Peru: descoberto maior sítio arqueológico do mundo de massacre infantil
No norte do Peru, perto da cidade de Trujillo e dos vestígios arqueológicos de Chan Chan, a maior cidade do mundo antigo em terra batida, o pequeno porto de Huanchaco era até então conhecido apenas por suas balsas de junco utilizadas por pescadores locais.
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Do correspondente da RFI na região Eric Samson
Depois das escavações arqueológicas feitas entre 2011 e 2016, cujos resultados foram divulgados na semana passada pela National Geographic, o porto de Huanchaco também vai ser conhecido como o maior sítio arqueológico do mundo de sacrifícios de crianças.
É em um bairro humilde de pescadores, sobre uma duna diante do oceano, que os arqueólogos descobriram os cadáveres de 140 crianças com idades de 5 a 14 anos, além dos restos de 200 filhotes de lhamas. As crianças foram enterradas com a cabeça virada para o mar e os animais, em direção da cordilheira dos Andes. Os testes de carbono 14 confirmaram que o sacrifício em massa aconteceu entre os anos 1400 e 1450, perto de Chan Chan, capital do império Chimu.
A cultura Chimu ocupava uma delgada faixa litorânea, que hoje é o sul do Equador e norte do Peru. A capital era Chan Chan, construída em adobe (tijolo feito de barro e palha), perto da atual Trujillo. Existem muitos testemunhos dessa cultura, como cerâmica, tecidos, metais trabalhados e roupas de rituais. O povo Chimu, adorador da lua, foi vencido pelo império inca, adeptos do sol, na metade do século 15.
Coração arrancado?
Todos os jovens sacrificados tinham a mesma ferida no esterno. Os rostos das crianças foram cobertos de uma substância avermelhada, uma mistura de enxofre e mercúrio. A caixa torácica foi rompida e aberta, provavelmente para extração do coração. Segundo o arqueólogo Gabriel Prieto, da Universidade Nacional de Trujillo, o sacrifício poderia ter sido destinado a acalmar uma divindade marítima em um episódio do fenômeno El Niño, que provoca chuvas e enxurradas catastróficas de lama, como a ocorrida em 2017, no Peru.
Outros locais de sacrifício de crianças foram estudados no México e nas partes altas das geleiras andinas, mas nunca se descobriu algo de tamanha amplitude.
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