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Haiti

ONU indenizará haitianos que pegaram cólera de capacetes azuis

Depois de admitir sua responsabilidade moral na epidemia de cólera registrada em 2010 no Haiti, levada ao país pelos capacetes azuis da Minustah, a ONU anunciou nesta semana a criação de um fundo de ajuda às vítimas. Mais de US$ 200 milhões serão destinados às pessoas infectadas e às famílias dos 9 mil mortos no surto da doença. Para especialistas na questão, o montante é insuficiente.

Haitiana com sintomas de cólera chega ao hospital de Port-a-Piment, no Haiti, no dia 9 de outubro de 2016.
Haitiana com sintomas de cólera chega ao hospital de Port-a-Piment, no Haiti, no dia 9 de outubro de 2016. ©REUTERS/Andres Martinez Casares
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Com informações das correspondentes da RFI em Porto Príncipe, Amélie Baron, e em Nova York, Marie Bourreau

No final de agosto, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, expressou sua tristeza ao admitir que a epidemia foi responsabilidade das Nações Unidas, mas sem pedir desculpas oficiais. Esse "primeiro passo", seis anos depois dos fatos, é criticado pelo especialista em direitos humanos, Philip Alston, relator especial das Nações Unidas sobre a pobreza extrema e os direitos humanos. Ele foi pessoalmente à Assembleia Geral da ONU defender que a organização reconhecesse seu erro.

Para ele, o surto de cólera - doença que chegou ao país através dos capacetes azuis - foi dissimulado através de uma operação digna dos maiores escândalos da história. "A situação é bem clara. Se o cólera chegou ao Haiti, a responsabilidade é da ONU. Mas não adotamos uma posição formal de culpa. É um escândalo do nível do Watergate, na minha opinião", analisa.

Sem esconder sua revolta, Alston pressiona Ban Ki-moon, que deve apresentar nas próximas semanas seu plano de erradicação do cólera no Haiti, embora esteja prestes a deixar o cargo. O mistério também paira sobre as desculpas oficiais que podem ou não ser expressadas pelo secretário-geral. Muitos duvidam que ele adote essa posição, abrindo o caminho para mais críticas contra as Nações Unidas sobre a questão.

US$ 200 milhões de indenização para as vítimas

A ONU prevê repassar US$ 200 milhões às vítimas e familiares dos mortos na epidemia. No entanto, o montante que os parentes reclamam é muito superior: US$ 40 bilhões. Além disso, a distribuição da indenização se mostra complicada antes mesmo de ser colocada em prática. As Nações Unidas não sabem o valor da quantia que devem repassar a quem perdeu um familiar.

Calcula-se que mais de 9 mil haitianos morreram de cólera em 2010 e 800 mil pessoas foram infectadas e sobreviveram à doença. Entretanto, apenas as pessoas que morreram em hospitais estão registradas no sistema. Os diferentes estabelecimentos e centros de tratamento nunca conseguiram reunir todos os dados em um único documento até hoje.

Em entrevista à RFI, David Nabarro, conselheiro especial da ONU encarregado das negociações com o governo haitiano sobre a questão, declarou que é preciso reunir todos os registros sobre as vítimas e verificar as informações - um trabalho extremamente complexo. "Por isso estamos conversando muito com organizações, como a Médicos sem Fronteiras, mas também com autoridades da área da saúde no Haiti", acrescenta.

Como se não bastasse, toda a problemática da indenização das vítimas acontece em um momento em que o país se recupera da passagem do furacão Matthew. Nas duas últimas semanas, 800 novos casos de cólera foram registrados no Haiti.

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