Julian Assange beneficiou do asilo na nossa embaixada em Londres, mas teve uma série de atitudes inamistosas e fez insinuações contra o país que o protegia. Ele acusou o Equador de atender aos interesses de potências estrangeiras e disse que os nossos diplomatas eram espiões, acusações absolutamente grotescas e falsas”, argumentou Valencia.
Tentativa de desestabilização
De sua parte, Quito também acusa de espionagem o WikiLeaks, fundado pelo australiano. O governo suspeita que Assange utilizou a organização para tentar desestabilizar o presidente. “Temos elementos sólidos que nos fazem pensar que integrantes do WikiLeaks estão no Equador. Pelo menos um suspeito está no país há anos e dois hackers russos participaram a atividades de desestabilização do governo e espionagens das comunicações”, alegou a ministra do Interior do Equador, Maria Paula Romo.
A ministra informou que esse suspeito, que pode ter sido preso ao tentar deixar o Equador nesta quinta-feira, estava em contato “regular” com aliados do ex-presidente Correa. Valencia ainda argumentou que declarações políticas de Assange a favor da independência da Catalunha e sobre as eleições na Austrália dificultaram ainda mais a permanência dele na representação diplomática em Londres. Seus comentários violariam as convenções de Havana e Caracas sobre o asilo diplomático, sublinhou o ministro.
Violações de direitos humanos
A Defensoria Pública do Equador desaprovou a entrega de Assange, afirmando estar “profundamente preocupada” com o término do asilo ao fundador do WikiLeaks. Em uma nota, a entidade alega que a decisão “limitou os direitos da nacionalidade, o princípio da não-devolução e as garantias do devido processo previstos na Constituição” e nos instrumentos internacionais de direitos humanos.
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