Venezuela vive caos e aumento de violência com troca de cédula
A decisão do governo venezuelano de retirar de circulação a nota de 100 bolívares desencadeou uma nova onda de violência, protestos e saques em várias regiões do país. Moradores enfrentam filas gigantescas para entregar as velhas cédulas nos bancos. A revolta se ampliou com o atraso da chegada ao mercado de novas moedas e notas prometidas pelo governo.
Publicado em: Modificado em:
Diante do caos instalado no país e da revolta popular, o presidente Nicolas Maduro se viu obrigado a prorrogar até o dia 2 de janeiro a validade das notas de 100 bolívares, que equivale a US$ 0,15, segundo o câmbio oficial. "Vocês podem continuar a utilizar as notas de 100 bolívares para suas compras e atividades", declarou o presidente durante uma reunião de governo transmitida em rede nacional de televisão.
O governo, no entanto, pediu para que os venezuelanos continuem a entregar suas cédulas aos bancos até o dia 20 de dezembro. Anunciada no último domingo e prevista para durar três dias, a retirada de circulação da cédula pegou os venezuelanos de surpresa. A decisão foi motivada, segundo Maduro, para lutar contra "máfias internacionais".
De segunda à quinta-feira os venezuelanos enfrentaram filas quilométricas para poderem entregar as notas que perderam o valor e equivalem atualmente ao preço de uma bala. Muitos moradores relataram ter feito viagens longas do interior até a capital para poder trocar as cédulas. Na sexta-feira (16), apenas duas agências do Banco Central, em Caracas e Maracaibo, podiam efetuar a troca.
O problema é que muitos entregaram o dinheiro e voltaram de mãos vazias para casa porque as novas moedas e notas, com valor 200 vezes superior, não chegaram aos bancos na quinta-feira, como previsto pelas autoridades.
Alguns funcionários de bancos, que pediram anonimato, afirmaram que as novas notas deverão chegar até o próximo final de semana. Uma das medidas para conter a revolta da população foi a decisão do governo de decretar a gratuidade nos transportes públicos como metrô e ônibus até segunda-feira (19).
Prisões, saques e mortes
Manifestações violentas foram registradas em diversas cidades da Venezuela que enfrenta uma grave crise econômica agravada pela queda do preço do barril de petróleo. A inflação do país, segundo o FMI, é de 475% este ano e a população enfrenta uma falta estimada de 80% de produtos de primeira necessidade nos supermercados e farmácias.
Segundo a oposição, quatro pessoas morreram em protestos em Ciudad Bolívar, capital do estado de Bolivar, sul do país. O balanço não foi confirmado oficialmente. O governador, aliado do presidente venezuelano, informou que 135 pessoas foram detidas por terem promovido saques.
No estado de Apure, na região centro-oeste, três bancos foram incendiados. Segundo Maduro, por membros da oposição. O governo mobilizou 58 mil militares para garantir a segurança das agências bancárias. A fronteira com a Colômbia foi fechada por 72 horas para, de acordo com o governo, combater as "máfias" que procurariam introduzir grandes quantidades de bilhetes de 100 bolívares no país.
Estar "bancarizado"
A situação crítica em que se encontra o país deu origem a uma nova expressão: estar "bancarizado", que significa ter conta em banco e cartões de crédito. Mesmo para essa camada da população a situação não é fácil.
Em entrevista à RFI por meio de redes sociais, Carlos, que vive em uma cidade distante duas horas de Caracas, relatou a dificuldade em pagar as poucas compras que conseguiu fazer no supermercado diante da escassez de produtos. "O sistema de pagamento entrou em colapso e cada cliente teve que esperar 20 minutos para passar o cartão", explicou.
Enquanto Carlos estava em um supermercado, sua esposa fazia fila em outro que ainda recebia a nota de 100 bolívares, apesar da queda de 20% do valor.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro